Denise Pires, professora do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), é a candidata à Reitora, para a próxima gestão, pela chapa 10: “A UFRJ vai ser diferente.” Ela tem como vice o professor Carlos Frederico Leão Rocha, do Instituto de Economia (IE).
Pires é graduada, mestre e doutora pela UFRJ. Fez pós-doutorado na Itália e na França. Durante sua trajetória como docente na Universidade, foi coordenadora acadêmica na Pró-Reitoria de Graduação (PR-1) e diretora do IBCCF, além de ter passado por outros cargos que marcam sua experiência administrativa e acadêmica.
No Centro de Ciências da Saúde (CCS), foi representante eleita das classes de professores assistentes e adjuntos no Conselho de Coordenação. Pires também concorreu à Reitoria no pleito de 2015.
Confira a seguir a primeira parte da entrevista que a candidata concedeu ao Portal da UFRJ:
Candidatura – Por que a senhora decidiu pela candidatura à reitora da UFRJ? O que foi preponderante para essa escolha?
A decisão de nos candidatarmos à Reitoria da UFRJ está pautada na perspectiva de liderarmos um amplo processo de resgate acadêmico-administrativo da UFRJ, imprescindível no atual contexto da instituição, que clama por mudança. Desde que ingressamos na UFRJ, Fred e eu sempre estivemos muito envolvidos com as questões acadêmicas e administrativas. Além dos cargos de Direção que ocupamos nas respectivas unidades, fomos representantes nos Conselhos Superiores, eleitos pelos nossos pares, o que demonstra confiança na nossa conduta como professores, pesquisadores e gestores. Temos compromisso com a educação pública, gratuita, de qualidade e com a defesa intransigente da Autonomia Universitária e o respeito às decisões colegiadas. Com o olhar para o futuro, pretendemos implantar novas metodologias na Administração Central da UFRJ, visando ao acolhimento de toda a comunidade de estudantes, técnicos e docentes, e à renovação e melhoria da gestão na UFRJ, que vai ser diferente.
Autonomia – Como a senhora enxerga as questões da autonomia universitária e da liberdade de cátedra, importantes na democracia? Como pretende estabelecer relações com o Governo Federal?
Destaca-se que o avanço acadêmico-administrativo das universidades públicas federais depende do exercício pleno da autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, conforme preconizado no art. 207 da Constituição Federal de 1988. A Universidade é autônoma e deve estar comprometida com as políticas de ensino, pesquisa e extensão voltadas para o desenvolvimento socioeconômico do nosso país. Sob esse aspecto, a liberdade de cátedra é um preceito fundamental para alcançarmos a autonomia didático-científica que é fundamental para o exercício da democracia no ambiente acadêmico. Atuaremos de maneira sistemática, junto ao Governo Federal, em defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade, visando ao aumento no financiamento público da educação, ciência e tecnologia.
Gestão e governança – Caso venha a ocupar o cargo de reitora da maior universidade federal do Brasil, quais serão os principais eixos do seu plano de gestão? Pelo que sua gestão será lembrada?
Inicialmente, os colegiados superiores, e principalmente o Consuni [Conselho Universitário], terão um papel central na discussão dos temas relevantes para a Universidade. Essa prática foi abandonada na última gestão e entendemos ser central a retomada. A UFRJ terá uma gestão colegiada. O Consuni voltará a ter uma pauta com assuntos estratégicos. O CEG [Conselho de Ensino de Graduação], o Cepg [Conselho de Ensino para Graduados] e um conselho superior de extensão, a ser criado, serão locais de reflexão sobre as atividades acadêmicas desenvolvidas na Universidade, dando a adequada transversalidade para as ações de ensino, pesquisa e extensão. Finalmente, nossa gestão será comprometida com o planejamento institucional em seus mais diferentes níveis, começando pelo redimensionamento orçamentário e sua adequação; reformulação das políticas de gestão de pessoas e de assistência estudantil; implantação de núcleos de apoio psicopedagógico ao corpo social; melhor política de acessibilidade e pelos investimentos a serem realizados em infraestrutura. A UFRJ vai ser diferente.
Extensão – O primeiro artigo do Estatuto da UFRJ estabelece a Universidade como instituição de ensino, pesquisa e extensão. Como articular esse tripé? E quais são os seus planos específicos para a extensão?
As atividades de extensão deverão ser apoiadas e fortalecidas na nossa gestão, baseadas no amplo debate institucional do Plano Nacional de Extensão (2014-2024) e da resolução no 7 do CNE/MEC [Conselho Nacional de Educação/Ministério da Educação] de dezembro de 2018. Ampliaremos a definição sobre as ações de extensão, para que estejam diretamente vinculadas ao objetivo de promover a transformação social, com a melhoria das condições de vida e trabalho da população, assim como a atualização de profissionais das diferentes áreas do saber. Propomos a criação imediata do Conselho de Atividades de Extensão, nos moldes dos atuais Conselho de Ensino de Graduação (CEG) e Conselho de Ensino para Graduados (Cepg), visando ao fortalecimento dos Conselhos Superiores e ao respeito às decisões colegiadas nesses órgãos deliberativos. Criaremos um fórum de ensino, pesquisa e extensão, com a presença dos coordenadores dos respectivos centros e dos campi de Macaé e Duque de Caxias, visando a melhor articulação das atividades do tripé acadêmico.
Pesquisa e pós-graduação – O Brasil atravessa um cenário de cortes nos investimentos em pesquisa, além de diminuição dos orçamentos das universidades. Nesse contexto, como se manter produzindo saberes?
