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Dossiê: A saúde mental na UFRJ – Parte II: Pós-graduação

Se, na graduação, as dificuldades de permanência do corpo discente são responsáveis por grande parte dos casos de adoecimento, na pós-graduação, as políticas impostas pelas agências de fomento dos programas estimulam uma busca desenfreada pela excelência. A pressão pela entrega de relatórios e trabalhos dentro dos prazos estabelecidos, e cobrados rigidamente pelas coordenações, provoca ou agrava quadros de ansiedade e depressão.

Casos como o de Jason Altom, estudante de pós-graduação de Harvard que se suicidou em 1998, e o do doutorando de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), que tirou a própria vida em 2017, não são isolados. O diretor de uma unidade da UFRJ revela que, no final de 2016, um estudante de um programa de excelência tentou o suicídio. “Felizmente foi uma tentativa malsucedida. Nesse caso, o orientador conseguiu dar apoio para esse aluno se recompor e concluir o curso”, diz. “Me preocupa a questão dos alunos que vêm de outros estados e que, muitas vezes, não encontram o suporte emocional necessário para suportar a pressão pelas exigências inerentes a todos os programas de pós-graduação”, completa o dirigente.

Na pesquisa “Níveis de estresse e características sociobiográficas de alunos de pós-graduação” (MALAGRIS et al.), publicada em 2009 na Psicologia em Revista, constatou-se que 58,6% dos pós-graduandos apresentavam sintomas de estresse (clique aqui para acessar a pesquisa). Os entrevistados foram estudantes da UFRJ, e os maiores índices foram verificados em pesquisadores do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (82,4%), seguidos do Centro de Tecnologia (61%), Fórum de Ciência e Cultura (60%), Centro de Letras e Artes e Centro de Filosofia e Ciências Humanas (55%) e do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (50%).

A pesquisa propõe que “é importante desenvolver estudos que identifiquem os estressores específicos”. Quase dez anos depois, em um momento de crise política e econômica, somado à mudança do perfil dos estudantes de pós-graduação da universidade e ao aumento das exigências impostas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), é natural supor que esses números tenham crescido. Outra pesquisa realizada por autores belgas (LEVECQUE et al., 2017) e publicada em 2017 na Revista Research Policy, constatou que um terço dos 3,7 mil estudantes de doutorado apresentava alto risco de desenvolver patologias como a depressão.

Estudante de um programa de pós-graduação da UFRJ, Cláudia* aponta o fato de estar em uma cidade com alto custo de vida como fator agravante para o quadro de sofrimento. “Por mais contraditório que possa parecer, a tão esperada excelência é obtida através de pesquisas realizadas por estudantes vindos de outros estados, que trazem outras perspectivas e olhares”, analisa. Cláudia se queixa da precariedade de estruturas básicas em seu programa, que vão desde a ausência de biblioteca, sala de estudos, e até mesmo banheiro e bebedouro, além da falta de transparência na distribuição de bolsas. “É cobrada uma produção acadêmica que eles não nos dão condições de obter. Por exemplo, eu só consegui uma vez o reembolso para uma viagem a congresso. Por esse motivo, não tive como deixar o meu trabalho na iniciativa privada, o que não foi bem visto pelo meu orientador”, relata.

Em 2015, a estudante conquistou uma vaga para estudar durante um ano no exterior. Contudo, o órgão de financiamento, ao qual a bolsa estava vinculada, deixou de realizar os pagamentos após alguns meses. “Éramos vários colegas do mesmo programa em diferentes universidades do mundo. Após três meses de atraso no pagamento das bolsas, a situação chegou a um nível desesperador. Afinal de contas, estávamos em países estrangeiros, sem família e amigos por perto, e o dinheiro começou a acabar. A representação discente foi bastante solidária e esteve em constante comunicação com os estudantes, mas sentimos falta de maior apoio do programa”, relembra.

Cláudia teve que continuar o trabalho que se comprometeu a fazer no exterior diante de condições adversas, da falta de recursos e da falta de apoio institucional e do orientador – contexto que se refletiu na sua saúde mental. A depressão, que já havia sido diagnosticada no passado, foi mais uma questão que pesou na finalização de sua pesquisa. “Tive a sorte de ter tido, ao longo do processo, um co-orientador que me acolheu e me deu todo o suporte necessário. Mais de uma vez pensei em abandonar tudo e voltar, como fez uma das minhas colegas. Se não fosse pelo meu co-orientador e algumas pessoas queridas que me ajudaram em momentos muito difíceis, eu teria desistido e talvez não tivesse concluído o curso”, relata.

