*atualizada em 11/11/2016, com nota da Superest
Gestantes e moradores com filhos estão entre os perfis de estudantes de baixa renda priorizados pela ação; critérios para a seleção e ocupação dos quartos foram definidos pelo Conselho Universitário no dia 22/9
A Reitoria iniciou na sexta-feira, 30/9, a entrega de 252 quartos da ala reformada da Residência Estudantil a estudantes da UFRJcom direito a receber o benefício. Até a manhã desta terça (4/10), cerca de
170 chaves já haviam sido entregues pela Superintendência-Geral de Políticas Estudantis (SuperEst). A previsão é de finalizar a entrega até o final da semana.
O reitor Roberto Leher fez o anúncio da entrega dos apartamentos na sexta-feira, acompanhado pela professora Vera Salim, responsável pela SuperEst, e pelo pró-reitor de Gestão e Governança, Ivan Carmo. “É um dia muito importante para a UFRJ e todos aqueles que vêm lutando pelo direito da juventude expropriada, explorada e negra de estar na universidade pública”, disse Leher. “Reconhecemos a luta daqueles que passaram momentos de muita adversidade aqui dentro”, completou.
Os critérios para a ocupação dos quartos foram definidos no dia 22/9, por meio da Resolução nº 06/2016, aprovada por unanimidade pelo Conselho Universitário da UFRJ. O texto destaca que os estudantes beneficiados estão no perfil de renda estabelecido pelo Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) e pela Resolução CEG 01/2008, com matrícula ativa e documentação regularizada pela SuperEst. Gestantes e moradores com filhos também foram priorizados pela ação.
O reitor ressaltou, entretanto, que a dívida da Universidade em termos de moradia foi compensada de forma “limitada”. “Não podemos celebrar como um dia de alegria, porque vemos que nossos companheiros estudantes que estão na Vila Residencial e em várias outras partes da cidade do Rio de Janeiro, por direito, também deveriam estar passando por essa porta. Eles terão que aguardar pelo menos mais quatro ou cinco meses para que o outro módulo de moradia estudantil que estamos fazendo perto do CCMN possa estar concluído. Temos que manter a solidariedade com esses estudantes”, pontuou.
Os pró-reitores Maria Malta (Extensão) e Roberto Gambine (Finanças) também estiveram presentes, acompanhados por servidores da Administração Central da Universidade.
Mudança completa prevista para 10/11
A nova ala da Residência Estudantil tem instalações novas e seguras. Cada apartamento possui três quartos, sendo o banheiro e a cozinha comuns. A Universidade fornecerá o mobiliário completo, como colchão, ventilador e mesa para estudos. Os fornos de micro-ondas e geladeiras têm previsão de entrega para os próximos dias, já que as licitações públicas realizadas não tiveram empresas interessadas em concorrer dentro da faixa de preço estipulada. A instalação da rede wi-fi iniciou na sexta (30/9).
A mudança será gradual, com prioridade para os estudantes em situação mais delicada, como os que possuem filhos e as gestantes. A Reitoria prevê que até o dia 10/11 todos tenham condições de morar no prédio.
“Política estudantil não pode estar restrita a bolsas”, diz reitor
Esta é a primeira reforma na Residência Estudantil da UFRJ em cerca de quarenta anos. Localizada na Cidade Universitária, ela foi construída com duas alas, uma feminina e outra masculina. Após o início da reforma da parte feminina, diversos estudantes mudaram para a outra ala, que passou a ser oficialmente mista. Outros alunos de baixa renda, que não puderam ou optaram por não morar lá, receberam bolsa da SuperEst para custear um aluguel na cidade. O local teve sua reforma iniciada em 2013, quando a gestão então à frente da Reitoria começou um processo de identificação de estudantes para levantar quem eram os moradores.
Vera Salim ressaltou que ainda que faltam ajustes a serem feitos e que o prédio passou por uma vistoria na sexta-feira para garantir a mudança. “A entrega das chaves dos módulos reformados da residência estudantil carrega um complexo simbolismo. Ela materializa um importante passo que demonstra o compromisso da nossa reitoria com a assistência estudantil. Demonstra também nossa forma de fazer política, uma vez que o processo de institucionalização do alojamento foi cuidadoso, realizado com diálogo e apresentado em todas as instâncias da universidade”, afirmo a Suprest em nota.
Ivan Carmo destacou que o local também passará por vistoria dos bombeiros e que modificações nas instalações não podem ser feitas.
Para o pró-reitor de Gestão e Governança, impasses entre os moradores e a Reitoria contribuíram para que a obra sofresse o atraso de quase um ano. Além disso, houve problemas no planejamento, corrigidos posteriormente. Ele relata que se precisou punir a empresa responsável pelo projeto.
“Neste último ano, viramos todos os holofotes para terminar essa obra, vencer todas as etapas. A Universidade penalizou a empresa três vezes para poder concluí-la”, disse. Ele reforça que a Residência Estudantil é um espaço transitório para os estudantes, e afirma que agora os moradores “precisam preservar o que estão recebendo para poder repassar para os próximos em condições quase tão boas quanto receberam”.
Leher disse que a Universidade tem “responsabilidade política e ética de preservar o patrimônio”, pago com a contribuição dos trabalhadores do país. Aos estudantes que vão morar no local, o reitor enfatizou que a Universidade precisa da inteligência, energia e capacidade criadora de cada um. Segundo ele, a lógica da política estudantil não pode estar restrita às bolsas. “Assistência estudantil tem que se dar fundamentalmente na forma de moradia digna, alimentação, bibliotecas, transporte e sala de estudos. Bolsa é entregar os estudantes ao mercado”, criticou.