A abertura do evento homenageou a professora Cleonice Berardinelli, membra efetiva da Academia Brasileira de Letras (ABL) e orientadora de mais de 100 teses de mestrado e doutorado. Especialista em Camões, Fernando Pessoa e Gil Vicente, a acadêmica detém o título de professora emérita pela UFRJ desde 1987.
Com o tema “Línguas, literaturas, diálogos”, o congresso promoveu, por meio de palestras e minicursos, o diálogo entre pesquisadores, escritores e estudantes acerca de questões importantes na área de letras.
O evento recebeu ilustres convidados, com destaque para Mia Couto. Laureado com o Prêmio Camões de 2013 por Terra Sonâmbula e autor de 13 romances, o escritor participou de uma conferência, das 10h às 11h30, realizada no Salão Azul do prédio da Reitoria, no último dia do Cifale. O moçambicano construiu o seu discurso a partir da fronteira entre oralidade e escrita.
Ao longo da conferência de Couto, houve espaço para digressões, especialmente sobre a nostalgia da infância, época evocada com carinho pelo escritor.
Na infância, Mia Couto tinha certa dificuldade de ler livros, porque as vozes o atrapalhavam. “Havia quase uma presença corpórea das vozes enquanto lia os livros. Eu precisava me concentrar e reler o mesmo trecho várias vezes”, explicou.
Em relação ao Brasil, o escritor revela afinidade pelo país. “As pessoas, no Brasil, conversam com você na rua como se fosse um conhecido, alguém da família”, afirma. Além disso, mencionou a influência de João Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade no estilo da sua escrita.
Ele também ressaltou que, a seu ver, os brasileiros ainda desconhecem a África, porque, ao descobrirem que ele é de Moçambique, costumam se surpreender com sua cor branca. Na visão do autor, esse estereótipo deveria ser desconstruído.
Por fim, Mia Couto contou que a África o motivou, de certa forma, a se tornar escritor. “Todos na África são contadores de histórias, elemento intrínseco da cultura africana. É quase impossível viver nesse meio e não se tornar escritor”, completou.