Ação integra o projeto UFRJ Carioca, criado pela universidade para comemorar os 450 anos da cidade do Rio de Janeiro. Restauração será aberta à visitação do público em abril.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) lançou nesta terça-feira, 13 de janeiro, o “Laboratório Público de Restauro – Mural Última Ceia, de Ziraldo”, iniciativa para restaurar uma gigantesca pintura-mural do artista, criada em 1967, na então choperia Canecão. Com 32m x 6m, um dos maiores painéis do tipo no Brasil encontrava-se, há anos, emparedado, escondido da apreciação do público.
Coordenado pelo Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, o lançamento do laboratório integra uma série de aproximadamente 60 eventos comemorativos do aniversário da cidade, que serão realizados pela universidade ao longo do ano.
A partir deste mês, o Fórum e a Escola de Belas Artes (EBA) iniciarão um minucioso trabalho para analisar as condições gerais do painel, que tem apenas algumas partes visíveis. Posteriormente, a equipe da EBA irá repintar trechos já aparentes, restaurar partes do painel e refazer trechos que foram apagados ou cobertos por paredes, no período em que o local, agora rebatizado Espaço UFRJ, funcionou como casa de shows.
De acordo com o reitor da UFRJ, Carlos Levi, o lançamento do projeto durante as comemorações dos 450 anos do Rio significa, além do reconhecimento do trabalho de Ziraldo, um presente à sociedade carioca e a todos os brasileiros. “A inauguração do Laboratório de Restauro é mais uma das iniciativas da UFRJ para recuperar e devolver esse tradicional espaço de arte para a população do Rio de Janeiro”, disse, sobre o Espaço UFRJ.
A partir de abril, o trabalho encabeçado pelos professores da EBA será aberto à visitação do público, que acompanhará em tempo real a recuperação do mural, caracterizado por técnicas de desenho e pintura. A UFRJ prevê que até o final do ano o painel será completamente recuperado.
As professoras Maria Luisa Soares (Cuca), coordenadora do curso de Conservação e Restauração, e Graça Lima, do Departamento de Desenho, e docentes do curso de Pintura, ficarão responsáveis pelo projeto, que selecionará entre cinco e dez estudantes da universidade para compor a equipe de restauro. Ziraldo, em reunião com a universidade, afirmou que deseja integrar o grupo, e acompanhar de perto os trabalhos.
De acordo com o diretor da EBA, professor Carlos Terra, o curso de História da Arte também poderá participar em etapa posterior da restauração. Segundo ele, além da visitação, o Laboratório Público de Restauro poderá oferecer cursos e palestras à sociedade.
Histórico e estado do painel
“Eu quero estar na equipe. Vai ser igual a quando a gente pintou. É a maior coisa que já fiz na vida, uma ceia de Da Vinci, pintada à la Picasso”, disse Ziraldo, ao tomar conhecimento do projeto da UFRJ.
O gigantesco painel foi pintado diretamente na parede pelo artista, na então choperia Canecão, em 1967, por indicação de seu irmão, Zélio Pinto. Durante seis meses, ele trabalhou das 9h às 4 da madrugada nos desenhos de traços ímpares, que até hoje caracterizam seu trabalho. Participaram da equipe o cartunista Vagner Tadeu, o arquiteto Manoel Martins, tio de Ziraldo, e a artista plástica Margarida Zobaran.
Com inspiração em personalidades como Picasso, nos traços cubistas, e Portinari, na representação de uma pequena favela, a arte original trazia uma verdadeira Santa Ceia regada a cerveja, os Arcos da Lapa, e até um astronauta.
Durante a ditadura militar, período em que Ziraldo foi preso, a obra foi alvo de críticas e condenada pelo regime, devido ao tom transgressor.
Em 1969, por ocasião do espetáculo Moulin Rouge, tendo em vista aumentar o número de cadeiras da plateia, parte da pintura foi coberta e murada. Nos anos posteriores, a implantação de cozinha e banheiro encarregou-se de murar o resto. Reproduzida em publicações internacionais, a pintura voltou a ser objeto de interesse de restauração em 2001, mas só agora será completamente exposta e receberá tratamento especializado.
“Operação Chão de Estrelas” para acelerar ocupação cultural da área
O Laboratório Público de Restauro é apenas uma das ações da UFRJ para agitar o uso dos espaços culturais da universidade em um dos pontos mais conhecidos da Zona Sul do Rio. O coordenador do Fórum de Ciência e Cultura, professor Carlos Vainer, enumera as ações da UFRJ que serão implementadas este ano, através da Operação Chão de Estrelas, conjunto de ações de curto prazo para o local:
Esquina Carioca de Ciência e Cultura. Reunindo a Casa da Ciência, já em funcionamento, a Editora UFRJ, inaugurada em dezembro do ano passado, e o Espaço UFRJ, a Esquina Carioca pretende se firmar como um dos principais polos de cultura da região, reunindo exposições, palestras, apresentações artísticas, lançamentos de livros, sessões de cinema, entre outros eventos científicos, culturais e acadêmicos.
Concurso de Arquitetura e Urbanismo com o Instituto de Arquitetos do Brasil. A UFRJ prevê para o primeiro semestre de 2015 o lançamento de um concurso público que irá escolher um projeto para o campus da Praia Vermelha. O edital seguirá o Plano Diretor da universidade para 2020 e prevê a renovação do Espaço UFRJ, antigo Canecão, a construção de estacionamento subterrâneo, hotel-escola, e centro de convenções para 3 mil pessoas, e outras instalações.
Ampliação da Casa da Ciência. Com agenda de exposições e sessões de cinema, entre outras atrações, o espaço ganhará um Centro de Articulação e Convivência, voltado para atividades na área de saúde pública e cultura. Terá atividades promovidas pelo Instituto de Psiquiatria da UFRJ (Ipub), em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro e Casa da Ciência.
Café Universitário. Ao lado da Livraria Editora UFRJ, será inaugurado este ano um Café Concerto, que acolherá saraus e pequenos espetáculos.
Rádio Universitária. A Esquina Carioca ganhará também uma rádio universitária, com programação diversa.