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Razões para celebrar a luta estudantil

Confira artigo do reitor Roberto Leher, em homenagem ao Dia do Estudante

Dia do Estudante: razões para celebrar a luta estudantil contra a agenda conservadora no país

Por Roberto Leher, reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

A extraordinária vitalidade estudantil em todo o planeta justifica intensa celebração do Dia do Estudante. O olhar que vê e repara, a escuta verdadeira – base do genuíno diálogo – e o compartilhamento de experiências na produção do conhecimento revelam essa força criadora.

A Universidade está sendo reinventada nos mais distintos espaços: salas de aula, laboratórios, jornadas de iniciação científica, trabalhos de campo – dos grandes sertões à Amazônia azul – grupos de pesquisa, intervenções artísticas, culturais e esportivas, TED-X, mobilizações em prol de assistência estudantil, pulsantes centros acadêmicos, vigoroso DCE e, de modo especialmente emocionante, em escolas ocupadas, encontros dos movimentos negros, assembleias do alojamento, coletivos LGBT e feministas, bem como em multitudinárias manifestações em prol de causas generosas para a humanidade. Longe do conhecimento livresco, temos nas universidades pulsante práxis: desejo e prática de transformação do mundo.

As atuais gerações de estudantes estão diante de imensos desafios. As circunstâncias históricas precisam ser transformadas para que as expectativas de futuro democrático para as universidades públicas possam se concretizar. Estão em tramitação no Congresso mudanças constitucionais que podem destroçar as mais importantes conquistas logradas na Constituição Federal de 1988.

O desmonte do SUS, a desvinculação de verbas para a educação e a saúde, o fim da gratuidade nas universidades públicas, o cerceamento da liberdade de pensamento e do pluralismo acadêmico (a exemplo da Escola Sem Partido) estão no núcleo duro da agenda conservadora do país. Conquistas que pareciam consolidadas, como a educação pública como direito dos cidadãos e dever do Estado, atualmente estão perigosamente ameaçadas.

Os recursos do Pnaes sofrem acentuado decréscimo, colocando em risco a permanência de 67% dos estudantes das universidades federais que possuem renda per capita familiar de até 1,5 salário mínimo. Nunca é demais lembrar que a cobrança de mensalidade é uma política que anda de mãos dadas com a elitização da universidade.

A UFRJ não seria a mesma sem o amplo protagonismo estudantil. A pesquisa histórica rigorosa confirma o peso da participação de estudantes na vida acadêmica e institucional da mais antiga universidade brasileira. E isso é motivo de orgulho e júbilo. O sonho de uma melhor universidade, comprometida com os dilemas da humanidade, alimenta a busca utópica (e, como propõe Eduardo Galeano, por isso, a busca concreta) de conhecimentos para melhorar o mundo por meio da ciência, da arte, da cultura e da tecnologia. A práxis estudantil almeja uma universidade aberta ao tempo, democrática em sua composição social e em seu governo.

Como em outros tempos históricos, as/os estudantes estarão desafiadas/os a assumir criativo e luminoso protagonismo na defesa dos direitos sociais e da educação pública em particular. O vigor estudantil demonstrado no cotidiano da vida universitária enche de esperança a comunidade universitária e todos os que defendem a universidade pública, laica, crítica, democrática e autônoma. Existem motivos de sobra para celebrarmos o Dia do Estudante!