A BG Brasil e a Coppe-UFRJ assinaram dois contratos no valor total de R$ 35 milhões visando ao desenvolvimento de tecnologias para otimizar a recuperação de óleo em poços maduros, incluindo os localizados nas áreas do pré-sal e em águas profundas, e à formação de profissionais. O principal ponto do acordo será a implantação do Laboratório de Recuperação Avançada de Petróleo (L-RAP) na Coppe, que contará com equipamentos de última geração. A iniciativa envolve também um intercâmbio com a Universidade Heriot-Watt, na Escócia, referência mundial nessa área.
A recuperação avançada do óleo – extração do óleo nos poços cuja produção já se encontra em declínio – é uma atividade de extrema importância para as empresas do setor de petróleo, pois envolve cifras consideráveis. Só para se ter uma ideia, uma estimativa divulgada recentemente pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) aponta que apenas no Campo de Libra, na área do pré-sal, será possível recuperar entre 8 bilhões e 14 bilhões de barris de óleo, ainda sem a utilização da tecnologia de recuperação avançada de petróleo. Considerando a cotação de US$ 100 o barril, o processo pode envolver valores entre US$ 800 bilhões e US$ 1,4 trilhão.
Os números são, por si sós, um estímulo ao desenvolvimento de novas tecnologias para ampliar o fator de recuperação dos poços, que oscila entre 20% e 50% do volume, chegando a 60% em alguns casos. De acordo com o coordenador do projeto de implantação do L-RAP, professor Paulo Couto, do Programa de Engenharia Civil da Coppe, se as pesquisas a serem realizadas no novo laboratório conseguirem elevar em apenas 1% o volume de recuperação avançada (uma projeção bem conservadora), o acréscimo seria de 80 milhões de barris, o que equivale a uma receita adicional de US$ 8 bilhões, usando como base a estimativa mínima feita para o Campo de Libra. “Otimizar a recuperação avançada é, sem dúvida, um grande desafio”, afirma Paulo Couto.
O primeiro contrato entre a Coppe e a BG Brasil, no valor de R$ 29 milhões, é destinado à criação do Laboratório de Recuperação Avançada de Petróleo (L-RAP), que será implantado dentro do Núcleo Interdisciplinar de Dinâmica dos Fluidos (NIDF), da Coppe, no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Cidade Universitária. Será o primeiro de uma rede de laboratórios que a BG pretende instalar em diferentes estados brasileiros.
O L-RAP contará com uma série de equipamentos, que serão produzidos na Escócia sob medida para atender às especificidades do projeto. O novo laboratório, que ficará vinculado ao Programa de Engenharia Civil da Coppe, ocupará uma área de 150 metros quadrados dentro do Laboratório de Tecnologia e Engenharia de Poços (LTEP), que integra a estrutura do NIDF, inaugurado oficialmente em 27 de março de 2013.
Serão investidos cerca de R$ 15 milhões para equipar o novo laboratório, que contará com instrumentos como scanners de raio X, estufas para testes de amostras de rochas e medidores de tensão interfaciais, entre outros. “Os equipamentos nos permitirão realizar ensaios desde a escala de poros das rochas até a escala de campo real”, explica o professor.
A formação de recursos humanos é o objeto do segundo contrato firmado com a BG Brasil. O acordo envolve o envio de quatro alunos de doutorado e dois pesquisadores de pós-doutorado por ano para a Universidade Heriot-Watt, em Edimburgo, capital da Escócia, por meio do programa Ciência Sem Fronteiras, do Governo Federal. A BG, que vai investir R$ 6 milhões no projeto, complementará o valor pago aos participantes por meio de bolsas de estudos internacionais.
“Não adiantaria fazer um investimento dessa magnitude para implantar o Laboratório de Recuperação Avançada de Petróleo e equipá-lo com o que há de mais moderno se não for feito também um investimento na formação dos pesquisadores”, afirmou Paulo Couto. Na fase de implantação, o L-RAP deverá contar com uma equipe formada por quatro engenheiros.
O processo de implantação do Laboratório de Recuperação Avançada de Petróleo começou em janeiro de 2014 e se estenderá por 24 meses. Segundo Couto, as atividades do laboratório L-RAP serão iniciadas gradualmente à medida que os equipamentos começarem a ser instalados.
A recuperação avançada é a última etapa da extração de petróleo e se inicia quando a produção do poço entra em declínio. Na primeira fase, chamada de produção primária, o óleo é extraído do poço impulsionado pela própria pressão existente no interior do reservatório. Com a diminuição dessa pressão, é iniciada a fase de produção secundária, quando a injeção de algum tipo de fluido é utilizada para estimular o escoamento do óleo. Já o processo de recuperação avançada de petróleo, também chamado de produção terciária, é caracterizado pela injeção de água com salinidade controlada, dióxido de carbono (CO2) ou nanofluidos para auxiliar na retirada do óleo.