A característica definidora da UFRJ, que a coloca em situação de destaque no Brasil, é tratar-se de uma universidade de pesquisa. Obviamente, atuamos com qualidade também nas atividades de ensino e extensão, mas seria muito mais difícil fazê-lo caso a nossa atuação na pesquisa não fosse de qualidade. As atividades de pesquisa se mesclam às atividades de ensino e extensão, e a infraestrutura precisa ser revitalizada na UFRJ nas diversas áreas, inclusive naquelas não atendidas pelas agências de fomento. Devido à crescente atuação da Faperj [Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro], houve a abertura de diversos editais em todas as áreas do conhecimento. Por outro lado, o CNPq investiu de forma incompatível com o crescimento dos grupos de pesquisa. Incentivaremos a elaboração de projetos transdisciplinares e a implantação de um sistema que monitore editais de financiamento nacionais e internacionais de ensino, pesquisa e intercâmbio científico de pesquisadores, a fim de aumentar o fomento à pesquisa na UFRJ.
Ensino – A edição 2018 do Ranking Universitário da Folha (RUF) posiciona a UFRJ em 2° lugar no quesito “valorização para o mercado de trabalho no Brasil”. Como manter e ampliar a qualidade dos cursos de graduação?
Nossos cursos de graduação tradicionais e os mais novos têm sido alvo de pequenas mudanças curriculares nas últimas décadas. Pretendemos incentivar a reformulação curricular, a maior integração das atividades de graduação, pós-graduação, pesquisa e extensão, além da implantação de novas metodologias de ensino. O fortalecimento das atividades de monitoria − e a sua inclusão nas grades curriculares − será a meta de curto prazo. A avaliação do processo de ensino-aprendizado deve ser modernizada, assim como os sistemas de gerenciamento acadêmico. A qualidade dos cursos depende do corpo docente altamente qualificado, de infraestrutura física adequada e da implantação de políticas de valorização da graduação. Pretendemos acompanhar os estudantes desde os primeiros semestres, visando à maior inserção na vida acadêmica, evitando a retenção e evasão dos cursos. O desenvolvimento de novas práticas de ensino deve ser incentivado por meio de editais internos específicos.
Políticas estudantis – A UFRJ aprovou recentemente uma nova política estudantil. Quais são suas propostas para a Assistência Estudantil, de forma a garantir a permanência dos estudantes na instituição?
Defendemos a democratização do acesso e temos firme compromisso com a permanência estudantil na UFRJ. Priorizaremos as ações voltadas à Assistência Estudantil para combater a evasão e a retenção. Recentemente, houve mudanças na política de concessão de bolsas em pleno período de férias. Consideramos que a reestruturação desses programas deve ter a efetiva participação dos estudantes. Priorizaremos o aumento das vagas nas residências estudantis e a reformulação das políticas de ocupação das vagas existentes. Pretendemos fortalecer os programas de monitoria e tutoria, criar mais salas de estudo abertas nos diferentes campi no período noturno e discutir a possibilidade de transferência entre cursos da UFRJ, sem burocracia. Implantaremos, ainda, núcleos de apoio psicopedagógico ao estudante nos diferentes centros e unidades isoladas. Fortaleceremos a atuação das COAAs [Comissão de Orientação e Acompanhamento Acadêmico] e suas interlocuções com os estudantes. Nossa meta é dar todo o apoio e garantir que o estudante conclua o curso.
Segurança – Qual é a sua proposta para que a comunidade universitária possa se sentir mais segura nos diversos campi? Como deve ser a relação com as autoridades responsáveis pela segurança pública?
O tema segurança é amplo e envolve mais do que vigilância, reunindo assuntos como iluminação, fluxo de pessoas e ocupação territorial. E esses temas estarão presentes no nosso planejamento. Retomaremos o projeto de construção de portais na UFRJ que poderão identificar os transeuntes que entram em área federal da Universidade. A Divisão de Segurança da instituição será fortalecida e protagonizará as ações voltadas à melhoria da segurança nos campi, pois passará a ser uma Superintendência ligada diretamente ao Gabinete do Reitor. A segurança é um tema complexo que está relacionado com vários fatores, e o problema da segurança pública extrapola os muros da UFRJ. Todavia, temos que implantar ações que garantam segurança para transitar pelos espaços universitários pertencentes à Universidade nos diferentes campi. Algumas das ações concretas serão: construção de portais com guaritas e câmeras de monitoramento nos acessos de entrada e saída dos campi, assim como perto dos pontos de ônibus.
Internacionalização – A UFRJ é a terceira melhor universidade da América Latina, conforme recentes rankings universitários. Como tornar a instituição ainda mais prestigiada internacionalmente?
A Divisão de Relações Internacionais (DRI) deverá ter a sua localização no organograma da Universidade revisto. Incentivaremos a criação de coordenações de internacionalização em todas as unidades acadêmicas, assim como fóruns de internacionalização semestrais. As atividades de internacionalização serão incentivadas, com o intuito principal de internalizar a ciência internacional. Promoveremos a associação interna de Programas de Pós-Graduação de excelência (níveis 6 e 7) com programas níveis 3, 4 e 5, por meio da criação do “Programa Casadinho” da UFRJ. Essa iniciativa pretende aumentar a interação dos programas 3, 4 e 5 com aqueles de elevado grau de internacionalização. As demais ações referem-se a editais internos que visam à organização de eventos internacionais organizados pela Universidade, como “Escolas de verão” e “Escolas de Altos Estudos”, com a participação de convidados internacionais nas diferentes áreas. Pretendemos um aumento no número de teses desenvolvidas em cotutela e dupla diplomação.
Veja as entrevistas com os outros candidatos: