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Memória

Pesquisadores da UFRJ estudam inativação do vírus da Zika

Após o primeiro ano de trabalho, pesquisa aponta caminho para desenvolvimento de vacina contra a doença

Por Lavinia Portella / Faperj


(Foto: Giuilia Ferretti)

Pesquisadores do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis (IBqM/UFRJ) estudam a inativação do vírus da zika como um possível caminho para o desenvolvimento de uma vacina contra a doença.  Ainda em fase inicial, a pesquisa foi um dos estudos sobre arboviroses apresentados na terça-feira, 6/12, durante seminário que reuniu a comunidade científica para divulgar e avaliar os resultados da Rede Zika, programa criado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) diante dos problemas causados pela epidemia da doença. No evento “Resultados e Avanços da Rede de Pesquisas em Zika, Chikungunya e Dengue no Estado do Rio de Janeiro”, realizado na Academia Nacional de Medicina (ANM), no Centro do Rio, os integrantes das seis redes apoiadas pela Fundação discutiram os avanços científicos e tecnológicos decorrentes do programa.

“Achamos importante avaliar, neste momento, os resultados alcançados no primeiro ano de trabalho. Embora sejam apresentações técnicas, nós divulgamos o evento ao público, pois também se trata de uma prestação de contas à sociedade”, explicou Jerson Lima Silva, diretor científico da Faperj.

A pesquisa sobre a inativação do vírus da zika aponta para a possibilidade da produção de uma vacina. Os pesquisadores do IBqM/UFRJ observaram que, por meio de pressão hidrostática, a estrutura do vírus pode ser modificada. Geralmente, o vírus causa infecção quando em contato com uma célula hospedeira modelo. Mas, depois de submetido a um sistema de alta pressão, ele se mostrou completamente inativado e, portanto, incapaz de infectar as células.

O interessante é que, com essa técnica, apesar de a estrutura do vírus ser alterada, impedindo a infecção, não se perde a capacidade imunogênica, ou seja, os animais vacinados com essas partículas inativadas produzem anticorpos e, portanto, não morrem quando em contato com o vírus infeccioso. A pesquisa está em fase de testes em camundongos. “É um estudo bastante promissor. A técnica de inativar vírus por pressão é uma estratégia rápida e de baixo custo”, disse Fernando Augusto Bozza, chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Medicina Intensiva do Instituto Nacional de Infectologia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que apresentou as pesquisas reunidas na Rede 4. Segundo a pesquisadora Andréa Cheble, do IBqM/UFRJ, nos primeiros testes realizados, os animais imunizados não adoeceram. “Se não desenvolveram a doença, houve produção de anticorpos”, explicou Cheble.

Outra pesquisa apresentada durante o seminário revela que o vírus pode causar, além da microcefalia, sérios danos a partes diferentes do cérebro. Conduzido pela médica Fernanda Tovar Moll, do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor) e da UFRJ, o estudo indica que o vírus causa uma série de anomalias no sistema nervoso central do feto infectado. De acordo com o estudo, publicado em agosto no periódico Radiology, publicação da Radiological Society of North America (RSNA), os danos cerebrais causados pelo vírus continuam progredindo após o nascimento da criança, indicando que bebês nascidos sem comprometimento óbvio também podem vir a ter problemas conforme crescem.

A Rede Zika também envolve pesquisas relacionadas a estratégias de controle do mosquito Aedes aegypti. É o caso do estudo que propõe a modificação genética dos mosquitos para alterar o comportamento do inseto. “O mosquito não precisa picar seres humanos. Ele pode ser modificado para que mantenha a dieta vegetal”, explicou o pesquisador Richard Ian Samuels, do Laboratório de Entomologia e Fitopatologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), que representou os pesquisadores da Rede 1. Conduzida por Mário Alberto Cardoso da Silva Neto, a pesquisa aponta que, depois de passar pela fase de larva e pupa, o Aedes chega à vida adulta faminto, à procura de substâncias doces e açucaradas. Por dois ou três dias, ele se nutre da seiva e do néctar das plantas e, somente após esse período, as fêmeas passam a procurar sangue. Segundo o estudo, inibidores de desenvolvimento poderiam impedir a necessidade do inseto de buscar sangue.

Durante o evento, cada grupo teve 40 minutos para apresentar os resultados da pesquisa.  A avaliação dos resultados foi realizada por Pedro Fernando da Costa Vasconcelos, diretor do Instituto Evandro Chagas, órgão localizado no Pará, que desenvolve pesquisas nas áreas de ciências biológicas, meio ambiente e medicina tropical; Paulo Filemon Paolucci Pimenta, coordenador do grupo de pesquisa em Entomologia Médica, do Centro de Pesquisas René Rachou e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-MG); e Marcos da Silva Freire, vice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico de Bio-Manguinhos, da Fiocruz-RJ, e assessor da diretoria científica da Faperj.


  Fernando Bozza, da Fiocruz, apresenta pesquisa sobre microcefalia (Foto: Lécio Augusto Ramos)  

 

Sobre o programa

Criado em fevereiro de 2016 para atender a necessidade do país de buscar respostas para a epidemia de zika, o programa Pesquisa em Zika, Chikungunya e Dengue no Estado do Rio de Janeiro – 2015 apoia seis redes de pesquisa em arboviroses, que envolvem 325 pesquisadores de importantes centros de ciência e tecnologia sediados em território fluminense. 

As seis redes apoiadas pela Faperj mobilizam pesquisadores de importantes centros de pesquisa e tecnologia do estado, entre eles a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e instituições privadas, como a Universidade Severino Sombra (USS) e o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor).  Além do Rio de Janeiro, os pesquisadores contam com o apoio intelectual de profissionais do Nordeste, já que em alguns grupos foram incluídos pesquisadores desta região do país. O prazo estipulado pelo edital para o desenvolvimento de pesquisas é de dois anos.