Em meio ao caos da contemporaneidade, doenças psicológicas como depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) se tornaram grandes epidemias. É nesse cenário que o Instituto de Psiquiatria (Ipub) tem investido em novos tratamentos psicológicos e os aliado a protocolos tradicionais.
O transtorno de estresse pós-traumático, por exemplo, é um dos principais transtornos psicológicos, atingindo cerca de dois milhões de pessoas no país. O distúrbio acontece a partir de uma experiência traumática como violência sexual, acidentes e mortes. Apesar de ser muito associado a militares e profissionais que trabalharam em áreas de confronto, o TEPT atinge cada vez mais pessoas vítimas de violência urbana causando sintomas como flashbacks e pesadelos, perda de interesse em atividades antes prazerosas, ausência de perspectiva futura, entre outros.
O Laboratório Integrado de Pesquisa em Stress (Linpes), coordenado pela professora Paula Ventura, oferece tratamento para qualquer pessoa que sofra de algum tipo de transtorno relacionado ao estresse. Segundo Ventura, o instituto trabalha hoje com a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) como protocolo de preferência para tratar esses casos. “O paciente passa por sessões de terapia com psiquiatras e psicólogos, com momentos em consultório e também com vivências no local onde o trauma ocorreu, sempre com acompanhamento.” A inserção no ambiente é importante, pois o acompanhante pode ajudá-lo a refletir sobre a situação e encarar os seus medos.
Em pesquisa realizada recentemente no Ipub, descobriu-se que grande parte dos casos de TEPT não são diagnosticados. Segundo Érika Silva, pesquisadora do Instituto, esse número chega a 97,6% e abrange todo o sistema de saúde, tanto o público quanto o privado, não permitindo aos pacientes acesso ao tratamento correto e resultando, muitas vezes, em agravamento dos casos.
Livre para Voar
Outro destaque entre os serviços de apoio psiquiátrico e psicológico oferecidos pelo Ipub é o Livre para Voar. A iniciativa utiliza ferramentas de realidade aumentada, aliadas às técnicas do TCC, para tratar o medo de viagens de avião. O projeto faz parte dos esforços de pesquisa do Instituto para oferecer experiências mais próximas à realidade e compreender como essas ferramentas podem auxiliar no tratamento.
Ventura conta que o uso da realidade aumentada nesses casos funciona para proporcionar ao paciente um contato com o ambiente hostil que, de outra maneira, seria caro demais. Segundo a professora, na terapia convencional são utilizados vídeos, imagens e estímulo da imaginação para permitir a imersão. “Essas técnicas não são tão efetivas quanto a presença do paciente no ambiente. Com a realidade aumentada, podemos simular de um jeito melhor”.
Vinícius Silva, paciente do projeto, concorda com Ventura. O analista de sistemas viajava muito a trabalho até que começou a ter crises de ansiedade quando pensava em entrar em um avião, mesmo sem nenhuma situação traumática prévia. O medo influenciou diretamente sua vida profissional e pessoal até que ele procurou tratamento psicológico. Para ele a terapia aliada às sessões no Ipub foram bastante proveitosas. “A experiência com a realidade aumentada funciona muito melhor do que com o uso de imagens, é um estímulo muito mais sugestivo”, afirma.
O tratamento foi tão bem sucedido que Vinícius enfrentou o avião para aproveitar suas últimas férias. “Fiquei ansioso, mas consegui. As técnicas que aprendi durante as sessões ajudaram muito. Já quero programar a próxima”, comemora.