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Memória

Silvio de Almeida fala sobre racismo estrutural na UFRJ

O professor ministrou palestra na sexta-feira (20/9), na Escola de Serviço Social


Foto: Pedro Barreto (SeCom/CFCH/UFRJ)

Na última sexta-feira, dia 20, o auditório da Escola de Serviço Social (ESS) da UFRJ recebeu o professor Silvio Luiz de Almeida, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo. O evento teve como mote o “racismo estrutural”, título do livro lançado pelo professor e que faz parte da coleção “Feminismos plurais”, coordenada pela filósofa Djamila Ribeiro. 

A maioria das pessoas presentes era negra. Como todas as cadeiras do auditório foram ocupadas cerca de trinta minutos antes do início da conferência, parte do público precisou sentar-se no chão, ou esgueirar-se por entre as frestas da porta de entrada. Ao ser anunciado o início da fala do palestrante, o nome de Silvio de Almeida foi demoradamente aplaudido.      “Este mundo que nós queremos transformar já não existe mais. E é possível que já não estejamos mais aqui antes que ele se torne aquilo que desejávamos”, sentenciou o professor logo em seus primeiros minutos de conferência. Silvio de Almeida enfatizou a necessidade do debate sobre o racismo e de seu caráter estrutural e constituinte da sociedade brasileira. “O racismo é uma construção intelectual muitíssimo sofisticada. Mas você não precisa entender de teoria racial para saber o que é o racismo”, analisou.

O professor mencionou o livro Coração das trevas, de Joseph Conrad, como uma obra necessária para a compreensão do racismo. “O momento em que o colonizador navega rio adentro do vilarejo é a representação do seu ingresso nas trevas. As trevas ali representadas são justamente o continente africano”, comentou. Segundo Almeida, é necessário ler os autores brancos para compreendê-los e, a partir daí, construir uma nova forma de pensamento. “O pensamento dos autores fundantes do pensamento filosófico ocidental é racista, pois ele considera apenas o homem branco como possuidor de conhecimento e de direitos, enquanto o homem negro não é. Mas é fundamental conhecê-los para fundar outras epistemologias”, afirmou.


Foto: Pedro Barreto (SeCom/CFCH/UFRJ)

Silvio de Almeida também falou sobre o atual momento do país.  “A matéria publicada hoje (20/9) pelo The Intercept mostra o projeto do governo para a Amazônia. Este foi o vazamento mais importante até agora, pois revela os intestinos desse grupo político”, comentou. “Para se implementar esse projeto liberal conservador em curso é necessário destruir as formas de sociabilidade que conhecemos hoje neste país”, completou. 

Apesar de os tempos não permitirem uma análise otimista, o professor procurou apontar saídas para a crise atual, principalmente para pessoas negras. “Vocês têm que cuidar da saúde mental. Precisamos resistir e sobreviver às formas de destruição que estão em curso. Vamos nos cuidar reciprocamente. Eu acredito no rigor, mas nunca na falta de afeto. Temos que nos tratar de maneira diferente daquela que está posta hoje”, concluiu Silvio de Almeida.