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A um ano do centenário da Universidade do Brasil, por Denise Carvalho

Em artigo, reitora da UFRJ, Denise Carvalho, comemora 99 anos de excelência no ensino superior

Bandeira da UFRJ

foto: Marco Fernandes (Panorama UFRJ)

A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também chamada de Universidade do Brasil, completa hoje 99 anos de existência e iniciamos as comemorações do nosso centenário com a certeza de termos contribuído, sobremaneira, para o avanço sociocultural, artístico, científico e tecnológico do Brasil. Cumprimos nossa missão social com maestria, assim como as demais instituições públicas brasileiras de ensino superior que têm sido fundamentais para o país. Chegaremos ao centenário da UFRJ com números que nos enchem de orgulho. Atualmente, ministramos 176 cursos de graduação em várias modalidades, formando, por ano, mais de 5 mil profissionais que atuam nas diferentes áreas do conhecimento e contribuem para a sociedade brasileira que tanto carece de profissionais qualificados. Nos níveis da pós-graduação, em torno de 3 mil mestres e doutores formam-se anualmente, além de cerca de 2.500 pessoas que concluem nossos cursos de especialização. 

Esses números traduzem uma trajetória vitoriosa que remonta ao século XVIII, com a criação da primeira Escola Politécnica do país. Assim, nossa história é marcada pela coexistência de unidades acadêmicas que são mais antigas do que a própria Universidade, como a Escola Politécnica, criada em 1792, a Faculdade de Medicina, em 1808, a Faculdade Nacional de Direito, em 1891, a Escola de Música, em 1848, e a Escola de Belas Artes, em 1816, entre outras. É importante salientar neste momento histórico que a Faculdade Nacional de Filosofia, fundada em 1939, originou inúmeras unidades acadêmicas da UFRJ: a Escola de Comunicação, a Faculdade de Educação, a Faculdade de Letras, o Instituto de Biologia, o Instituto de Física, o Instituto de Geociências, o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, o Instituto de Matemática, o Instituto de Psicologia e o Instituto de Química. Nesse ambiente diverso e intelectualmente rico, ocorreram o crescimento e o desenvolvimento da UFRJ, baseados na tradicional indissociabilidade entre as atividades de ensino, pesquisa e extensão, que caracteriza as universidades de excelência mundialmente reconhecidas.

A nossa missão institucional foi e continuará sendo a de formar cidadãos críticos e profissionais altamente qualificados.

Na UFRJ, como na Universidade de São Paulo (USP), nasceram, na década de 1960, os primeiros cursos de pós-graduação do país, que se consolidaram nas últimas décadas e irradiaram o conhecimento e a excelência acadêmica para regiões anteriormente menos desenvolvidas. Mais da metade dos programas de pós-graduação da UFRJ tem os níveis 6 e 7 − correspondem a cursos com alto grau de internacionalização e os melhores níveis de qualificação, conforme o sistema de avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Essas atividades de ensino, pesquisa e extensão são diuturnas e dependem do funcionamento adequado de laboratórios de pesquisa e didáticos, hospitais, salas de aula bem equipadas,  infraestrutura de tecnologia da informação e comunicação e muitas outras características de infraestrutura física e de pessoal que só podem existir com bons investimentos. 

Queremos e podemos ser mais, pois nossa história de sucesso se entrelaça de maneira inequívoca com o almejado desenvolvimento da nação. O fortalecimento das atividades de ciência, tecnologia e inovação existentes nas universidades públicas deve, portanto, ser um projeto de Estado para garantir às futuras gerações um país mais equânime.


foto: Raphael Pizzino (Panorama UFRJ)

A UFRJ permanece como a maior universidade federal brasileira, com o corpo social composto por cerca de 4.200 docentes, 9 mil técnicos-administrativos em educação e 70 mil estudantes de graduação e pós-graduação. A formação profissional na instituição é acompanhada de profundo aprendizado científico desde o início dos cursos; nossos estudantes envolvem-se em projetos de pesquisa e extensão que proporcionam importante intercâmbio entre a Universidade e a sociedade, com compromisso social.

Tal ecossistema foi se desenvolvendo de forma natural, propiciou a criação e o fortalecimento de cursos de graduação e pós-graduação em áreas na fronteira do conhecimento, como nanotecnologia, biotecnologia, biofármacos etc. Na década de 1990, com o avanço científico e tecnológico do país, decorrente de atividades de pesquisa um pouco mais abrangentes, pôde-se progredir também na interação das universidades com empresas de base tecnológica. Nessa época, surgiram o Parque Tecnológico da UFRJ, a Incubadora de Empresas e, mais recentemente, a Agência UFRJ de Inovação. Há hoje na instituição várias empresas juniores, startups, além de iniciativas do nosso corpo social que exemplificam a capacidade criativa e adaptativa da Universidade, mesmo com todos os entraves burocráticos existentes no Brasil. Em nosso Parque Tecnológico estão inúmeras empresas de médio e grande portes interagindo com nossos laboratórios, melhorando a infraestrutura de ensino e pesquisa, gerando inovação ainda que de forma incipiente.

A formação de professores para o ensino básico se dá nos cursos de licenciatura. A UFRJ, porém, também está envolvida com a formação continuada de professores, tendo participado da criação dos primeiros mestrados profissionais para qualificação de professores em diferentes áreas. Na UFRJ se atua em todos os níveis do ensino, da educação infantil aos ensinos fundamental, médio e superior, convivendo-se num ambiente rico e acolhedor que nos torna cidadãos engajados e preocupados com os problemas da sociedade brasileira.

Ajudamos a pavimentar o caminho até o Brasil da atualidade, que, embora com algumas características de nação moderna, parece cada vez mais ser impelido de volta ao passado. Nesse contexto, as universidades precisam continuar a impulsionar a sociedade na direção de um futuro que garanta justiça e inclusão social à nação, cuidado com o meio ambiente e inovação social e tecnológica disruptiva. Baseados nessas premissas, com visão vanguardista, poderemos alcançar a almejada soberania nacional, o que não acontecerá sem o adequado e necessário investimento no setor público.

Nossos desafios foram enormes. No entanto, ultrapassamos cada um deles com altivez e muita determinação. Não será diferente nos próximos 99 anos, ainda que tenhamos de ser bem mais eloquentes.

Parabéns à comunidade da UFRJ ontem, hoje e sempre!
 

 

Denise Carvalho
é a primeira mulher a ser reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro