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Conexão Institucional

2017 – Agir para construir um ano luminoso

O ano de 2016 foi muito áspero, a ponto de o jornal The Guardian ter escolhido “pós-verdade” como uma das palavras-ícone do ano. No Brasil, o modo sui generis de destituição de um governo eleito por julgadores que, em grande parte, são personagens cotidianos da crônica “corrupção”, foi redefinido, eufemisticamente, como um “tropeço na democracia brasileira”.

E dos subterrâneos em que se movimentam os donos do dinheiro e do poder emergiram os verdadeiros interessados na instauração da nova ordem. Operadores de títulos da dívida pública, bancos, financeiras e negociadores dos serviços patrocinaram, e ganharam, a PEC 241/PEC 55.

As despesas primárias serão reduzidas entre 0,5% e 0,8% do PIB ao ano, o que comprometerá severamente as universidades federais e a área de ciência, tecnologia e inovação. Seguradoras, fundos de pensão, bancos, essencialmente, estão sustentando a narrativa da crise da previdência – e a grande mídia empresarial nada mais faz do que dar eco a tal ação – objetivando encolher o sistema público de previdência social para ampliar os seus negócios no setor.

Medidas hostis à ciência, à tecnologia, à arte e à cultura tentam impedir a laicidade e o caráter secular da vida social, sufocando valores republicanos e herdeiros do Iluminismo, por meio de uma ação feroz contra a educação pública. Nesse sentido, a deportação de Adlène Hicheur expressa uma triste síntese de como os que estão comprometidos com a ciência podem ser acossados.

O voluntarismo e o ativismo dos novos arautos da ordem, alguns alojados no Judiciário, outros auspiciados por fundações privadas vinculadas às corporações, rapidamente se movimentaram para preservar a “ordem política, moral e social” do país, como no macarthismo e, no Brasil, nos inquéritos orientados pelo Decreto 477/69 e pelo AI-5/68 da ditadura empresarial-militar.

Tentam impor, como algo natural, que as universidades prestem explicações por seu apreço à democracia, à liberdade de pensamento e de cátedra e à Constituição.

Por tudo isso, a postura das universidades públicas, e da UFRJ em particular, em 2016 é motivo de orgulho e de esperança. Foram altivas, corajosas, magnas, na defesa dos valores democráticos e da educação pública.

Mesmo estranguladas por orçamentos decrescentes, por mudanças indesejáveis na área de ciência e tecnologia, foram criativas e comprometidas com os problemas dos povos, ao investigar o nexo zika e microcefalia, ao propugnar a necessidade de redimensionamento da formação de professores e ao promover tantos outros avanços científicos, tecnológicos e culturais indispensáveis à secularização da vida social.

Novos aportes jogaram luz sobre grandes enigmas: a identificação das ondas gravitacionais e os novos conhecimentos sobre Lucy fortaleceram os conhecimentos acerca da evolução, para horror dos fundamentalistas. Tão importante quanto, a universidade seguiu buscando diálogo com a sociedade e aperfeiçoando a docência e a formação das e dos estudantes.

Os estudantes emocionaram todo o país ao reivindicarem o espaço escolar e universitário, lutarem pela educação pública e exigirem relações humanas que reconheçam um universalismo em que caibam todos os rostos humanos, lutando com outros setores contra o racismo, o sexismo e a discriminação aos LGBT.

Em 2017 os que lutam pela democracia, pelo conhecimento crítico e comprometido com os desafios atuais e futuros dos povos e pela justiça social seguirão apoiando e incentivando um porvir generoso para as universidades públicas.

Em um contexto em que poucas instituições gozam de credibilidade, criar iniciativas que produzam reconhecimento, confiança, luz para dissipar a pós-verdade nos enche de entusiasmo e paixão pelo fazer universitário. Cada uma, cada um de nossa comunidade universitária é parte deste momento sublime. Com realismo crítico, construiremos, junto com o povo, um 2017 que surpreenderá pelo abandono da apatia e da desesperança.