Assédio moral

A relação com o orientador ficou ainda mais complicada após o retorno ao Brasil. A estudante, que havia inclusive recebido um prêmio pelo trabalho que estava desenvolvendo no doutorado, informou ao orientador que estava doente e que isso, aliado ao fato de ter de trabalhar para pagar as contas, não conseguiria apresentar o trabalho dentro do prazo estabelecido para defesa. Foi quando aconteceu o que ela classifica como “uma das conversas mais surreais” de sua vida, configurando um caso de assédio moral: “Ele me disse que estava desequilibrada e que deveria largar meu trabalho e pedir uma mesada para minha família, a fim de ter mais tempo para terminar o doutorado, mesmo sabendo que eu não tinha bolsa ou outra fonte de renda”, conta. Mesmo que a extensão de prazo fosse um direito legítimo – existindo a possibilidade de trancamento da matrícula por até doze meses, conforme o regimento da UFRJ prevê – custou muito para que ela conseguisse mais tempo para terminar a tese de maneira apropriada.

Imagem em preto e branco de uma mulher com as mãos na cabeça e sem o rosto.
Foto: Pixabay

Neste período, recebia mensagens do orientador de madrugada e nos finais de semana, lembrando que tinha que escrever. “Fui parar no hospital duas vezes com crises de gastrite”. Ao fim, conseguiu escrever a tese “num esforço sobre-humano que até hoje eu não sei como aconteceu, mas que precisava ser feito para sair daquela relação que me fazia tão mal”, recorda. Após a obtenção do título, a estudante ainda se ressente da falta de apoio e reconhecimento. “Todo esse processo foi muito doloroso. Escrever uma tese já é um processo muito solitário, que piora com uma cobrança desproporcional e a falta de atenção ao material enviado. Tive pensamentos sombrios. Ficava me perguntando ‘por que isso vale a pena?’. Me sentia incompetente, sem condições de cumprir aquilo que me era exigido”.

Passada a banca final, a estudante questiona relações de poder entre orientadores e orientandos, em um contexto de precarização do ensino superior e da pesquisa: “Essa relação entre orientador e orientando pode se tornar bastante abusiva. Através do assédio moral, por exemplo, ou da questão da autoria dos trabalhos desenvolvidos, com casos de apropriação indevida da pesquisa dos orientandos. Tudo isso, inserido em um contexto de precarização da universidade pública, torna muito difícil fazer pós-graduação nos dias de hoje. A universidade é elitista e segregadora. Muitos dos professores que estão lá vêm de famílias abastadas ou estudaram em um tempo em que a realidade socioeconômica era diferente. Dessa maneira, quem consegue chegar até o final de maneira saudável? Eu ainda tive o privilégio de ter um emprego na iniciativa privada que me permitiu concluir meus estudos, mas e quem não tem?”, indaga.

Perguntada se ela observa um sofrimento maior por parte das mulheres, a estudante revela uma dor ainda mais antiga. “Eu sofri assédio sexual na graduação em outra universidade. E conheço outras pessoas que passaram pela mesma situação com o mesmo professor. Ele me dizia que se eu o denunciasse, ele iria me prejudicar academicamente. Ele silenciava as mulheres que assediava através de ameaças de arruinar a carreira delas, reprová-las, ou dizendo que não ia dar em nada. Por isso é muito difícil ser mulher na academia. Eu fico me perguntando se eu fosse homem, se teria sido diferente”, relata. Cláudia incentiva outras pessoas que que passaram por situações de assédio a denunciarem, se possível. “Naquela época não havia a mobilização e o debate que existem hoje. É importante denunciar, mas temos que entender que nem sempre é possível. Precisamos criar mecanismos para erradicar essas práticas nocivas, do apoio emocional à uma estrutura de acolhimento institucional e devidas sanções para quem comete essas práticas. A universidade e a comunidade acadêmica tem um papel essencial nesse processo, que impacta diretamente a saúde mental dos estudantes”, analisa.

Corte da bolsa em caso de adoecimento

Carlos Marcos*, também estudante de pós-graduação, já apresentava um diagnóstico depressivo anterior. Ele relata que, faltando cerca de seis meses para o término do prazo final de defesa, quatro eventos aconteceram simultaneamente: o fim de sua licença e o retorno ao seu local de trabalho; a consequente volta à sua cidade natal; a gravidez da companheira; e um processo de depressão. “Então eu apresentei um recurso solicitando a prorrogação, com atestados de dois psicólogos fundamentando clinicamente o pedido”, relata. “Em resposta, recebi um e-mail do coordenador, afirmando que se não defendesse dentro do prazo eu seria desligado do programa. Apresentei ainda um novo recurso e, depois de alguns minutos, tive a resposta de que havia sido negado. Insisti, solicitando que o pedido fosse analisado pelos demais membros do Conselho do Programa. A resposta foi que eles haviam sido consultados, o que considero improvável, haja vista o tempo curto para isso”, relembra.

