“Meu nome é Antônio Nuno Santa Rosa. Sou professor da UFRJ, lotado no Núcleo Interdisciplinar para o Desenvolvimento Social (Nides) e atleta paralímpico. Nasci em Belém do Pará, morei em Brasília por 19 anos, trabalhando como professor da UnB até vir pro Rio, onde moro há cinco, por causa da vela. Tive poliomielite com um ano de idade, na época em que a vacina ainda estava chegando à minha cidade e, por consequência disso, uso um tutor, um aparelho ortopédico, na perna esquerda. Convivi a vida toda com essa sequela, mas isso não me atrapalhou em nada: tenho vida e trabalho normais.
Não é a pessoa que é rotulada por alguma deficiência ou aparência física que tem problemas, e sim quem rotula. É preciso aceitar as diferenças. Cada um tem suas habilidades, cada um nasce com a sua aptidão, vai se desenvolvendo e então descobre o que chama de felicidade. O esporte começou como hobby, na infância, aí não parei mais. Já são 30 anos velejando.
A vela não precisa ser um esporte de elite. É possível ser mais popular a partir de incentivos, como o Projeto Grael. É preciso também desenvolver uma ideologia de como ensinar o esporte, como os americanos, os neozelandeses e outros têm. Hoje em dia, até meu projeto na Universidade é voltado para a vela. Como tenho formação em geociências, a prática virou um pivô central dos meus estudos e pesquisas. Ano passado, inclusive, dei um curso de vela para crianças no Festival UFRJ Mar, em Paraty. A gente realiza várias atividades diferentes envolvendo muitos alunos.
Pratiquei vários anos na classe Laser e em barcos oceânicos, mas desde 2009 passei a velejar na vela paralímpica, quando chegaram barcos adaptados em Brasília, por meio de um projeto de difusão do esporte. Antes eu disputava na categoria geral; a mudança de categoria foi apenas questão de ter o barco adaptado. Em 2010, fui vice-campeão brasileiro da classe e depois, em 2015, conquistei o Campeonato Brasileiro, ganhei todas as regatas. Esse foi o tempo que levei para amadurecer no barco. A classe que velejo habitualmente é a 2.4 MR, com um barco de 4 metros para uma só pessoa. Ela é aberta: corre homem e mulher, deficiente ou não deficiente. Nos campeonatos mundiais, todos disputam juntos; só nas Olimpíadas e Paralimpíadas que separam por condição física.
Passei este ano me preparando para a minha primeira paralimpíada. Treinei muito, treinei pesado. Mas, no segundo dia de regatas, quando estava na sétima posição, tive problema com a bomba do barco. Entra muita água durante a corrida, só que a bomba vai tirando, então o barco nunca fica cheio. Nesse dia, deu mau contato na fiação da bomba e o barco começou a encher. Quando estava na última boia, tive que parar e tirar as velas para o barco balançar menos e parar de entrar água.
Foi muito complicado. Tive que ficar de fora de três regatas. De 11, só corri oito. Completei a prova, claro, mas já bem desanimado. Meu barco foi revisado todo dia por mim. Não deixava ninguém mais mexer, só eu, mas acontece… Fiquei bastante chateado e ainda estou. De qualquer jeito, valeu a pena: foi um aprendizado, um crescimento. Quando se está numa competição como essa é preciso saber perder, principalmente porque o nível é muito alto. Por isso qualquer ponto que se deixa de ganhar faz muita diferença. Chega a ser engraçado, porque, quando algo assim começa a dar errado, não adianta se esquentar. Queria mexer no barco, mas não podia. Então pensei ‘ah, vou só velejar e me divertir’. E foi o que fiz.
Apesar de tudo, foi uma experiência muito boa. Pude correr com a torcida, teve presença de amigos e colegas da UFRJ no público e os ingressos para a competição até esgotaram. Agora é fazer a programação para participar de mais regatas internacionais, algo que acho que faltou no meu treinamento, e ir para Tóquio daqui a quatro anos!”
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