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Negros o ano inteiro

De janeiro a dezembro de todos os anos, há inúmeras evidências de que a democracia racial não existe no Brasil. O sofrimento atinge a população negra de diversas maneiras. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são os que ganham menos, os que mais morrem e, historicamente, representam a minoria daqueles que frequentam o ensino superior. Além disso, são negros os adultos que mais estão desempregados e as crianças que mais sofrem com o trabalho infantil. Ainda assim, o último país a abolir a escravidão se dá ao “luxo” de só discutir consciência racial no mês de novembro, mais especificamente no dia 20.

A demanda da sociedade é tão grande neste período que uma das pessoas convidadas para escrever um artigo para o Conexão UFRJ deste mês teve de recusar o convite devido à agenda cheia. Novembro é assim, um mês em que ser negro é ser lembrado: os espaços culturais explodem com programações de shows, peças de teatro, lançamentos de filmes; revistas estampam suas capas com as pessoas negras mais influentes da atualidade e jornais fazem grandes reportagens a fim de mostrar as mudanças e os desafios para enfrentar o racismo.

São 30 dias intensos, enquanto nos outros 335 os dados do primeiro parágrafo são esquecidos e a vida segue uma suposta normalidade. No entanto, para quem é negro, todos os outros meses são iguais ou piores do que novembro. Ninguém deixa de sofrer racismo nem perde a sua negritude caso não se fale sobre isso. Quem é negro é negro o ano inteiro. E Zumbi dos Palmares não foi o único herói negro brasileiro.

Neste mês, como forma de fortalecer a representatividade, o Conexão UFRJ está com duas editoras negras trabalhando colaborativamente, e todas as reportagens e entrevistas foram feitas abordando a temática racial. Entendemos a necessidade de ocupar esses espaços e falar sobre o assunto, mas por que apenas em novembro? Por que a UFRJ, a maior Universidade do Brasil, não tem como uma de suas metas a busca pela conscientização da comunidade sobre o racismo?

Apenas em 2019 temos a primeira pró-reitora negra da instituição, que, em entrevista para o Conexão, fala sobre o racismo estrutural do qual as grandes instituições não estão imunes. Entre várias pautas, nesta edição, também abordamos a temática das mulheres negras na ciência, o grupo mais esquecido da Academia; apresentamos o conceito de necropolítica, cada vez mais popular entre pesquisadores; e contamos com participações de ilustradores negros da comunidade UFRJ, que ajudarão a mostrar outros olhares sobre a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Boa leitura!

Retratos das duas editoras em uma imagem com fundo escuro
As editoras deste número sob o olhar do fotógrafo Artur Moês, com a montagem de Andrea Rua (Coordcom/UFRJ)

Tassia Menezes é jornalista formada pela PUC-Rio, com especialização em Comunicação e Informação Educacional e Empresarial. Servidora pública há cinco anos, há dois trabalha na Comunicação da UFRJ. Além disso, Taslim, nome artístico utilizado por ela, atua nas artes como cantora, compositora e musicista, fazendo uso da música como plataforma de conscientização sobre questões raciais e de gênero.

Vanessa Almeida é jornalista formada pela PUC-Rio e por este mundão de meu Deus. Trabalhou por muitos anos com produção audiovisual e atualmente atua como jornalista na UFRJ. Mulher, negra, periférica e mãe do Akin, sempre que possível, tenta lutar contra o racismo e o patriarcado institucionalizado pelos europeus. Mas, às vezes, quer “ficar de boa” e aproveitar a vida também. Às vezes…