O dia de luta pela dignidade e emancipação das mulheres, o Dia Internacional das Mulheres de 2019, ficará na história de lutas das brasileiras. A Mangueira celebrou Dandara, Luíza Mahin, Maria Felipa, Leci Brandão e Marielle Franco.
A pujança do trabalho das professoras e cientistas é irrefreável. Nos últimos anos, muitas se destacaram pela inventividade, liderança e ousadia intelectual. A premiação de Donna Strickland com o Nobel de Física, após um longo período de 55 anos, assumiu um caráter simbólico importante e necessário. Na UFRJ, professoras foram agraciadas com as principais honrarias, como a Ordem Nacional do Mérito Científico, e têm ampliado a participação como membros da Academia Brasileira de Ciências. As plenárias de decanos e diretores confirmam a liderança das mulheres docentes. E a presença de servidoras técnico-administrativas e de uma extraordinária geração de mulheres estudantes – não casualmente a bancada estudantil que representa o Diretório Central dos Estudantes (DCE) é constituída por mulheres – torna a UFRJ uma instituição em que as mulheres são definidoras de seu porvir.
No campo da ciência, persistem estruturas profundas que desvalorizam as mulheres em sua trajetória como cientistas. Conforme a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), apenas 28% de cientistas são mulheres. E apenas 5% dos prêmios Nobel foram concedidos a mulheres. O fortalecimento da interação da universidade com a educação básica, a exemplo do Complexo de Formação de Professores, é uma estratégia central para encorajar e criar condições para que mais e mais meninas se apaixonem pela ciência e perseverem na construção de uma carreira científica.
Em todo o mundo, as manifestações e atos do Dia 8 de Março reivindicaram a história e as causas de Marielle Franco. Sua imagem circula pelo mundo, incentivando o pujante e polissêmico movimento feminista planetário. Movimentos diversos têm enfrentado o machismo e o patriarcalismo no mundo do trabalho, como expresso na reforma trabalhista e nos projetos de reforma da previdência. #Nãoénão. “Outro Mundo Possível: Feminista.” “Nenhuma a Menos.” #MeToo. As motivações pulsam e se expressam na forma de lutas, festas, cultura e arte.
Entretanto, a Lei Maria da Penha é contestada pelo poder do atraso. Os arcaicos reagem. O Brasil segue sendo um dos países com o maior índice de feminicídio e, também, se destaca pela feminização da pobreza. Estereótipos são reiterados como se fossem política de governo, ao estilo “meninas vestem rosa”, ignorando que também vestem muitas outras cores. Assim como os meninos.
A universidade é o espaço do pensamento livre, crítico e rigoroso. É uma das principais instituições que podem seguir fundamentando que a discriminação contra as mulheres não tem base científica, e expressam, sim, relações sociais históricas e passíveis de mudança. Por isso, o poder do atraso seguirá se insurgindo contra a educação laica e referenciada na ciência. A resistência do trabalho crítico das universidades é crucial para a democracia no Brasil. A UFRJ se orgulha de compor essa maravilhosa constelação em que cintilam instituições educacionais, de cultura e de ciência. E de estar, sempre, ao lado das causas justas que afirmam a dignidade humana.
Rio de Janeiro, 8 de março de 2019
Roberto Leher e Denise Nascimento