Na quarta-feira (18/9), o Museu Nacional (MN) foi homenageado em sessão solene na Câmara dos Deputados, em Brasília. Presidida pela primeira secretária da Câmara, deputada Soraya Santos (PL-RJ), a sessão durou uma hora e meia, e, entre os presentes, estavam a professora Denise Carvalho, reitora da UFRJ; o professor Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional; e a museóloga Thereza Baumann, curadora da exposição O Museu Nacional Vive! Memórias e Perspectivas, inaugurada na mesma ocasião.
Soraya, autora do projeto da sessão solene, leu o pronunciamento do presidente da casa, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ): “Infelizmente não será possível recuperar tudo o que foi perdido, mas, apesar de grande abatimento, o Museu Nacional vive, como propõe o título da exposição promovida pelo Centro Cultural da Câmara, em parceria com a própria instituição. É necessário, portanto, olhar para frente”.
A deputada Benedita da Silva (PT-RJ), presidente da Comissão de Educação, também falou: “O Museu Nacional, nesse momento do incêndio, fez com que todas as nossas emoções, toda a nossa história e identidade e toda nossa relação humanística pudessem estar concentradas no voo de uma águia. Certamente, nós todos estaremos juntas e juntos para fazer de novo do Museu Nacional aquele Museu que todos nós – e eu posso dizer, quase centenária – que visitávamos o Museu, que tínhamos ali na Quinta da Boa Vista, tínhamos que passar no Museu, era lindo naquela época, para minha infância. E é lindo também, hoje, quando nós estamos vendo as mãos unidas, todos nós e os servidores, funcionários, a paixão. Quando a bancada foi fazer a visita no Museu após aquele incêndio, que emoção que nos deu estar ali vendo o olhar de cada um deles, um olhar comprometido, pesaroso da perda, mas, ao mesmo tempo, confiante de que reergueremos nosso Museu Nacional!”. Também discursaram os deputados Rubens Bueno (Cidadania-PR), Carlos Henrique Gaguim (DEM-TO), Rosangela Gomes (Republicanos-RJ), Paulo Ganime (Novo-RJ), Clarissa Garotinho (Pros-RJ), Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Lucas Vergilio (Solidariedade-GO) e o ex-deputado e historiador Chico Alencar.
Durante a ocasião, foi exibido um trecho do documentário Resgates, lançado em 19/9 na WebTV UFRJ. A reitora fez um destaque: “O que nós vimos hoje, no filme, é um exemplo do poder da nossa Academia. Os servidores técnico-administrativos, os professores, os estudantes, todos unidos, com muita paixão pelo Museu, trabalhando na sua reconstrução”. Denise lembrou ainda que o curso de Arqueologia, ministrado no Museu Nacional, está entre os 100 melhores do mundo.
Em seguida, Kellner fez um desafio aos deputados: “Eu conclamo que vocês continuem apoiando a instituição Museu Nacional. Não foi um ano fácil. Vocês têm que imaginar o que é [para] pesquisadores, alunos e professores passar tempos de suas vidas olhando vigas pairando no ar, retorcidas com o calor intenso (…) e o que é pior: paredes enegrecidas pela fuligem decorrente da queima da memória de um país. Não precisava ser assim”, disse.
“O projeto de reconstrução do Museu Nacional não pertence a um grupo de pessoas, a uma corrente política, ou a um partido. É um projeto que tem que ser visto como iniciativa de Estado, da nossa nação. Se todos os deputados derem uma parcela de suas emendas para a reconstrução do Museu, eu tenho certeza que, em 2022, nós reabriremos a instituição, mesmo que parcialmente”, completou Kellner.
No Museu desde 1969, a curadora da exposição também teve oportunidade de fala: “Eu me sinto muito emocionada e, ao mesmo tempo, muito orgulhosa de ter podido ajudar um pouco o Museu. Acho que nossa exposição quer mostrar a história do Museu ligada à própria história do Brasil como nós todos sabemos desde Dom João VI. Eu acho que 200 anos do Museu estão representados aqui na parede da galeria, toda a história do Museu, nosso acervo e também a luta que está sendo travada agora depois do incêndio”, afirmou Thereza.
Sobre a exposição Museu Nacional Vive! Memórias e Perspectivas
Com curadoria da museóloga e historiadora Thereza Baumann, a mostra apresenta, em ordem cronológica, a história do Museu Nacional e de seus antecedentes, por meio de painéis compostos por imagens e textos que retratam desde a criação, em 1818, a casa da Família Imperial, em 1889, o período em que o Palácio foi sede do Congresso Nacional Constituinte, em 1892, a consolidação do Museu como também instituição de pesquisa, em 1900, até as fases após o incêndio de 2018, mostrando o trabalho minucioso de resgate dos pesquisadores e as perspectivas de restauração do prédio histórico.
A exibição ficará disponível até 18/10, no corredor da galeria de acesso ao Plenário do Congresso Nacional. “A importância da exposição é resgatar a memória, o poder de inclusão social e de resistência do Museu Nacional. O Museu Nacional vive!”, ressalta Thereza.
Entre os destaques, estão a mostra da réplica do crânio de Luzia — o fóssil humano mais antigo do Brasil, reproduzido por meio das cinzas do Museu, por uma impressora 3D — e a apresentação de um vídeo de três minutos, narrando o incêndio e seus desdobramentos. Mais de 150 painéis estão expostos no corredor de acesso ao Plenário. São exibidas ilustrações, como o retrato de D. João VI, e o decreto de criação do Museu Real.
Estão expostas as imagens das instalações, como o prédio da Biblioteca Central e o prédio do Departamento de Botânica, ambos com sede no Horto Botânico, prédio anexo ao Museu Nacional, assim como está à mostra parte do acervo dos departamentos de Geologia e Paleontologia, Invertebrados, Entomologia, Vertebrados e Antropologia. Por fim, há imagens do incêndio, do trabalho de reconstrução e de resgate dos pesquisadores e das exposições já realizadas após o incêndio.