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Memória

A imperatriz do carnaval

Rosa Magalhães, ex-aluna da UFRJ e detentora de sete títulos na Sapucaí, abre o projeto Intelecta e fala sobre sua trajetória profissional


Imagem: Diogo Vasconcellos e Ana Montez/ Coordcom – UFRJ

A campanha do Dia Internacional da Mulher 2019 da UFRJ se baseia no poder de criação e produção das mulheres que, com suas ideias e seus intelectos, ajudam a construir uma universidade única e ainda mais plural. Todas as sextas-feiras do mês de março, o projeto Intelecta trará personalidades de diversas áreas da instituição que se destacam e inovam no país.

A parede coberta por desenhos de fantasias que desfilarão na Sapucaí em 2019 e o forte cheiro de tinta não deixam dúvidas de que se está em um barracão de escola de samba. No caso, no barracão da Portela, tradicional escola azul e branca da qual Rosa Magalhães é a atual carnavalesca. Autora desses desenhos, essa mulher de 72 anos irá comandar seu 36º carnaval em busca de mais um título.

Rosa entrou na Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ por um empurrão do destino. Ainda menor de idade, as aulas de desenho tomavam parte do seu tempo, e o professor, impressionado com o talento da aluna, recomendou que tentasse ingressar no curso de Pintura. “Deu uma confusão danada porque eu ainda estava no colégio, não tinha carteira de identidade. Para tirar o diploma foi um sufoco”, brinca.

Foi nos corredores da EBA que Rosa se apaixonou pelo carnaval. Ainda estudante, foi convidada para desenhar figurinos de uma escola de samba: “Eu não passava o carnaval no Rio, não sabia de nada. Foi assim, por acaso”.

E esse “acaso” foi muito generoso com a figurinista, artista plástica e professora. Detentora de sete títulos no Grupo Especial das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, cinco deles na Imperatriz Leopoldinense, é a carnavalesca mais vitoriosa, depois de Joãosinho Trinta, falecido em 2011. Mesmo com um currículo invejável, tendo passado pelas maiores escolas do estado e atualmente coordenando os trabalhos da Portela – agremiação com o maior número de títulos do carnaval carioca –, Rosa observa sua trajetória com muita humildade. “Acho que é uma série de fatores que nos leva a ganhar. A gente não ganha sozinho, não é? Porque tem um monte de pessoas trabalhando aqui. Eu acho que eu dei mais sorte que os outros.”

Outra figura feminina forte e pioneira marcou sua carreira nas artes. Após a formatura, Rosa começou a dar aulas na EBA e decidiu estudar também Figurino com Marie Louise Nery, professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e primeira mulher a desenhar para escolas de samba na cidade. Segundo ela, seus dois cursos universitários ajudaram na ampliação da visão artística e no maior entendimento de que a arte não se resume apenas a um campo: “Algumas pessoas acham que deveria existir um curso só para o carnaval, mas eu acho isso uma doideira. Precisa ter uma visão mais abrangente porque uma hora você está no carnaval; outra, no teatro ou no cinema”, opina.

Rosa também foi a responsável pela cerimônia de comemoração dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, realizada na Bahia; pela abertura dos Jogos Panamericanos de 2007 e pelo encerramento das Olimpíadas de 2016, ambos no Rio de Janeiro. 

“Geralmente é mais difícil ser mulher nesse meio”

Mesmo sendo a maior campeã de carnavais viva, Rosa afirma que vê, sim, machismo no meio e que já passou algumas vezes por esse problema. Lembra-se especificamente de uma cena que marcou sua carreira: durante um concurso para a decoração da cidade do Rio, fez uma ligação elétrica e foi proibida de concluí-la, ligando o fio. “O responsável disse que me viu fazendo a ligação e não me deixaria conectar. Eu tive que chamar um homem apenas para colocar o fio na tomada”, conta.

Para quem acompanha o carnaval pela televisão ou mesmo das arquibancadas do Sambódromo, as mulheres parecem dominar a avenida, tanto em posições de destaque, como as rainhas de bateria e as porta-bandeiras, que levam o estandarte com o símbolo da escola, quanto em alas, como a das baianas, as grandes matriarcas das comunidades. Porém, ainda são poucas as mulheres que lideram as agremiações, sendo Rosa, atualmente, a única carnavalesca no Grupo Especial a dirigir uma escola de samba sozinha. “Nós vemos muitos homens na parte de carpintaria. As mulheres ficam mais na parte de adereço e fantasia”, acrescenta.

A carnavalesca da Portela se entristece ao ver os rumos que o carnaval tem tomado diante das crises financeiras e de representação. “Este ano está muito difícil com esse prefeito, uma grande confusão. Estamos sofrendo mais do que no ano passado.” Rosa e a escola de Madureira homenagearão, neste carnaval, uma figura feminina representativa do país, um desfile sobre a presença marcante de uma mulher do candomblé e da comunidade em suas raízes. O enredo com o qual Rosa trabalha em 2019 fala da cantora portelense Clara Nunes, o que promete uma apresentação que referencia o poder da mulher que constrói o samba e a vida.   

Veja o vídeo com a carnavalesca Rosa Magalhães na WebTv da UFRJ

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