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Pró-Reitoria de Pessoal debate sofrimento psíquico no trabalho

Pesquisadores criticam a entrada da lógica produtivista e do assédio na Universidade


Foto – Diogo Vasconcellos/Coordcom

A Pró-Reitoria de Pessoal (PR-4) realizou, no dia 28/6, debate sobre Adoecimento Mental e Relações de Trabalho. O objetivo foi incentivar a reflexão junto a docentes e técnicos-administrativos sobre como a atual lógica que permeia o mundo do trabalho pode afetar as pessoas.

O superintendente de pessoal, Pedro Sá, abriu o evento falando sobre como as condições políticas também contribuem para a situação do adoecimento da população. “Vivemos um tempo nada saudável. Em um governo que ascende ao poder de maneira pouco legítima e coloca a público uma agenda de ausência de esperança que leva ao sofrimento”, afirmou Pedro.  O superintendente prosseguiu: “Não podemos naturalizar o que estamos passando”.

As pesquisadoras Alzira Guarany, Simone Silva e Tatiana Magalhães apresentaram estudos sobre como o sofrimento psíquico atinge os trabalhadores no ambiente universitário.

Segundo Guarany, o cenário na Universidade é semelhante ao de todos os trabalhadores no Brasil. O adoecimento mental está entre as principais causas de afastamento. “O mundo do trabalho, hoje, é marcado pela solidão, pela competitividade e pelo esvaziamento do coletivo. Precisamos construir saídas coletivas deste cenário na UFRJ”, alertou a pesquisadora.

Tatiana Magalhães, assistente social do Progep da UFF, apresentou sua tese de mestrado em Saúde Pública, na qual considera o processo de trabalho como determinante na relação saúde-doença. “O trabalho nunca é neutro diante de nossa saúde mental; ou ele vai produzir saúde, ou ele vai potencializar sofrimento e causar sofrimento”, afirmou.

Simone Silva, do Núcleo de Bioética e Ética Aplicada (Nubea) da UFRJ, falou sobre as  diversas violências encontradas no mundo do trabalho e como se ligam às relações hierárquicas. A servidora técnica e pesquisadora da UFRJ explicou os riscos de classificar o assédio como monstruosidade. “Ao usar o termo ’monstro’, você caracteriza um assediador, quando, na verdade, ele pode ser qualquer um de nós. É preciso reconhecer o assédio, puni-lo e corrigi-lo. Saber de onde surge para poder mudar a situação”, explicou Silva. “Não é algo que tenha uma resolução imediata. É uma atividade cotidiana, um processo constante”, afirmou a pesquisadora.

Ao final do evento, o pró-reitor de pessoal, Agnaldo Fernandes, confirmou que a PR-4 acolhe e apura todas as denúncias feitas por qualquer pessoa da UFRJ. Segundo Fernandes, essa deve ser uma luta de todos, a ser adotada como uma política institucional da Universidade. O pró-reitor lembrou, ainda, que a Coordenação de Política de Saúde do Trabalhador (CPST/PR-4) mantém um polo de assistência à saúde mental do servidor no Instituto de Psiquiatria (Ipub), no campus da Praia Vermelha.