O estudante diz que contou com o apoio do orientador, que o aconselhou a pensar na filha e na esposa. “Só pensava em acabar logo com tudo aquilo. Nos dois meses finais, passei por um sofrimento muito intenso”, relata. Para Carlos, a lógica produtivista e a busca acrítica de determinados programas em busca de notas de excelência conferidas pelas agências financiadoras levam a um processo generalizado de adoecimento. “Conheço poucas pessoas da minha turma que não passaram por nenhum tipo de adoecimento. Isso só vai deixar de acontecer no dia em que houver uma mobilização muito maior do que há hoje, ou se algum desses coordenadores for exposto publicamente diante de seus pares”, diz.

Em sua opinião, falta uma política de acolhimento a casos de adoecimento na pós-graduação. “Devido ao meu histórico de processos depressivos e já imaginando o que poderia ocorrer futuramente, consultei a coordenação anterior do programa quanto à possibilidade de trancamento em caso de tratamento psiquiátrico. A resposta que obtive foi que há um prazo de até três meses, mas haveria a imediata suspensão da bolsa. Ora, isso não faz nenhum sentido, já que, quando a pessoa mais precisa, tem o seu auxílio cortado. Nessas condições, é muito possível que ninguém peça licença médica, a não ser em casos excepcionais, porque a falta de auxílio financeiro certamente pioraria o sofrimento psíquico”, avalia Carlos, levando em conta a própria experiência.

Trabalhador?

Rita Louzada, psicóloga, professora do Instituto de Psiquiatria (Ipub) da UFRJ, conselheira do Conselho Regional de Psicologia (CRP) e integrante do Programa Organização do Trabalho e Saúde Mental (Protsam), critica o tratamento de “trabalhador” que é conferido ao pós-graduando na universidade. “O estudante está inserido em uma lógica acelerada, trabalhando, muitas vezes pesadamente, junto ao seu orientador, mas ele não tem o salário, os benefícios que tem o professor. É muito importante distinguir isso. A lógica é incorporá-lo como um trabalhador. É fato que a ciência brasileira avançou enormemente com a ajuda dos pós-graduandos, mas nós não tivemos postos de trabalho abertos em número suficiente. Então, é disso que a gente tem que falar. O pós-graduando não é um trabalhador. Ele é um estudante que está sendo usado como trabalhador e que quer um posto de trabalho depois para se inserir”, afirma.

A psicóloga alerta também para a importância de dar voz às reivindicações do corpo discente da pós-graduação. “Justamente pelo fato de o estudante ser uma peça muito importante na pesquisa científica, ele precisa ser ouvido. As práticas de assédio moral, que levam ou agravam o processo de adoecimento mental, não podem ser naturalizadas. Não importam as cobranças pela obtenção de notas conferidas pelas agências de fomento. Isso deve ser feito tanto em nome da qualidade de vida das pessoas, como da qualidade do trabalho acadêmico. Ambos esses aspectos estão ligados”, diz Rita, ressaltando a importância do debate sobre a pós-graduação no contexto de uma discussão maior sobre a própria universidade pública no Brasil de hoje. “É ali que se encontra o núcleo da produção do conhecimento no Brasil e onde se formam os pesquisadores brasileiros”, aponta a psicóloga.

Prazos que adoecem

A principal causa de ansiedade nos estudantes é a exigência do cumprimento de prazos para a conclusão de dissertações e teses. As coordenações dos programas diferem entre si quanto ao nível de cobrança para que as defesas aconteçam no tempo devido. A resolução 01/99 do Conselho de Ensino para Graduados (Cepg) – órgão deliberativo da Pós-Graduação da UFRJ – determina o prazo máximo de matrícula de cinco e três anos, respectivamente, para cursos de doutorado e mestrado, de acordo com o seu artigo 19º (clique aqui para ler a resolução). Já o parágrafo 2º do artigo 20º do mesmo regimento estabelece que o trancamento de matrículas não pode ser superior a 12 meses, consecutivos ou não. Avaliado com o conceito 7 – nota máxima no ranking de avaliação, conferida a programas de padrão internacional – pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura (PPGCom) da UFRJ define, em seu Manual do Aluno, os prazos de 48 e 24 meses para a duração das matrículas, respectivamente, nos cursos de doutorado e mestrado (clique aqui para ter acesso ao Manual do Aluno do PPGCOM/UFRJ).

