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Conheça os professores da UFRJ premiados por contribuições à ciência

Quatro mestres receberam honraria da Ordem Nacional do Mérito Científico, maior condecoração na área científica e tecnológica do país

Amilcar Tanuri, Debora Foguel, Alexander Kellner e Vivaldo Moura

Tanuri, Foguel, Kellner e Moura Neto

A Ordem Nacional do Mérito Científico premiou quatro professores da UFRJ neste ano. Amilcar Tanuri, do Instituto de Biologia, foi admitido como comendador. E foram promovidos à classe Grã-Cruz Alexander Kellner, do Museu Nacional; Débora Foguel, do Instituto de Bioquímica Médica; e Vivaldo Moura Neto, do Instituto de Ciências Biológicas.

A entrega das insígnias e do diploma ocorreu em 17/11, no Palácio do Planalto, em Brasília. A honraria, há 25 anos, reconhece personalidades que se destacaram por contribuições significativas ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia no país.

Conheça os professores da UFRJ condecorados na Ordem em 2018:

 

 

Alexander Kellner – Museu Nacional

1) Há quanto tempo está na UFRJ?

Desde agosto de 1997.

2) Quais são os seus três trabalhos de maior destaque?

Um dos trabalhos que considero de maior destaque foi realizado quando eu era estudante de doutorado, na competição de aves e de pterossauros.

Do ponto de vista científico foram os seguintes: a descoberta de um Thalassodromeus sethi, publicada na Sciences, na qual tivemos uma ideia a respeito de sua fisiologia e de seu modo de caçar; o encontro de músculos e vasos sanguíneos de um dinossauro de dez milhões de anos, publicado na Nature; e um trabalho publicado na Sciences com colegas chineses sobre a descoberta de embriões de pterossauros em uma região com mais de 200 ovos.

3) Qual é a sua pesquisa atual?

Nesse momento tenho me dedicado totalmente ao Museu Nacional, por isso não estou fazendo novas pesquisas. Mas espero ano que vem voltar a fazer.

4) Que mensagem gostaria de deixar para a próxima geração de estudantes e pesquisadores?

Faça seu trabalho da melhor forma possível e não se furte quando for chamado para assumir instituições de destaque, como o Museu Nacional, por exemplo.

 

Amilcar Tanuri – Instituto de Biologia

1) Há quanto tempo está na UFRJ?

Entrei na UFRJ na Graduação de Medicina em 1977 e passei no concurso público de professor adjunto em 1990. Considero que estou na UFRJ há 41 anos já!

2) Quais são os seus três trabalhos de maior destaque?

Já publiquei mais de 170 artigos científicos, porém considero os mais importantes os que versaram nas seguintes áreas :

a) Resistência do HIV aos antirretrovirais publicados em 2001, mostrando que os pacientes brasileiros respondiam bem ao coquetel anti-HIV igual aos pacientes do 1º mundo. Este fato estimulou o Banco Mundial a financiar o tratamento antirretroviral na África;

b) Descoberta de novos compostos que ativam o HIV da latência, que podem ser utilizados na terapia de cura da AIDS. Esta é uma área muito atual ainda e de grande relevância científica;

c) Durante a epidemia de Zika, mostramos que o vírus estava presente no líquido amniótico dos fetos afetados pela síndrome da Zika congênita. Num outro trabalho, mostramos que os bebês natimortos nascidos de mães que foram infectadas pelo vírus da Zika na gravidez tinham a presença do vírus ativo no tecido cerebral.

3) Qual sua pesquisa atual?

Hoje venho me dedicando a estudar os mecanismos de resistência do HIV às drogas antirretrovirais; os mecanismos patogênicos do vírus da Zika no sistema nervoso central humano; a tentativa do uso do vírus da Zika para tratamento de tumores cerebrais humanos, como o glioblastoma; e as moléculas imunestimulatorias isoladas do látex de plantas Euphorciaceas.

