Inundações, escassez de água e de alimentos provocadas pelas mudanças do clima provocarão aumento no deslocamento de populações e acirrarão conflitos entre países.

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Mudanças climáticas acirrarão conflitos entre países

Inundações, escassez de água e de alimentos provocadas pelas mudanças do clima provocarão aumento no deslocamento de populações e acirrarão conflitos entre países.

Inundações, escassez de água e de alimentos provocadas pelas mudanças do clima provocarão aumento no deslocamento de populações e acirrarão conflitos entre países. Essas são algumas das conclusões abordadas no relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), divulgado dia 31 de março, na cidade de Yokohama, no Japão. O relatório do Grupo 2, que trata dos impactos e vulnerabilidades da mudança do clima, dedica um capítulo inteiro à relação entre clima e segurança.

"A alteração no ambiente aumentará o fosso entre nações. Fugindo da seca e/ou de inundações, populações inteiras, com muito pouco a perder, se transformarão em refugiados climáticos. Eles serão recebidos com hostilidade, principalmente nos países mais ricos, que em sua maioria já sofre com o aumento da densidade demográfica nas cidades", afirma a professora da Coppe, Suzana Kahn Ribeiro, vice-presidente do IPCC.

O documento, que reúne estudos realizados nos últimos três anos por especialistas de todo o mundo, conta com a colaboração de dois pesquisadores da Coppe: a professora Suzana Kahn Ribeiro, do Programa de Engenharia de Transporte da Coppe e vice-presidente do IPCC, que participou da revisão dos textos, e Carolina Dubeux, pesquisadora do Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (CentroClima) da Coppe, uma das autoras do trabalho, que faz parte do V Relatório de Avaliação do IPCC.

Segundo o relatório do IPCC, se até o fim do século XXI a temperatura global aumentar além de 2 graus Celsius o homem poderá perder o controle sobre os fenômenos naturais. Já há quem acredite que os termômetros podem subir 4 graus Celsius até 2100, aumentando a incidência de eventos climáticos extremos como tempestades mais intensas e frequentes em alguns pontos do planeta e estiagens mais prolongadas em outros locais. "Esses eventos trarão consequências diretas para a vida e a atividade econômica", afirmou Carolina Dubeux.

As alterações no regime de chuvas, por exemplo, terão reflexo nos setores de energia e agricultura. “Como ambos são setores importantes para o Brasil, a mudança pode trazer sérios prejuízos ao país, que tem nas usinas hidrelétricas sua principal fonte de energia", adverte Suzana Kahn.

A agricultura será um setor bastante afetado em termos globais, já que 70% das plantações do mundo são irrigadas pela chuva. O mesmo acontecerá com a pesca, em função da acidificação dos oceanos, que afetará 1,5 bilhão de pessoas. Há estimativas de que 20% da proteína animal consumidas no mundo venham do oceano.
A desertificação da África deverá aumentar o deslocamento de pessoas em direção à Europa. Em um mundo com cada vez menos água potável e menos alimentos nos pratos, sobrará às populações mais afetadas pelas mudanças climáticas a alternativa de migrar para outras regiões em busca de sobrevivência. Esses deslocamentos vão desencadear conflitos, como os já registrados em países da Europa, às voltas com migrantes clandestinos vindos da África. “Esse é um dos principais motivos de a Europa dar atenção às questões relacionadas às mudanças climáticas. Há o receio quanto à volta das ex-colônias”, explica.

“As questões climáticas ampliam questões que já são sensíveis”, afirma Suzana Kahn. Segundo ela, as alterações no clima vão sacrificar mais as pessoas mais pobres, acentuando as diferenças sociais entre a população mais pobre e os mais ricos. As áreas mais afetadas são aquelas onde estão as pessoas com menor capacidade de reagir a esses problemas. De acordo com a professora da Coppe, o mesmo vai acontecer entre os países. A distância entre as nações mais ricas e as mais pobres também aumentará.
O Brasil, assim como outras áreas da América do Sul, terá problemas tanto com a estiagem como com o aumento das chuvas. Estudos indicam uma maior possibilidade de enchentes no norte da América do Sul, como já vem ocorrendo no norte do Brasil. Já o Nordeste deverá sofrer com a falta de chuva, o que acentuará as dificuldades da região com a seca.

De acordo com o novo relatório divulgado pelo IPCC, ao longo do século XXI as mudanças climáticas prejudicarão safras de diversos produtos no Brasil, como milho, soja, trigo e arroz. O documento cita um estudo realizado por um conjunto de instituições de pesquisa brasileiras, lançado em 2009, segundo o qual as chuvas podem diminuir até 2,5mm por dia até o ano 2100 no Nordeste. A alteração resultará em perdas agrícolas em todos os estados da região. O déficit hídrico também trará prejuízos para a pecuária. Está prevista redução de 25% na capacidade de pastoreiro dos bovinos de corte.
— O Brasil perderá entre R$ 719 bilhões e R$ 3,6 trilhões em 2050, se nada fizer. Enfrentaremos perda agrícola e precisaremos de mais recursos para o setor hidrelétrico — afirma a pesquisadora Carolina Dubeux, do Centro Clima da Coppe, que é coautora do relatório do Grupo de Trabalho 2 do IPCC.

O país também enfrentará dificuldades na pesca, uma vez que cardumes migrarão da zona tropical para regiões de alta latitude.As áreas costeiras também serão bastante afetadas e exigirão obras de adaptação, afirma o professor Paulo César Rosman, do Programa de Engenharia Oceânica da Coppe. Principalmente em países como o Brasil que concentram grande parte da população nessas regiões.

Para o professor da Coppe, é preciso implementar ações nos locais mais afetados, como as áreas de baixada da região metropolitana do Rio de Janeiro. “Os maiores projetos devem ser em áreas de baixada, como Sepetiba e os fundos da Baía de Guanabara. São regiões que inundam constantemente, quando há fortes chuvas”, explica.

Paulo Cesar Rosman defende, também, a remoção dos moradores dos locais mais críticos para outras áreas. “Ninguém pode morar nestes locais. Bairros inteiros devem ser removidos. Precisamos de um plano habitacional que dê infraestrutura decente para que estas pessoas possam morar em uma outra área. Se isso for feito corretamente, podemos ter resultados significativos em até dez anos”, conclui.

Suzana Kahn Ribeiro lembra, entretanto, que a questão do risco, tema do relatório do Grupo de Trabalho 2, tem dois elementos fundamentais: a probabilidade de determinados eventos acontecerem e as suas consequências. “Há incertezas nos dois níveis e, por isso, a questão de risco é muito complexa”, afirmou a professora da Coppe.

Em abril, o IPCC divulga em Berlin o relatório do Grupo de Trabalho 3, voltado ao custo da mitigação das emissões de gases de efeito estufa. O documento também tem professores e pesquisadores da Coppe/UFRJ entre seus autores e revisores.

 

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