Como o cumprimento desse prazo é um dos critérios de avaliação do padrão de excelência dos programas, e por sua vez para a garantia de recursos a serem destinados a eles, o coordenador do PPGCom, Micael Herschmann, explica que procura combinar os direitos assegurados pela Resolução 01/99 com as exigências do órgão de fomento. “O regimento da UFRJ vale para todos os programas da universidade. O programa 3 tem uma realidade que não é a mesma do programa 7. E aí os prazos são muito mais rigorosos. Nós temos que ter (a avaliação) ‘muito bom’ em todos aqueles itens (exigidos pela Capes). Aqui o regimento é contemplado. Só que ele tem que ser cruzado com as regras da Capes. O Manual do Aluno tenta traduzir aquilo que a Capes solicita e o que a gente vai solicitar dos estudantes”, explica Herschmann.

O cálculo utilizado para a avaliação do programa é a média dos meses em que as matrículas estão ativas. Desse modo, se um estudante demorar 52 meses para concluir a sua pesquisa, o outro deverá levar 44 para que a média do programa seja de 48 e a nota nesse quesito não seja rebaixada. “Alguns casos de adoecimento mental poderiam ser resolvidos com mais colaboração, com mais diálogo. Esses casos, que deveriam ser situações de exceção, acontecem porque, muitas vezes, o aluno pode defender antes e não defende. Nós poderíamos ter defesas acontecendo em dezembro, e elas não acontecem. O aluno que defende antes do prazo de 48 meses ajuda aquele que, de fato, precisa de mais tempo para concluir o seu trabalho sem prejudicar o programa”, argumenta Herschmann. Em sua opinião, o trancamento de matrícula não contribui nem para o estudante, nem para o programa. “Muitas vezes, aquilo que o sujeito pensa que vai resolver com tratamento não resolve. Ele só adia um problema e prejudica todo o coletivo. Porque mesmo esse tempo em que ele está afastado é computado no cálculo da Capes. O programa tem que arcar com esse tempo”, diz o coordenador.

Imagem de Micael Herschmann, Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura.
Micael Herschmann, Coordenador do PPGCom. Foto: Revista Zoom

Para Herschmann, há um processo de adoecimento não apenas entre os estudantes, mas também entre os professores. Segundo ele, a coordenação do programa está atenta a essa questão, mas conta com um trabalho coletivo para saná-la. “Há uma preocupação com a questão da saúde mental. Nós queremos dar apoio aos alunos. Queremos expandir o prazo de defesa do doutorado. Nós compreendemos que os momentos da qualificação e da defesa final são críticos. Mas nós precisamos mudar uma cultura interna que se instalou aqui, que é a cultura do atraso. Isso não é só uma crítica aos alunos, mas aos professores também”, afirma. De acordo com o coordenador, a unidade não está aplicando na prática o que ela ensina em sala de aula. “Infelizmente, aqui na Escola está faltando mais comunicação. Muitas vezes, a coordenação só é acionada no último momento para dar a má notícia (que, em último caso, pode ser o desligamento do estudante). Alunos, orientadores e coordenadores precisam conversar mais. Se isso acontecer, nós podemos encontrar alternativas. O que tem acontecido é que, quando a situação chega à coordenação, já não há mais o que fazer: o estudante já estourou todos os prazos e possibilidades. E aí fica difícil. Por isso precisamos trabalhar mais colaborativamente através do diálogo. O que a gente percebe é que há um momento de ruptura, de tensão, de ressentimento. Nós temos que mudar isso culturalmente aqui dentro”, completa.

Pós-graduandos se organizam

Maiara Marinho, ao lado de Luiz Fernando Wlian, é representante discente do programa coordenado por Herschmann. Os estudantes do programa, em parceria com a Associação de Pós-Graduandos (APG), têm participado de debates sobre a questão da saúde mental na pós-graduação. Para Maiara, contudo, as iniciativas ainda são insuficientes para que gerem resultados efetivos. “O debate sobre saúde mental, pelo que tenho percebido, é pouco realizado não só no Programa de Pós-Graduação em Comunicação, como na sociedade brasileira de maneira geral. Temos feito tentativas, como representação discente, de retomar algumas discussões que a representação anterior já fazia e também de pensar ações que correspondam às necessidades apresentadas por discentes do programa. É muito difícil falar sobre isso, pois há receio de externalizar as questões presentes no programa e isso se refletir em situações que adoeçam muito mais os discentes. É preciso fortalecer os laços e, a partir daí, pensar e ter ações coletivas. Estamos caminhando para isso”, comenta.

A estudante concorda com o diagnóstico da dificuldade de diálogo interno apontado por Herschmann, mas revela uma causa possível desse problema. “Me parece que o problema começa na estrutura da Academia. A produtividade, como ação que vai gerar um lugar de reconhecimento, cria uma relação de sobrecarga tanto para discentes quanto para docentes. Essa falta de comunicação é fruto de uma série de demandas que ficamos preocupadíssimos em cumprir. Falta comunicação, sim, mas porque existe uma lógica de ‘produtivismo’ que tem se agravado com a atual conjuntura econômica que deixa todas e todos aflitos e ansiosos. Precisamos ir à raiz do problema”, completa a representante discente.

