A base para o desenvolvimento da iniciativa teve origem quando Adauto Cardoso participou de um concurso, cujo objetivo era preparar um projeto de urbanização para a favela da Rocinha. “Primeiro participamos desse concurso. Foi quando tivemos contato com a equipe chefiada pelo Toledo, que também já foi professor da UFRJ. A proposta era construir novas alternativas habitacionais para diminuir a densidade de alguns trechos da favela e garantir que a população não precisasse ser reassentada em outro lugar. Além disso, a Rocinha tem um dos maiores índices de tuberculose do mundo, então, o intuito do projeto seria contribuir também para a diminuição desses indicadores da doença”, conta o arquiteto.
Novos modelos
Segundo Adauto Cardoso, os pesquisadores chegaram a um ponto avançado das diversas alternativas de soluções das novas tipologias habitacionais, que, inclusive, já foram apresentadas para o Ministério das Cidades.
Sobre o projeto ser usado como parâmetro para o Minha Casa, Minha Vida, o professor foi categórico ao afirmar que o HIS não condiz com a realidade do programa do governo federal: “O Minha Casa, Minha Vida não aceita nada que tenha inovação. Inclusive, uma rede nacional de pesquisadores está desenvolvendo uma pesquisa para avaliar o programa e tentar fazer sugestões de aprimoramento. É um modelo muito fechado, e até as construtoras que, eventualmente, queiram fazer algo diferente não têm campo para isso. E a maioria também não quer fazer, quer o mais barato e a solução convencional”, afirma.
De acordo com o professor, está sendo desenvolvido o detalhamento do projeto para se ter uma leitura melhor de custos e saber quais soluções estruturais e de instalações serão feitas para chegar a um nível de projeto básico. Também estão sendo estudadas as normas da Caixa para descobrir o que poderia se tornar um obstáculo que impeça a aprovação do financiamento do projeto, além de descobrir que tipos de mudanças de normas poderiam ser feitas para adaptar essas soluções.
Outro objetivo almejado pelos pesquisadores é encontrar uma construtora que esteja interessada em fazer uma experiência modelo, esforço apoiado pelo Ministério das Cidades. Existe o interesse de construir essa solução e desenvolver na prática esse projeto que está sendo realizado no campo teórico.
Custos
Para Adauto, o problema do orçamento é complicado, pois o projeto combina custos de urbanização e de construção de unidade, enquanto nos processos tradicionais de planejamento, licitação e financiamento de obra esses custos são separados. A Caixa, quando avalia o empreendimento, não considera que está diluído no valor da iniciativa o custo de urbanização, só é considerado o custo de construção de unidade habitacional.
A ideia principal é reduzir o custo construtivo para criar alternativas de qualidade habitacional em termos de projeto: mais espaço, apartamentos maiores, combinando áreas comerciais com áreas residenciais. “Esses conjuntos novos do Minha Casa, Minha Vida são construídos em locais muito distantes que não têm um comércio local. São criados polos residenciais enormes e não se tem oferta de pequenos comércios como uma lotérica, por exemplo”, ressalta o professor.
Ao comentar sobre os prédios demolidos do Minha Casa, Minha Vida, o professor afirmou que existem informações muito evidentes de graves problemas construtivos nesses novos empreendimentos do programa. “Não é responsabilidade da prefeitura controlar qualidade de construção. Seu papel é inspecionar se o que é construído está de acordo com o projeto. Se a estrutura não está calculada direito, isso é de responsabilidade do construtor. Ele tem que responder por isso, mas não tem um órgão de fiscalização”, afirma Adauto.