Presença feminina é a maioria na iniciação científica, mas se reduz ao longo da carreira acadêmica. Apenas um quarto dos chefes de laboratórios é do sexo feminino.

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Mulheres cientistas, por que ainda são poucas?

Presença feminina é a maioria na iniciação científica, mas se reduz ao longo da carreira acadêmica. Apenas um quarto dos chefes de laboratórios é do sexo feminino.

Por Giovanna Lisbôa

O Efeito Matilda pode explicar muito do desconhecimento em torno das contribuições femininas para a ciência. O conceito elaborado pela pesquisadora da Historia da Ciência Margaret W. Rossiter, em 1993, explica que as descobertas e contribuições científicas feitas por mulheres durante muito tempo foram atribuídas aos homens, sendo a verdadeira autora colocada em segundo plano ou até mesmo apagada por completo. Com as conquistas femininas, essa prática deixou de ser socialmente aceita, porém, mesmo nas ciências, os cargos de chefia ainda são espaços nebulosos onde a presença feminina ainda é rara.

O conceito descrito por Rossiter recebeu esse nome em homenagem à ativista Matilda Joslyn Gage que lutava pelo direito das mulheres no século XIX. Em busca de analisar o campo das ciências e garantir maior espaço para as mulheres, pesquisadoras do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF) organizaram o Simpósio Mulher e Ciência que aconteceu no dia 15 de setembro. Segundo a diretora da IBCCF, Sandra Maria Feliciano de Oliveira e Azevedo, “essa discussão é importante, porque extrapola a área da ciência”. 

Contra qualquer reinvindicação os números não mentem. Segundo o Censo do Ensino Superior de 2012, as mulheres já são a maioria a ingressar na graduação (54,6%), bem como a conclui-la (59,6%). Na produção científica, de acordo com dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a participação dos dois gêneros em números absolutos ocorrem de forma igualitária. A presença feminina é a maioria na iniciação científica, cerca de seis a cada dez bolsistas são mulheres, mas se reduz ao longo da carreira acadêmica. Apenas um quarto dos chefes de laboratórios é do sexo feminino.

No Simpósio foram discutidos diferentes aspectos dessa temática. A pesquisadora convidada  Sophia Huyer, diretora do Gender in Science, Innovation, Tecnology and Enginneering do Canadá, fez uma análise comparativa da participação feminina em diferentes países. Enquanto a professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Hildete Araújo, que também já integrou a Secretaria de Políticas das Mulheres da Presidência da República, trouxe dados do CNPq para debater o cenário brasileiro científico atual.

Para a professora da UFF, “a ciência é branca e masculina”. As mulheres apesar dos avanços enfrentam ainda hoje, segundo ela, muitas dificuldades, pois estão muito ligadas às atividades associadas à maternidade, cuidado dos filhos e da casa, o que ocupa muito tempo diário. Na última Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (Pnad), a média de horas de trabalhos domésticos semanais femininos é de 26 horas, enquanto a dos homens é de apenas 10.

Outra pesquisadora, inclusive responsável pela organização do evento, era a neurocientista do IBCCF Eliane Volchan. A cientista debateu através de diversos experimentos como a forma da construção e apreensão do mundo pelas pessoas influenciam suas decisões. Em uns dos estudos mostrados, o mesmo currículo foi disponibilizado a examinadores somente com o nome trocado, um nome no gênero feminino e outro no masculino. Os currículos com nome de homem tiveram uma aceitação muito maior.

Por fim, a coordenadora do espaço memorial Carlos Chaga Filho, Daniele Botaro, apresentou os dados históricos das mulheres no instituto. O trabalho feito pela aluna Gabriela Lúcio demostrou que 65% de toda a ciência produzida no IBCCF são feitas por mulheres, ainda assim elas são a minoria nos postos de chefia.