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UFRJ concede título de doutor honoris causa ao cineasta Ruy Guerra

Expoente do Cinema Novo disse que agora deseja “contar histórias” com a Universidade

A UFRJ concedeu ao cineasta Ruy Guerra o título de Doutor Honoris Causa por suas contribuições à arte no Brasil e no mundo. A sessão solene do Conselho Universitário (Consuni) para a concessão do título aconteceu na noite de quinta-feira, 28/6, no Salão Pedro Calmon, no campus da Praia Vermelha.

Os conselheiros aprovaram a outorga do título em sessão de abril deste ano, por unanimidade. De acordo com o parecer da Universidade, Ruy Guerra exercita funções “nos mais diversos campos da arte com desenvoltura ímpar, permitindo aos seus admiradores apreciá-lo em suas roupagens de ator, professor, compositor, dramaturgo, jornalista e em sua função maior de cineasta”.

“Espero ter a vida acadêmica que nunca tive”, disse Guerra após receber o título. “As universidades são lugares de saber. Preservam, completam e avançam nas áreas de conhecimento e são sempre benéficas às interações de quem pratica e quem ensina, conserva e desenvolve [o conhecimento]”, completou. No discurso de diplomação, ele afirmou que, a partir de agora, espera “contar histórias” com a Universidade.

“Os filmes que ele produziu projetaram nossa cultura no mundo. Reivindicamos que ele esteja conosco, com nossos estudantes. É uma pessoa que nos ajuda a vislumbrar o porvir”, disse o reitor da UFRJ, Roberto Leher.

Carlos Vainer, coordenador do Fórum de Ciência e Cultura (FCC) da UFRJ, unidade que propôs a diplomação ao cineasta, afirmou que, na verdade, era a Universidade que estava sendo homenageada ao integrar Ruy Guerra à instituição. Denise Nascimento, vice-reitora, também destacou que a homenagem era muito importante para a UFRJ.

O fotógrafo e também cineasta Walter Carvalho compôs a mesa de diplomação e citou trechos da música Fado Tropical, de Chico Buarque, para homenagear o artista.

Biografia

Ruy Guerra nasceu no dia 22/8/1931 em Moçambique, então colônia africana portuguesa, às margens do Oceano Índico. Desde jovem, foi um apaixonado pela palavra e pela imagem. Escreveu poesias, contos, críticas cinematográficas para a imprensa da capital Lourenço Marques. Assíduo frequentador das matinês de cinema, filmou um documentário sobre o cotidiano dos trabalhadores das docas desse porto importante da África Austral.

Aos 20 anos foi para Paris, onde se formou cineasta. Desembarcou no Rio de Janeiro em julho de 1958 e fez do Brasil seu país de adoção. Seus dois primeiros filmes – Os Cafajestes (1962) e Os Fuzis (1964, Urso de Prata de Berlim) – logo o tornaram conhecido no cenário cinematográfico brasileiro e mundial. Foi o primeiro cineasta do grupo do Cinema Novo a filmar fora do Brasil (França, em 1968).

No Rio de Janeiro dos anos 1960/70, foi parceiro letrista de músicos jovens que se projetavam, entre eles Edu Lobo, Francis Hime, Milton Nascimento e Chico Buarque. Com o último escreveu e realizou o musical Calabar: O Elogio da Traição, proibido pela censura da ditadura militar em 1973. Ainda de Chico filmou o musical A Ópera do Malandro, em 1985, e em 2000 o livro Estorvo. Foi o realizador que mais levou à tela trabalhos de Gabriel García Márquez, de quem ficou amigo desde 1972.

Andou meio mundo atrás de sua paixão por filmar e, em meados de 1990, voltou a se fixar no Rio de Janeiro, onde nasceram e vivem seus três filhos e três netos.

Para a concessão do título, a UFRJ também destacou em sua carreira a formação de novos quadros para o cinema, por meio de inúmeras oficinas e cursos ministrados no país, bem como a importância de suas palestras e conferências em universidades europeias e estadunidenses.

foto: Jean Souza – CoordCOM/UFRJ