Bianca Pinheiro
Na manhã da última terça-feira (27/8), aconteceu, no Auditório do Roxinho, no do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN), a abertura do Seminário de Integração dos Técnicos-Administrativos em Educação (Sintae), que vai até esta sexta-feira (30/8).
Esta é a primeira edição do evento, cujo principal objetivo é unificar o debate de questões relativas aos servidores técnico-administrativos e à integração da categoria com o conjunto da universidade. O tema principal da abertura foi “Gestão Pública e Universidade”.
Ampla participação
O seminário foi aberto pelo superintendente de Pessoal da UFRJ, Agnaldo Fernandes, que iniciou seu discurso fazendo agradecimentos aos órgãos e pessoas que colaboraram para a realização do Sintae.
Segundo ele, a ideia de promover um seminário de integração foi de Roberto Gambine, pró-reitor de Pessoal da UFRJ. A partir daí, o evento começou a ser organizado em janeiro deste ano, com o auxílio de diversos setores da universidade.
Agnaldo ressaltou que a resposta da categoria foi, também, de extrema relevância para o Sintae, que já considera um sucesso devido à grande quantidade de servidores inscritos – quase 500 – e trabalhos aprovados – 100, de autores de diversas unidades da UFRJ.
Integração e transparência
Participaram da mesa de abertura do seminário: Aracéli Cristina, pró-reitora de Gestão e Governança; Pablo Cesar Benetti, pró-reitor de Extensão; Roberto Gambine, pró-reitor de Pessoal; e Carlos Vainer, coordenador do Fórum de Ciência e Cultura.
Aracéli Cristina falou sobre a sua concepção de governança: um governo partilhado. A pró-reitora considera que uma gestão integrada é naturalmente transparente, e que essa transparência ainda precisa ser bastante ampliada na UFRJ. Os trabalhos apresentados ao longo do seminário, segundo ela, ajudarão a universidade a conquistar tais objetivos, pois propõem ações integradas capazes de ir além do ambiente teórico e alcançar o terreno prático.
Para Pablo Benetti, o seminário visa acabar com a divisão dos servidores técnico-administrativos e docentes em “castas”, uma segregação prejudicial. O pró-reitor de Extensão acredita que a participação dos servidores nas atividades de extensão da universidade é importante para que a UFRJ ganhe mais força.
Já Roberto Gambine apontou três dimensões no Sintae: a de pessoas, cuja resposta positiva foi expressa pelas inscrições de servidores; a de trabalhos dos funcionários técnico-administrativos que serão apresentados; e a institucional.
Ao comentar a dimensão institucional, o pró-reitor de Pessoal frisou que há o questionamento do modelo de organização da universidade por instâncias externas. Gambine acredita que os órgãos de controle não compreendem que a UFRJ é uma instituição de ensino superior pública, e não está submetida à lógica mercantil. Para ele, há uma tentativa de colocar a universidade pública como subserviente ao mercado.
Gestão Pública
Aracéli Cristina disse que a UFRJ está passando por um momento complicado devido à forma como a mídia e os órgãos de controle externo veem o servidor público.
Segundo ela, a eficiência da gestão pública tem sido questionada por esses personagens porque ambos enquadram a instituição pública na lógica burocrática do mercado.
Para a pró-reitora, os órgãos de controle externo são importantes, mas o seu controle é retrógrado à medida que desconsidera que a agilidade das ações da universidade também depende de fatores externos.
Aracéli defende que a universidade, para se desenvolver, deve se posicionar frente aos órgãos de controle e propor ao governo uma mudança de gestão, que, mais do que alteração de procedimentos, é uma transformação de cultura.
Carlos Vainer, coordenador do Fórum de Ciência e Cultura, em sua exposição, disse que a ideia de que as instituições públicas fracassam e, portanto, devem ser substituídas pelas empresas privadas é uma falácia, pois a iniciativa privada também vai à falência e nela há corrupção.
Segundo ele, uma gestão pública deve ser gerida por elementos éticos e morais distintos da iniciativa privada, dominada pela busca do lucro e pelo autoritarismo despótico do capital. Para explicar a afirmação, deu o exemplo de um hospital público e um privado. Segundo ele, o hospital privado vai focar em pesquisas de doenças que necessitem de grande aparato tecnológico, em vez de se preocupar com os males que afetam em maior proporção a sociedade.
Para Vainer, a universidade pública deve estar a serviço da sociedade e, portanto, controlada pelo social. No entanto, ainda é um desafio fazer com que a instituição pública de educação superior seja transparente. Ele destacou que é responsabilidade de todo o corpo social da UFRJ – inclusive dos estudantes – trabalhar para que a transparência seja alcançada e a universidade seja um lugar realmente público.
Papel social
Roberto Gambine começou a sua participação no debate com a pergunta: “Estamos convencidos de que organizações públicas devem fazer parte da estrutura da sociedade?” Para ele, a resposta é claramente afirmativa, pois uma sociedade exclusivamente gerida pelo capital não resolve os problemas; pelo contrário, intensifica-os.
O pró-reitor de Pessoal considera que a universidade pública é uma das estruturas mais vitais na sociedade, uma vez que está comprometida em mudá-la para melhor, mesmo que por meio de ações dispendiosas e que não deem lucro.
Para ele, a universidade deve reconhecer e refletir os seus problemas, mas não ficar calada diante das acusações de ineficiência que a ela são dirigidas. Dessa maneira, e com a sociedade como aliada, a instituição de ensino pública pode ser capaz de atender ao que dela se espera.