Em outubro de 2017, Maiara foi uma das participantes de uma roda de conversa, organizada pela Associação de Pós-Graduandos (APG) da UFRJ, que reuniu estudantes e psicólogas da universidade, com o objetivo de esclarecer dúvidas e apresentar alternativas para pessoas em situação de adoecimento e representantes discentes. Victor Galdino, dirigente da entidade, diz que a intenção da APG é realizar outras atividades semelhantes para buscar mais contribuições. “A saúde mental era um tema recorrente em outras atividades da APG e nas nossas interações com discentes em geral, mas ainda não havíamos feito algo destinado exclusivamente para falar sobre esse assunto. Trata-se de um tema que recorrentemente se entrelaça com o do assédio, algo que temos discutido de forma bem mais ampla durante os últimos anos”, comenta.

Para Galdino, a UFRJ ainda não se dedica a discutir o tema como ele, de fato, merece. Na opinião do dirigente da APG, as representações discentes encontram dificuldades em pautar a questão da saúde mental nos colegiados da universidade. E quando isso acontece, muitas vezes, o tema é tratado de forma individualizada e circunstancial, como casos isolados, e não como um problema estrutural. “Uma das funções cruciais das representações discentes nessas instâncias é justamente levar à esfera institucional os mais variados problemas que dizem respeito ao cotidiano discente. Nós buscamos levar aos conselhos preocupações sobre os efeitos nocivos do ‘produtivismo’. Mas essa é uma briga sem previsão de acabar. Talvez ela só alcance um novo patamar quando as instâncias deliberativas confrontarem as agências de fomento e outras instituições. Mas não parece haver qualquer disposição nesse sentido, por motivos perfeitamente imagináveis, já que estamos falando do financiamento geral da pesquisa universitária”, completa Galdino.

Questionando os critérios avaliativos

Se o Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura (PPGCom) obteve um aumento em sua nota na última avaliação quadrienal da Capes, a Escola de Serviço Social (ESS) sofreu um rebaixamento nesse mesmo ranking. Antes avaliada com conceito 6, na nova classificação apareceu com nota 4. Para Andréa Teixeira, diretora da unidade, a queda não é reflexo do desempenho acadêmico de pesquisadores e professores do programa. “Nós temos um programa com 40 professores e 40 anos de existência. Normalmente os programas têm de 8 a 12 professores. Nós temos condições de ter 98% do nosso quadro docente na pós-graduação. É o maior programa público da área, com 30 vagas para mestrado e 20 para doutorado. Então, nós temos uma suposição de que não foi por causa dos nossos problemas que fomos rebaixados, mas porque nós temos uma posição de repúdio a essa política, não só da boca para fora”, afirma a diretora. Para Andréa, a reflexão crítica é essencial para a pesquisa na área das Humanidades. “O que se pretende é um pouco aquele slogan: ‘Não pense, trabalhe’. No caso, aqui é: ‘Não pense, produza’. Isso é mortal para a universidade. A pesquisa científica em Ciências Humanas não é pingar reagente sobre uma matéria em cima de uma bancada. Fazer ciência sobre uma matéria em permanente mutação não deveria ser considerado não ciência, mas como uma das ciências mais difíceis que existem, exatamente porque você não pode imobilizá-la”, comenta a diretora.

Falando menos em números e mais sobre os conceitos pós-graduação e pesquisa científica, Andréa questiona os critérios avaliativos, responsáveis pela destinação de recursos aos programas. “Nós (o Programa de Pós-Graduação em Serviço Social) tentamos ser um ponto fora da linha, porque a política de pós-graduação no Brasil é assim, não é de hoje, e é comum para todos os programas. O preocupante é que isso abre espaço para ações muito pouco éticas do ponto de vista acadêmico. Por exemplo, a quantidade de produções ‘remasterizadas’, digamos assim. Então, desse ponto de vista, o ‘produtivismo’ faz com que as pessoas sejam impelidas a terem ações muito pouco éticas em relação à própria produção. Não interessa a qualidade do que você produz: você tem que produzir e publicar. Não há uma avaliação de qualidade, é uma avaliação quantitativa. E ser um ponto fora da linha traz custos para a gente”, afirma. Andréa não enxerga uma solução fácil para o dilema entre manter a tradição do programa e aderir às exigências dos órgãos de fomento. “Como você sobrevive hoje na universidade sem bolsa e sem recurso? É impossível. A gente não quer aderir ao produtivismo, mas como a gente vai fazer para sobreviver? É muito difícil. Não tem saída fácil para isso, a não ser modificar a política. Isso pode ser a morte da reflexão, do pensamento, da possibilidade de maturar pesquisas e reflexões”, analisa a diretora.