4) Que mensagem gostaria de deixar para a próxima geração de estudantes e pesquisadores?

O que posso deixar para as próximas gerações é que nunca desistam de seus sonhos por dificuldades impostas pelas condições adversas. Tentem fixar seu campo de interesse e se aprofundem e acreditem no método científico e no poder da discussão crítica de seus resultados com seus colegas de pesquisa. Outro recado importante: leiam muito! Tentem desenhar seus experimentos usando o melhor do estado da arte na ciência!

 

Debora Foguel – Instituto de Bioquímica Médica

1) Há quanto tempo está na UFRJ?

Há 23 anos, desde 1995.

2) Quais são os seus três trabalhos de maior destaque?

Meu laboratório estuda os mecanismos que levam à agregação das proteínas, um fenômeno que ocorre em algumas patologias como Alzheimer, Parkinson e Polineuropatia Amiloidótica Familiar (PAF).

Eu diria que um dos meus estudos mais importantes foi ter mostrado que existe uma conformação da TTR com que nos identificamos que dá origem a esses agregados. Conhecer essa conformação abre perspectivas de entendermos o processo de agregação, bem como desenhar um composto que previna sua agregação e que seja usado na PAF.

Outro estudo que julgo seminal foi termos mostrado que os neutrófilos e, por conseguinte, os processos inflamatórios contribuem para o agravamento dessas doenças causadas pela agregação de proteínas.

Cito também os estudos com o fator neurotrófico dopamina cerebral (CDNF), que tem sido pensado na terapia contra o Parkinson, já que protege os neurônios dopaminérgicos de certos insultos. Nosso grupo resolveu, pela primeira vez, a estrutura molecular desse fator por RMN no Cenabio. Essa estrutura é muito importante para entendermos como age esse fator na doença de Parkinson, do ponto de vista molecular.

3) Qual é a sua pesquisa atual?

Atualmente, estamos dando prosseguimento aos estudos que mencionei anteriormente. Continuamos a entender o papel dos neutrófilos nas doenças amiloidogências, agora incluindo também as patologias associadas ao vírus da Zika. Também estamos estudando biofilmes bacterianos que têm proteínas agregadas dentro e isso dificulta que certos antibióticos ataquem as bactérias que “moram” dentro desses biofilmes. Estamos testando compostos que desfaçam esses biofilmes com possível aplicação na clínica.

4) Que mensagem gostaria de deixar para a próxima geração de estudantes e pesquisadores?

Nós, professores pesquisadores, amamos a ciência e a universidade. E somos como a orquestra do Titanic, que, enquanto o barco afundava, não deixou de tocar belas músicas. Façamos o mesmo! Continuemos a tocar, apesar das adversidades. Avancemos!

 

Vivaldo Moura Neto – Instituto de Ciências Biológicas

1) Há quanto tempo está na UFRJ?

Há 33 anos, desde 1985.

2) Quais são os seus três trabalhos de maior destaque?

Considero mais relevantes os seguintes estudos: Mecanismos celulares e moleculares da malignidade do glioblastoma: implicações na resistência e estratégias terapêuticas, Propriedades interativas de células de glioblastoma humano com neurônios do cérebro em cultura e modulação neuronal da laminina glial-oganização-fi 4.6, e Neurônios induzem promotor GFAP de astrócitos cultivados de ratos transgênicos.

3) Qual é a sua pesquisa atual?

Trabalho para entender a biologia do câncer de células gliais – os gliomas – e, dentre eles, o mais grave de todos, o glioblastoma.

4) Que mensagem gostaria de deixar para a próxima geração de estudantes e pesquisadores?

Que, na ciência, como na vida, é preciso ter uma perspectiva histórica, respeitar o contraditório e ser feliz. Isso implica liberdade de pensamento e uma tranquilidade para a criação. A perspectiva histórica é o compromisso com a sociedade