Pesquisadores da UFRJ participam da Conferência Nacional das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP21), em Paris. Acreditamos que a Universidade deve ter papel de destaque para atuar na mitigação e reversão do processo de mudanças climáticas do planeta. É nosso papel desenvolver análises críticas sobre as políticas públicas para o meio ambiente, além de promover o uso de tecnologias ambientalmente amigáveis. Confira carta da Reitoria:
A UFRJ e a Conferência do Clima (COP 21)
É extremamente grave o quadro atual de mudanças no meio ambiente. O processo de aquecimento global, fruto das emissões de CO2 e outros gases causadores do efeito estufa, o uso excessivo de combustíveis fósseis, a exaustão precoce de recursos naturais e a degradação de biomas são alguns dos principais eixos de mudanças ambientais.
Exemplos como a incidência de tempestades e inundações em áreas onde tais fenômenos não aconteciam, o derretimento de geleiras e a consequente elevação do nível do mar, a desertificação, a escassez crescente de água em muitas regiões do planeta e a perda crescente de biodiversidade são alguns dos efeitos do aquecimento da Terra que ameaçam a sobrevivência da espécie humana, afetando, particularmente, comunidades tradicionais, camponeses, ribeirinhos e suas memórias históricas e coletivas.
Os conflitos sociais derivados dos impactos diversos gerados pelas mudanças climáticas são extremamente graves, em decorrência das novas configurações das questões territoriais e das disputas pelos recursos naturais, em especial, pela água.
Ações na direção do enfrentamento dessas mudanças e da erradicação da pobreza, com a reversão do padrão de desenvolvimento atual, lastreado na produção e no consumo em massa na indústria e na agropecuária, além da introdução de outro modelo de desenvolvimento, ambientalmente sustentável e socialmente justo, são desafios que não podem ser tratados separadamente.
Uma política climática correta deve possibilitar a manutenção do nível de atividade econômica necessário para a satisfação das necessidades das gerações atuais e futuras, aumentando seu nível de bem-estar, como apontado por Gro Brundtland, ministra do meio ambiente da Noruega, na Conferência da ONU sobre Meio Ambiente, em 1988.
Fomentar a transformação para um futuro de “baixo carbono” requer um esforço coletivo envolvendo múltiplas capacidades e áreas de conhecimento. Somente conseguiremos fazer frente aos desafios do século XXI com sucesso se conseguirmos migrar para um caminho de desenvolvimento com menor uso de recursos naturais e menor nível de emissão de poluentes, caso estejamos mais adaptados às mudanças climáticas e com acesso equitativo aos frutos de um novo modelo de desenvolvimento, ambientalmente sustentável e socialmente justo.
Essa construção pede uma atuação simultânea quanto à demanda e também à oferta. As mudanças pelo lado da demanda passam por alterações em hábitos de consumo, nos setores de construção civil, transporte, indústria e agricultura. Pelo lado da oferta, urge uma reordenação geral na esfera produtiva, ampliando o uso de fontes renováveis de energia na matriz energética, uma vez que a geração de energia, junto com o desmatamento, é uma das principais fontes de emissão de gases de efeito estufa, pela queima de carvão, xisto e óleo, principalmente.
A preservação das florestas e outras áreas verdes é crucial para a manutenção da captura de carbono, retenção da umidade na atmosfera, geração de chuvas e para o equilíbrio das variáveis que favorecem a sobrevivência da biodiversidade. A adoção de práticas agrícolas ambientalmente corretas, o uso de sistemas agroflorestais, o reflorestamento e a recuperação de áreas degradadas em larga escala, a recuperação de matas ciliares úmidas e de nascentes, além da criação e preservação de áreas protegidas são ações importantes para a retomada do equilíbrio geral.
