Nessa segunda-feira, 15 de fevereiro, em coletiva à imprensa, os professores Rodrigo Brindeiro e Amilcar Tanuri, do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, afirmaram ter identificado o genoma do Zika Vírus em líquidos amnióticos de gestantes. As pesquisas são feitas em parceria com a pesquisadora Ana Bispo, da Fiocruz, e com a Dra. Adriana Melo, do Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto, em Campina Grande, na Paraíba.
O estudo começou em novembro de 2015 e vai ajudar na compreensão de como o vírus age nas gestantes e nos bebês, possibilitando descobertas de outras consequências do Zika. As pesquisas estão em fase de isolamento do vírus nos tecidos, além do líquido amniótico, para saber de que forma ele agride o sistema cerebral.
“Estamos trabalhando com o isolamento do vírus e a decodificação do seu genoma em outros tecidos, principalmente o cerebral”, comentou o professor Rodrigo. Estão sendo analisados oito casos de recém-nascidos com microcefalia, em que as gestantes foram expostas ao Zika. Desses, quatro ainda não tiveram seus resultados divulgados. Dos outros quatro, dois faleceram nas primeiras 48 horas, sendo encontrada a presença do vírus no cérebro.
“Acreditamos que nos próximos dois ou três meses possamos sair com mais informações sobre o genoma completo do vírus provenientes do cérebro de crianças falecidas com microcefalia, e que avancem os estudos com os minicérebros como modelo in vitro da participação do vírus como agente causador de uma disfunção do sistema nervoso”, explicou Brindeiro, que disse ainda que a ideia é colocar isso como um paralelo ao que acontece realmente com os bebês.
Síndrome congênita do Zika
Os pesquisadores destacaram que nesse momento ainda se está em fase de descobrimentos sobre a doença. Segundo eles, ainda existem mais questionamentos do que respostas se o vírus pode causar, além da microcefalia, outros danos cerebrais. Por isso, referem-se a uma síndrome congênita do Zika.
“Agora vamos estudar como o vírus agride o sistema cerebral. É uma maneira de entender um pouco essa microcefalia ou síndrome sobre a qual estamos falando. Sabendo como ele agride o tecido cerebral, podemos começar a entender um pouco a lesão em adultos, como a síndrome de Guillain-Barré, encefalite e mielite causadas pelo vírus”, explicou o professor Amilcar Tanuri.
Os professores alertaram também para que as gestantes não deixem de fazer acompanhamentos da gestação com seus médicos. A melhor forma de prevenção é a realização de exames regulares no pré-natal.
Além disso, o objetivo é que a sistematização dos serviços hospitalares da UFRJ com os estudos clínicos, aliados a laboratórios e colaboradores, como por exemplo a Fiocruz, possa dar uma resposta à sociedade a respeito do avanço das pesquisas.
UFRJ cria rede para discutir a erradicação do Aedes aegypti
A Reitoria tem realizado reuniões periódicas com pesquisadores de diversas unidades da UFRJ para discutir medidas de combate e erradicação do Aedes aegypti, além de investigar a relação entre o vírus Zika e os casos de microcefalia. Entre as ações de longo prazo, os professores discutiram estudos sobre o vírus, sua reprodução, relação com hospedeiros, sobrevivência e genética.
“A UFRJ se mobiliza para apresentar possíveis contribuições ao MEC. A articulação com o Ministério da Saúde e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação é fundamental. Precisamos trabalhar medidas de curto, médio e longo prazos para a questão específica do Zika e a problemática da microcefalia”, disse o reitor Roberto Leher, durante a reunião realizada no dia 3 de fevereiro.