Quanto às causas do adoecimento mental, Andréa enxerga a questão com uma perspectiva estrutural. “A discussão sobre saúde mental sozinha não vai resolver as questões do mundo do trabalho, ou da falta dele; de todos os direitos que estão sendo retirados dos trabalhadores e a insegurança que isso gera para o conjunto da população economicamente ativa do país”, analisa. Como possibilidade de construção de alternativas ao problema, a diretora da ESS-UFRJ propõe um diálogo maior no seio da universidade. “O que falta na UFRJ não é estrutura. O que falta é a estruturação das políticas. E isso acontece porque hoje temos uma universidade que se discute pouco, porque a universidade hoje está muito preocupada com o seu individual, e não com o coletivo. Qual é a saída para isso? Eu acho que é a gente se discutir mais”, conclui Andréa Teixeira.

Como alcançar a excelência exigida sem financiamento suficiente?

O professor Vantuil Pereira é diretor do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos (Nepp-DH). A unidade mantém o Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos (PPGDH), cujo curso de mestrado foi criado em 2015, avaliado com a nota 3 pela Capes, justamente por se tratar de uma experiência recente. Por ser uma unidade que reflete sobre os Direitos Humanos, o Nepp-DH se propõe a participar do debate da saúde mental, ainda que este não seja um tema de pesquisa de seu corpo docente. “Nós não temos professores e pesquisadores especializados em saúde mental. O papel do Nepp-DH é fomentar o debate, já que é um tema que diz respeito a todos nós. Devemos chamar a Reitoria e demais órgãos da universidade a pensar essa questão. É inaceitável a universidade ficar assistindo a esse quadro de adoecimento”, afirma.

Quanto à procura excessiva pela excelência na pós-graduação e consequente ocorrência de casos de ansiedade, depressão e outros sintomas de adoecimento mental, o diretor do Nepp-DH não identifica essa questão na unidade. “Essa busca desenfreada pelo ‘produtivismo’ ainda não está colocada aqui. Nós já tivemos um debate no âmbito do Programa de Pós-Graduação sobre isso. E uma das razões que nos levou a não iniciar de imediato o curso de doutorado foi não adotar essa lógica produtivista. Mas essa é uma posição pessoal, nem sempre compartilhada por todos os colegas. O que existe de consenso hoje no Nepp-DH é que é preciso ter muito cuidado com essas premissas de excelência”, diz.

Imagem de Vantuil Pereira, diretor do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos da UFRJ.
Vantuil Pereira, diretor do Nepp-DH. Foto: Arquivo Conexão UFRJ

Pereira questiona a própria ideia de “excelência”, que, para ele, não considera a realidade em que cada universidade e cada programa estão inseridos. “Me parece que os parâmetros colocados atualmente são quase que inatingíveis, ou que poucos atingirão. Isso já gera uma lógica de exclusão. Outra coisa é que, muitas vezes, essa excelência se constrói a partir de critérios externos ao próprio processo. É preciso discutir esses padrões e procurar saber se eles cabem na nossa realidade”, afirma. “Em primeiro lugar, quem produz esses rankings e define essas regras? Segundo, como o governo, que define os padrões de excelência, estabelece essa relação entre a excelência e o financiamento em uma universidade que tem cortes absurdos em seu orçamento? É uma pergunta a ser feita: você está definindo esses padrões, mas quais são os meios que os programas têm para alcançar essa excelência? Se os recursos não são disponibilizados, então não dá para discutir excelência na base do esforço quase que ‘pessoal’ – se é que eu posso falar em ‘pessoal’ em referência aos programas de pós-graduação. Mas é preciso ir mais fundo. Não é uma questão de aceitar esse padrão. É preciso questioná-lo: de onde veio, quem fez, qual o interesse e qual direção ele está seguindo?”, questiona o diretor do Nepp-DH/UFRJ.

A comunidade LGBT e a saúde mental

Pedro Paulo Bicalho é professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da UFRJ e atual diretor-secretário do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Bicalho concorda com a perspectiva de que o adoecimento mental na universidade deve ser percebido como uma questão que afeta a todos, e não apenas um ou outro indivíduo. “O que a gente precisa fazer é sair da ideia de que a saúde mental é algo individual. Se alguém adoece, ou possui algum agravo psíquico, é porque isso diz respeito a um corpo que não está suficientemente forte. Então, trazer para o campo coletivo é da mais profunda urgência”, comenta.

