O dia das professoras e dos professores de 2018 acontece em um contexto social em tudo oposto ao que praticamos como docentes. Historicamente, nas escolas da educação básica e nas universidades, docentes estão desafiados a explicar os nexos “natureza e sociedade” para tornar pensáveis os segredos e interconexões da natureza e das sociedades. Professoras e professores difundem o esclarecimento crítico, propiciando o direito inalienável de todos os humanos de se apropriar, criativamente, do conhecimento historicamente produzido para compreender e explicar as coisas da natureza e as relações sociais que conformam as sociedades.
No Brasil de hoje, professoras e professores, imbuídos de ética pública, estão desafiados a reencantar o valor da cultura e da ciência junto às crianças e aos jovens para que não sucumbam à barbárie perigosamente naturalizada pela alta esfera do Estado. A violência que se espraia em 2018 está sendo incentivada para instaurar um regime de hiperexploração do trabalho, de profunda perda de direitos, operacionalizada pela EC 95/2016, e da difusão do medo, objetivando o silenciamento das vozes que se insurgem contra a barbárie.
No lugar do desenvolvimento do uso autônomo e crítico da razão, o ambiente é de uso do ódio na política. Ódio para ocultar o irracionalismo dos que o praticam e daqueles que o defendem como modus operandi da política; ódio, portanto, aos que pensam, estudam e tentam enfrentar os problemas com aportes da ciência, da tecnologia, da arte e da cultura; ódio aos que possuem origem nos povos d’África, concebidos como indolentes e outras adjetivações que causam horror; ódio aos que defendem a laicidade do Estado e dos assuntos públicos; ódio aos que corajosamente forjam identidades e pretendem superar os machismos das relações patriarcais; ódio aos que defendem que a liberdade somente existe com igualdade social.
Por isso, a celebração de 2018 é ainda mais especial e importante. É um gesto de confiança na vida civilizada, democrática, polifônica e libertária. É uma data que comemora, também, 30 anos da Constituição Cidadã e, com ela, a liberdade de cátedra, expressa na liberdade de pensamento e de ensino e aprendizagem e na pluralidade de perspectivas científicas e epistemológicas. Preceitos que requerem autonomia universitária, o dever do Estado na garantia do direito de todos os cidadãos à educação pública, gratuita, laica e socialmente referenciada, comprometida com os problemas dos povos, tal como expresso na referida Carta.
É com essa responsabilidade e a inquebrantável esperança de que o povo brasileiro não se conformará com a barbárie que celebramos este 15 de outubro especial. No fazer das professoras e dos professores está o melhor dos valores humanos que abrem as brechas para um futuro com bem-viver para todos os povos!
Rio, 15 de outubro de 2018.
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