É reconhecido que clima e biodiversidade estão interconectados. A biodiversidade é ameaçada por mudanças climáticas com consequências negativas ao bem-estar social. Ela é também responsável por contribuições à mitigação dessas mudanças climáticas e aos mecanismos de adaptação. Portanto, o seu gerenciamento é essencial ao enfrentamento das mudanças, sendo uma questão central o quanto elas intensificam ou são compensadas pela biodiversidade.
O uso de fontes alternativas de energia, notadamente as advindas da agricultura, não deve se impor à custa da biodiversidade. Há riscos que podem anular ou mesmo revertera sustentabilidade da bioenergia, como o aumento de emissões de gases de efeito estufa por mudanças do uso da terra e a redução de biodiversidade resultante de desflorestamento ou modificações de práticas agrícolas.
Sabemos que são numerosos e complexos os obstáculos a superar para promover tais mudanças. Além da incompreensão e do desconhecimento de muitos em relação à problemática ambiental, há que se enfrentar, como diz o Papa Francisco em sua encíclica Laudato Si, publicada em 2015, os interesses dos grandes grupos econômicos, que privilegiam o lucro em detrimento do meio ambiente, colocando em risco a própria sobrevivência da humanidade.
Políticas públicas concatenadas, com mecanismos para estimular e financiar a transição, deverão ser implementadas, ou através de ações diretas, regulamentações ou mecanismos de correção de mercados, como impostos e incentivos, que são fundamentais para que o custo social das emissões, do uso abusivo de recursos naturais e da degradação seja imputado a seus responsáveis, visando à redução imediata e futura eliminação desse processo impactante.
A estruturação de um ambiente seguro precisa ainda ser desenvolvida. A Universidade, com destaque para a Universidade Pública, por sua função social comprometida com a ética na produção do conhecimento, é necessária para construir esse novo caminho. É seu dever identificar, questionar e analisar criticamente as opções a serem trilhadas e, assim, contribuir para a definição de cenários futuros.
A Universidade, portanto, deve ter um papel de destaque na mudança de trajetória do desenvolvimento, que exigirá tanto novas tecnologias e processos como novas práticas e hábitos individuais. Desse modo, a Academia é parte do esforço do setor público, responsável pela definição de políticas de desenvolvimento. Os avanços do conhecimento científico poderão significar, ainda, geração de riquezas, empregos e mais tempo disponível para o lazer, o estudo, a interação social, para melhorar a qualidade de vida.
A intensificação da participação da Academia na compreensão e quantificação da inter-relação entre medidas de mitigação e reversão do processo de mudanças climáticas e seus impactos ambientais é um compromisso da Universidade Federal do Rio de Janeiro com a sociedade. Nesse sentido, promoveremos o desenvolvimento de tecnologias ambientalmente amigáveis e a análise crítica dos efeitos de políticas públicas para essa mitigação e a reversão do quadro, propondo opções para que o Brasil atue na construção de uma sociedade consciente de sua responsabilidade e capaz de direcionar os rumos das atividades econômicas, orientando-as em seus aspectos técnicos, éticos e sociais.
A UFRJ soma-se aos que denunciam a degradação ambiental (e suas causas) e deseja que o país tenha participação forte e ousada na Conferência do Clima, a COP 21, iniciada no dia 30 de novembro, em Paris, com a adesão a um urgente e necessário novo acordo internacional que possa garantir a mudança dos rumos atuais da questão, com o estabelecimento de ações para a redução significativa das emissões.
Devem ser mantidas e aprofundadas as metas já anunciadas pelo governo brasileiro, apontando para medidas concretas de redução das emissões, com a eliminação progressiva do desmatamento e a fixação de ideias ambiciosas de reflorestamento, assim como para a substituição da geração de energia proveniente de fontes fósseis por fontes renováveis e limpas, entre outras ações.
A UFRJ, que está representada na Conferência de Paris, seguirá empreendendo esse esforço, participando ativa e efetivamente da construção de um futuro de desenvolvimento sustentável e justiça social.
Reitoria da UFRJ