Autor do recurso contra a liminar que autoriza profissionais de Psicologia a atuarem em terapias relativas à sexualidade, a popularmente chamada “cura gay”, Bicalho observa que, devido ao alto índice de homicídios e demais casos de violência motivados por homofobia, a comunidade LGBT tende a apresentar sintomas de adoecimento em grande número. “A cada ano nós temos o recorde de assassinatos motivados por homofobia no Brasil. Somente no ano passado foram 343, e este ano provavelmente o número será maior. O aparente progresso que nós vivemos, com uma série de conquistas de direitos, tem sofrido um retrocesso imenso e de uma forma muito rápida. Em especial na universidade, quando nós falamos em estudos de gênero”, analisa. “As pessoas LGBTs têm sentido mais medo da conjuntura, porque elas passaram a ser vistas como alvos. Não é por acaso que a discussão sobre a ‘cura gay’ está retornando. Não é por acaso que o ‘escola sem partido’ tem provocado uma discussão sobre as questões de gênero. Não é por acaso que nós temos enfrentado um retrocesso bastante visível. A comunidade LGBT tem sentido mais medo da conjuntura porque percebe de forma muito clara que é ela que mais morre, que mais sofre retiradas de direitos, que mais tem dificuldade de entrada no mercado de trabalho”, completa.

Para Bicalho, a democratização do acesso à universidade nos últimos anos é um fator positivo, mas que precisa ser acompanhado de mudanças por parte do corpo docente e de políticas de assistência. “A universidade tem experimentado – e que bom que seja assim – a entrada de pessoas que vêm da periferia, de negros, de condições socioeconômicas bastante baixas, de escolas públicas. Isso tem feito um bem imenso à universidade. Conviver com a diferença de uma forma mais gritante é fantástico. Agora, isso precisa também impor outra forma de acolher esses alunos, pois eles precisam de mais bolsas, de um melhor alojamento, de alimentação, precisam que nós, professores, produzamos uma didática que contemple esses alunos. Os nossos currículos precisam ser outros”, afirma o professor do PPGP-UFRJ.

Imagem de Pedro Paulo Bicalho, professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRJ.
Pedro Paulo Bicalho, professor do PPGP. Foto: CFP

Quanto à lógica “produtivista”, Bicalho pondera que não se pode perder de vista que a pós-graduação é lugar de produção, mas que é preciso encontrar um meio-termo. “Não podemos entender que o ‘produtivismo’ precisa ser a meta. A meta é a pesquisa, a produção do conhecimento. E a produção do conhecimento vai produzir efeitos: a divulgação desse mesmo conhecimento. O que a gente não pode é fazer o contrário: pensar que a função da pós-graduação é ‘dar gás’ nos Lattes das pessoas”, opina. Para reduzir os casos de adoecimento mental, o professor sugere tornar a experiência da pós-graduação uma atividade menos solitária. “Nós precisamos grupalizar a pós-graduação. É preciso que os professores encontrem formas de orientar em grupo, que esses grupos produzam laços de amizade, que a amizade também seja uma política da pós-graduação, não só a política da publicação. E aí eu acho que nós, orientadores, temos um papel muito importante nisso”, propõe Bicalho, numa tentativa de transformação da própria maneira de lidar com essa realidade. “A pós-graduação não pode ser esse lugar naturalizado de produção do sofrimento. As pessoas pensam que fazer mestrado e doutorado é passar por um processo de sofrimento naturalmente. Tem que ser um lugar de produção de potências”, completa.

Adoecimento social

Francisco Teixeira Portugal, psicólogo, professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia e coordenador de Integração Acadêmica de Pós-Graduação do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da UFRJ, observa um aumento, na última década, da relevância da pós-graduação no Brasil, o que provocou, em sua visão, um desvirtuamento da função da pesquisa acadêmica. “Em muitos casos, o sentido dessa atividade deixou de ser a produção de um conhecimento relevante e passou a ser uma máquina de reproduzir conhecimento. Isso se transforma numa certa burocratização do conhecimento, que é parte de um jogo profundamente adoecedor. O aspecto que mais me preocupa nessa questão é o adoecimento social, a perversão da universidade e da própria pesquisa. Eu acho que isso é um projeto: a guinada da universidade para uma certa dinâmica social que é corrosiva, qual seja, o produtivismo. Nele, produzem-se milhares de artigos, de revistas, de cursos, que não contribuem em nada para processos que valorizem a vida ”, analisa, fazendo questão, contudo, de estabelecer a diferença entre produção e produtivismo. Para ele, a produção acadêmica é importante e existem pesquisadores que têm o perfil de publicar intensamente

