Na última semana, a UFRJ sediou O Encontro Favela-Universidade: Caminhos, Encontros e Interseções. A atividade, que foi construída a partir do diálogo entre a Pró-Reitoria de Extensão (PR-5), a Cooperação Social, o Museu da Vida da Fiocruz e alguns coletivos sociais dos territórios de Manguinhos e da Maré, teve como objetivo ampliar o espaço para o conhecimento mútuo.
A abertura do evento, que também foi a aula inaugural da Pesquisa e Extensão, ficou por conta do professor aposentado da State University of New York (SUNY), Clyde Morgan. Nascido em Ohio, nos Estados Unidos, e especialista em dança africana, ele contou sobre suas experiências no Brasil e na África em um português fluente de quem já lecionou na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e reside em Salvador há anos. Com o tema O Corpo Negro como Protagonista nos Espaços de Formação, ele contou como conseguiu, ao longo de sua trajetória, reunir as danças dos negros norte-americanos, africanos e brasileiros.
A pesquisa sempre esteve presente no processo do bailarino, que, recém-formado na universidade, usou seu dinheiro para fazer uma viagem para diversos países da África, para dançar, conhecer as danças tribais e fazer um filme com registro desses momentos. Ele viajou para Senegal, Costa do Marfim, Libéria, Gana, Togo, Benim, Nigéria, Quênia, Uganda, Tanzânia, Zâmbia, Etiópia. Levou o filme para os Estados Unidos e, pouco depois, para o Brasil, onde pôde recriar com seus alunos da UFBA espetáculos baseados no filme.
Ele vê a universidade como um espaço de troca e aprendizado mútuo e também como o local onde conseguiu transmitir suas experiências. Foi nesse espaço acadêmico que criou o grupo de dança africana contemporânea Sankofa, na SUNY. O nome dado ao grupo remonta ao povo Akan, de Gana, cuja cultura surgiu como uma mostra da África renascida, após a independência de Gana, conforme explicou. A simbologia desse povo se chama adinkra e consiste em figuras que representam uma ideia completa envolvida com a cultura. Assim, sankofa é representado pela figura de um pássaro olhando para trás e, por isso, o nome foi escolhido para o grupo.
Clyde defende que é necessário procurar sempre no passado a fim de andar para frente, e escolher esse símbolo para seu grupo de dança africana foi a forma de atualizar a interpretação das danças africanas, afrobrasileiras, afrocubanas e de mistura com danças indígenas. “Lago dos Cisnes é uma espécie de Sankofa. Esta é nossa maneira de fazer uma pesquisa e a preservação da nossa cultura africana, principalmente para os mais jovens”, concluiu.