A comunidade da UFRJ tem muito o que celebrar no dia 7 de setembro de 2015, data em que celebramos os 95 anos de nossa instituição. É possível afirmar que a criação da UFRJ, a partir de escolas pré-existentes, foi o fato cultural mais importante do início do século XX no país.
A criação da universidade possibilitou não apenas uma instituição de ensino organizada e sistemática. Muito além do ensino, a UFRJ foi se constituindo como instituição com crescente dedicação à pesquisa e, sobretudo, à produção de um conhecimento original em diversos domínios: das engenharias às áreas da saúde, da Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi) aos estudos sobre o Estado nacional na Faculdade Nacional de Direito, da cultura à educação, a Universidade do Brasil contribuiu para que o país pudesse pensar os seus dilemas históricos sob prismas teóricos marcados pela originalidade.
A contribuição de grandes educadores na FNFi, muitos provenientes da Universidade do Distrito Federal, como Anísio Teixeira, possibilitou que a UFRJ fosse se constituindo como uma instituição que logrou a unidade do diverso, não apenas pela interação entre as faculdades e as áreas de conhecimento, mas pela extraordinária diversidade de perspectivas teóricas e epistemológicas. As interações com os principais centros universitários da Europa e Estados Unidos contribuíram para a consolidação de áreas de imensa importância científica e tecnológica para o país, logrando, em especial, a partir da segunda metade do século XX, extraordinária expansão de sua pós-graduação e a constituição de importantes laboratórios de pesquisa, sem perder um ethos muito próprio de sua história: a ousadia e o pensamento inovador de seus estudantes, técnicos e docentes. A busca de conhecimento novo, original, vinculado aos problemas dos povos tem sido, desde então, um sopro renovador da cultura brasileira e um grito de liberdade para o pensamento criativo e emancipatório.
Resistiu aos intentos dogmáticos, autoritários, mesmo antes do golpe empresarial-militar de 1964. Os seus estudantes sempre foram ousados e criativos na interpretação das transformações do tempo histórico! A sua comunidade foi corajosa na defesa da autonomia universitária e, por isso, muitos de seus membros foram cassados, presos, torturados e violentamente assassinados: com sua coragem e suas lutas, escreveram a nobre história de nossa instituição!
Na última década, a instituição foi ampliada, inclusive fora da cidade do Rio de Janeiro, em Macaé e Duque de Caxias, possibilitando uma emocionante mudança no perfil de seus estudantes. Estas mudanças sociais nos instam a repensar as formas de ensinar, a organização acadêmica, o diálogo verdadeiro com a juventude, a pensar a cultura urbana, os fluxos das cidades, as interações simbólicas mediadas pelas tecnologias e, muito importante, as políticas que assegurem direitos estudantis básicos, atualmente negados à maioria que os demandam com justeza. Sem um novo padrão de políticas estudantis, dificilmente a UFRJ se caracterizará como uma instituição democrática aberta a todo o povo. Daí a relevância de uma forte união em prol de políticas de assistência estudantil que possibilitem que todos os estudantes possam ter uma vida universitária plena!
É uma instituição que possui preciosos acervos bibliográficos e de coleções da flora, fauna e de antropologia, assim como da música brasileira. Em seus hospitais, possibilita percursos e processos formativos que garantem uma formação completa na área de saúde e em domínios afins. No Observatório do Valongo, contribui para a pesquisa astronômica e astrofísica, mantendo intensa relação com a educação básica e com os museus. A UFRJ vem assegurando conhecimentos estratégicos para que a economia brasileira possa ser mais complexa e justa socialmente, como as pesquisas nas áreas de energia, meio ambiente, transportes, bem como nas ciências da natureza. Desenvolve pesquisas e processos formativos de extraordinária relevância na formação de professores, um dos pilares da função social da universidade.
Em suas salas de aula, grupos de pesquisa, laboratórios, hospitais, pulsa uma intensa energia criadora que permite antecipar cenários que projetem um futuro mais generoso para o país. Com mais verbas para que possa recuperar a sua infraestrutura, exaurida pelos anos e pela escassa manutenção, bem como mais verbas de investimento para ampliar as suas instalações, restaurar as unidades do Complexo Hospitalar e de seus prédios históricos, a UFRJ seguirá uma instituição nacional da maior relevância para a arte, a cultura, a ciência e a tecnologia comprometidas com o bem-viver dos povos.
Reivindicamos o efetivo cumprimento da autonomia universitária para que possamos produzir conhecimento com ética e compromisso com a verdade, sem subordinação aos interesses particularistas. Liberdade de cátedra, participação, expressão e crítica são valores inalienáveis da vida acadêmica. Para que a universidade não fique sob influência de patrocinadores com interesses específicos de lucro, reivindicamos a garantia de um orçamento compatível com as necessidades da instituição! Somente assim a interação com os setores produtivos será fecunda para a instituição e para o país.
A comunidade da UFRJ está ciente de que o futuro da instituição dependerá do porvir da nação. Daí todo nosso compromisso com a democracia, a igualdade social, os direitos sociais e os direitos humanos, as condições socioambientais do planeta e com o conhecimento crítico e emancipatório.
A comunidade da UFRJ presta verdadeira homenagem aos que de fato vêm custeando as nossas atividades de ensino, pesquisa e extensão: todos os que trabalham arduamente e contribuem, pagando tributos para a manutenção da universidade. Essa história virtuosa não teria sido possível sem o apoio dos que vivem do próprio trabalho e são explorados. Também expressamos reconhecimento a todas as forças sociais que, na sociedade política e na sociedade civil, vêm atuando no sentido de possibilitar melhores condições para a educação pública, laica, universal, comprometida com os grandes problemas dos povos, projeto nacional com o qual nos identificamos!
Rio de Janeiro, 7 de setembro de 2015
Roberto Leher
Reitor UFRJ