Portugal se preocupa em abordar a questão a partir de uma análise coletiva, que ele define como um processo de “adoecimento social” e de “perversão da universidade e da própria pesquisa”. Neste contexto, os critérios avaliativos passam a pautar não apenas a pesquisa científica, mas toda a vida de docentes e estudantes. “Essa perversão já estava anunciada desde o início da pós-graduação no Brasil. Nas Ciências Humanas, ela se consolidou mais tardiamente em relação a outras áreas do conhecimento, por volta da década de 1990. Já estava visível que a pós-graduação foi feita, marcadamente, pela valorização dos processos avaliativos e pela concorrência. Avaliava-se para comparar os programas e alocar verbas e valorações de todo tipo. O critério da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) de fornecer um conceito se transformou numa nota como o aluno do ensino médio entende. O programa ‘Aluno nota 10’ é a maior prova da aplicação desse modelo. As pessoas se sentem muito honradas em ter os seus programas avaliados com a nota 7. Então, é muito preocupante que isso tenha se organizado na forma da competição e que tenha servido para moldar não só a vida dos programas, como também dos pesquisadores”, comenta.

O coordenador de Integração Acadêmica de Pós-Graduação do CFCH aponta o aspecto competitivo entre os programas e pesquisadores como a causa, ao mesmo tempo, desse adoecimento social que acomete a universidade e da dificuldade de se encontrar saídas para ele. “Isso constitui uma marca dos programas de pós-graduação, na forma de uma desagregação, de uma falta de solidariedade, e teve como efeito uma fragilização no sentido de pensar soluções, de reconhecer os problemas no âmbito da saúde mental. As pessoas não conseguem ver como os programas e as suas unidades adoeceram. Nós não temos uma capacidade de ação. E, diante dessa situação atual de cortes violentíssimos do financiamento na área das Ciências Humanas, nós não temos a capacidade de mobilização, quer para pleitear isso do governo, quer para sensibilizar a sociedade. Então, eu penso que essa lógica produtivista e individualista acabou gerando essa competição e essa desmobilização contemporâneas”, completa.

O coordenador do CFCH vê dificuldades em conferir às estruturas da administração um papel de regulação das atividades de pós-graduação. “O sistema da pós-graduação foi estruturado de uma forma que os programas não fiquem submetidos a determinações da universidade. Os recursos são destinados diretamente pelos órgãos de fomento. Criou-se uma autonomia que pode ser bancada com alguma independência em relação à universidade. Então ela se destaca muito dos processos administrativos internos. Foi um processo histórico cheio de consequências. Agora nós pagamos por isso também”, comenta. Portugal também pondera quanto à diferenciação das cobranças legítimas sobre a produção acadêmica, tanto na iniciação científica na graduação como na pesquisa da pós-graduação, e das demandas “que não têm fim” no que diz respeito à saúde mental do corpo discente.

Questionar a importância da avaliação

Para o professor há uma adesão muitas vezes acrítica aos critérios de avaliação, que precisam ser questionados. Portugal cita, por exemplo, a homogeneização dos prazos de defesa de teses e dissertações, em diferentes áreas do conhecimento, e a obrigatoriedade de conhecer determinados idiomas. “Toda essa variedade não é levada em consideração. Mesmo dentro de uma mesma área do conhecimento, há diferenças internas muito grandes. Quem impõe essa homogeneização é a avaliação. É ela que elege os itens comparativos, que permitem uma hierarquização”, analisa. Segundo ele, “não há como pensar a avaliação sem a discussão política. A eleição de um critério, qualquer que seja ele, é uma eleição política. Por que o prazo é tão importante? Por que deve haver o fluxo de 24, 48, 50 meses? Qual valor esse item vai ter? Por que em determinado momento entra o elemento da internacionalização? Por que em outro momento é importante o número de artigos, e não livros, em tais indexadores, e não em outros?”, questiona o docente, lembrando ainda que, além de os critérios escolhidos para avaliação seguirem uma lógica estabelecida por determinados grupos de avaliadores e não outros, há, evidentemente, os possíveis deslizes que podem ser cometidos no momento da avaliação.

Portugal deixa claro que não pretende estabelecer critérios através dos quais a avaliação se dará da forma mais justa possível. Mas sim colocar luz sobre a questão da própria importância que a avaliação ganhou na pós-graduação brasileira. “O centro da questão é que nós agigantamos a avaliação, que já ocupou a nossa alma. E aí nós não pensamos mais na competição, na hierarquização como algo que foi decidido entre nós, e que escapou, em grande parte, ao nosso controle”, aponta. O professor propõe outras formas de distribuição de recursos aos programas a partir da substituição da competição pela cooperação entre os programas. “Será que os programas que estão iniciando não deveriam receber mais apoio, em vez de menos? Poderiam haver valores iguais, poderiam, em vez desse esforço todo na avaliação, pensar em formas de integração, de cooperação entre os programas”, finaliza Francisco Portugal.

*Os nomes foram alterados.

Jornalista do setor de Comunicação do CFCH