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Memória

UFRJ celebra uma década de Universidade das Quebradas

Projeto de extensão promove ambiente de troca cultural entre saberes e práticas da periferia e da Universidade

Participantes de debate durante seminário

Debate nos 10 anos da UQ Foto: Coordcom/UFRJ

A Universidade das Quebradas (UQ), projeto de extensão do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (Pacc), completou, em 2019, dez anos. A iniciativa é dedicada ao estudo e à pesquisa das relações entre cultura, desenvolvimento, imaginários urbanos e novas tecnologias, promovendo a integração entre os saberes da periferia e do mundo acadêmico.

Inaugurada em 2009 com uma turma-piloto, a UQ participou efetivamente na formação de diversos produtores culturais da periferia, por meio de aulas de filosofia, letras, artes arquitetura, cinema, teatro, dança e música. O projeto permite também a maior aproximação com alunos, técnicos e docentes, integrando a Universidade com sua comunidade externa.

Durante o seminário UQ10+10, que aconteceu no Museu de Arte do Rio (MAR), nos dias 6 e 7/12, foram apresentados os trabalhos de quebradeiros que participaram das edições anteriores: shows, instalações artísticas, exibições de filmes, performances e uma série de bate-papos entre os presentes.

Heloísa Buarque, professora emérita da UFRJ e uma das criadoras da UQ, afirmou que o projeto surgiu a partir da

Participantes de debate do Seminário

Participantes em debate da UQ Foto: Coordcom/UFRJ

mudança de entendimento do meio acadêmico com relação à periferia: de não mais ser objeto de estudo, mas centro de produção de intelectualidade. “Vimos que aquelas pessoas eram poliglotas: falavam a língua da mídia, da política, da periferia e, também, da Academia. Nós não precisávamos falar por eles.”

Segundo ela, os eventos que se seguiram dessa percepção mostraram que as periferias produziam um tipo de arte muito ligado à contemporânea e popular, extremamente vivo, com migração e fluxo constantes de culturas diferentes. Por isso a Universidade das Quebradas despontou como um local para trocar experiências e compreender melhor como os fluxos dos dois lados funcionam e podem trabalhar juntos. “O projeto lida com o pertencimento e foi uma forma de passar por esse portal da Universidade que parece instransponível”, ressaltou.

Leandro Santanna, ator e produtor de teatro, foi aluno da primeira turma da UQ e continua participando das atividades. Para ele, ainda existe muita dificuldade para as pessoas da periferia chegarem a núcleos de ensino e produção cultural, já que se encontram mais na Zona Sul do Rio de Janeiro. Porém, iniciativas como as Quebradas ajudam na formação do artista e na replicação desse conteúdo em seus locais de trabalho.

Já Renata Codagan, também aluna das primeiras turmas e arte-educadora, ressalta que o diferencial é a afetividade. “Eu abandonei a Universidade diversas vezes porque eu não senti afeto, mas aqui é totalmente diferente. A UQ me mostrou outro tipo de formação acadêmica, é um local de potencializar os nossos saberes e o que é nosso”, ressaltou, lembrando-se de uma frase de Numa Ciro, artista, psicanalista e uma das criadoras do projeto: “A Universidade das Quebradas é a reforma agrária do saber”.