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UFRJ completa 97 anos aberta ao tempo histórico

Em artigo sobre a data, reitor Roberto Leher propõe reflexão sobre a história e o futuro da UFRJ

Em artigo sobre a data, reitor Roberto Leher propõe reflexão sobre a história e o futuro da UFRJ:  

UFRJ completa 97 anos aberta ao tempo histórico

A comunidade universitária da UFRJ é admirável: segue vigorosa em contexto de multifacetada crise e enfrenta políticas hostis à ciência, à educação, à cultura, à tecnologia e à arte com emocionante energia criadora. Como em outros tempos de dificuldades (Estado Novo, ditadura empresarial-militar, crise da dívida de 1982, início e longa continuidade do período neoliberal), estudantes, professoras e professores, técnicas e técnicos-administrativos não se deixam abater. Sabem que há um futuro a construir, um futuro não corporativo, comprometido com os problemas da nação. 

Nossa comunidade é encorajada pelas manifestações de apoio e de admiração da sociedade brasileira a forjar o futuro em condições adversas. Todas e todos que interagem com a UFRJ passam a admirá-la. Quando seus filhos ingressam em uma escola pública e encontram docentes formados pela instituição ou, ainda, quando estão em alguma unidade de saúde e têm a fortuna de serem atendidos por profissionais de saúde da UFRJ, sabem que estão em boas mãos, pois formados com esmero e ética pública.  

Ainda precisamos nos fazer conhecer melhor. São muitas as conexões da UFRJ com a vida cotidiana e restam, é certo, enormes desafios para contribuirmos, ainda mais amplamente, com o bem viver dos povos. Os que financiam a instituição com o suor de um trabalho quase sempre penoso e com seu mínimo consumo de víveres básicos, em que incidem tantos tributos, merecem ter como seu patrimônio uma universidade como a UFRJ.

Ao forjar o futuro, a história, o fazemos em circunstâncias que não são de nossa escolha.  Somente com palavras duras é possível descrever a situação existente. Entre novembro de 2014 e o final de 2016, o governo federal retirou R$ 157 milhões do escasso orçamento da UFRJ. Com a perda desses recursos, o volume das dívidas cresceu a ponto de se tornar uma espada de Dâmocles para a instituição. Prédios inacabados, reformas estruturais adiadas, moradias estudantis insuficientes, ameaças não republicanas de corte de energia, ausência de bolsas para os estudantes que possuem direito e necessidade, drástica redução de pessoal terceirizado, difíceis, muito difíceis, condições de infraestrutura, pessoal e recursos de custeio nos hospitais. O nosso compromisso com o país não nos permite admitir que a expansão recente da UFRJ se converta em um projeto inacabado.

Diante dos justos reclamos das universidades em prol das verbas de direito, os meios de comunicação ecoam as já desacreditadas asseverações de que o problema não decorre da falta de verbas (como se R$ 157 milhões não fosse expressivo!), mas de gestão.  

Como seria civilizado se os críticos viessem nos conhecer, percorrer nossos hospitais, conversar com os profissionais e os pacientes, visitar os nossos grandes e pequenos laboratórios, os nossos ateliês de arte e dialogar com grupos de pesquisa. E, após uma jornada de visitas, conversar sobre como acelerar as obras do Jorge Machado Moreira e a reforma do bloco B da moradia estudantil, analisando, em conjunto, as nossas contas, as medidas adotadas para reduzir custos e para melhorar a gestão. Falaríamos sobre o Complexo de Formação de Professores, a rede Zika, os projetos de extensão, a cooperação internacional, os planos para o Complexo Hospitalar, as residências e as pesquisas, o futuro da tecnologia, a consolidação e a expansão dos campi e o salto qualitativo do Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes). 

A vida real nos impõe uma realidade muito distinta. As relações institucionais entre universidade, Estado e governos poderiam não ter a mesma estética e incomunicabilidade. Reivindicamos relações republicanas. Acreditamos que isso é o que o país necessita.  Como na letra de John Lennon, podemos (e praticamos!) imaginar. Ou, como propôs o epistemólogo Gaston Bachelard, podemos reivindicar, para os próximos anos, o direito de sonhar

São essas disposições que têm nos movido a construir nossa fabulosa instituição. Lutamos porque amamos a UFRJ, lutamos porque sabemos o quão importante é nossa instituição para os povos e seus problemas. A comunidade está unida em torno de seu futuro que desejamos virtuoso. Continuidades e rupturas fazem parte da história das instituições: Universidade do Rio de Janeiro, Universidade do Brasil, Universidade Federal do Rio de Janeiro, um percurso virtuoso e um futuro promissor, pois tomamos em nossas mãos a construção de nossa instituição como um dos pilares da democracia brasileira. Celebremos!

Roberto Leher

7/7/2017  

foto: Raphael Pizzino