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Memória

Homenagem ao professor Roberto Segre

Professor da FAU morreu no último domingo (10/3). Corpo será velado na quarta-feira, no Palácio Universitário da UFRJ.

É com pesar que a UFRJ comunica o falecimento do professor titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Roberto Segre, ocorrido no último domingo (10/3). O corpo será velado na quarta-feira (13/3), das 9h às 17h, no Palácio Universitário da UFRJ (Avenida Pasteur, 250 – Praia Vermelha – Rio de Janeiro).

Confira, abaixo, texto do professor Pablo Benetti, pró-reitor de Extensão da UFRJ e ex-diretor da FAU, em homenagem a Roberto Segre.

Roberto Segre

Ítalo, argentino, cubano e brasileiro, Roberto Segre foi um condensado das lutas, esperanças e injustiças de nosso século. Nascido na Itália, sua família fugiu do nazismo e passou a viver na Argentina. Formado em Arquitetura em Buenos Aires, a maré revolucionária cubana o levou, em 1963, para a ilha, onde construiu uma sólida carreira universitária. Seu olhar foi moldado pela visão de uma América Latina única, grande e solidária, e sua contribuição teórica sempre teve este norte. Poucos detêm o conhecimento da arquitetura latino-americana que Segre detinha e plasma em obras que – embora contemporâneas – já nasceram clássicas e leituras obrigatórias. Sua obra América Latina Fim de Milênio é uma referência deste pensamento.  

Sua constante atividade de crítico de arquitetura lhe rendeu o convite para vir ao Brasil em 1994. Sua quarta pátria se soma às anteriores, Itália, Argentina e Cuba, que nunca abandonou e amava com carinho. Segre era cidadão do mundo, era de todas elas e acima delas. Quando perguntado, respondia que era ítalo-argentino-cubano-brasileiro, numa soma infinita dos lugares, lembranças e memórias que forjaram sua personalidade.

Em terras brasileiras, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, através da sua Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, teve o enorme privilégio de contar com suas aulas na graduação e na pós-graduação. Professor titular concursado, prestava ao cargo seu prestígio e valorizava, com sua prática, a categoria de titular. Seu curso de Arquitetura Latino-americana fazia enorme e justificado sucesso.

De uma vitalidade e entusiasmo ímpar, Segre conseguiu, em pouco tempo, ser reconhecido como pesquisador do CNPQ. Em volta dele, jovens arquitetos, certamente nascidos longe das guerras e revoluções que ele viveu, encontraram no mestre uma referência segura. Sua pesquisa sobre o Palácio Gustavo Capanema deve produzir em breve uma das maiores e mais consistentes análises. Esse monumento fundacional da arquitetura moderna brasileira terá no livro a ser publicado um registro ímpar.

Inquieto e antenado, Bob, como gostava de ser chamado, procurava em sua pesquisa no Brasil utilizar as mais recentes ferramentas de computação. Isso o aproximava de jovens arquitetos e alunos da faculdade que, encantados com seu conhecimento e curiosidade, criaram um dos grupos de pesquisa mais vitais do Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo FAU – UFRJ.

Precocemente aposentado aos 70 anos, por força de uma lei ignorante, e ainda tendo muito a contribuir, foi recontratado como professor visitante. Afinal, quem seria capaz de deixar de fora tamanho talento e conhecimento? Nesse último domingo, durante sua caminhada matinal, foi surpreendido por uma moto, que o atropelou, causando–lhe a morte. Arquitetos, sonhadores, professores, alunos, colegas do mundo inteiro que o conheceram pessoalmente ou pelos seus livros e palestras estão de luto.  A todos aqueles que tiveram a sorte e o privilégio de trabalhar junto com ele ficará a lembrança sempre presente de um inquieto pesquisador, fonte inesgotável de consultas e, acima de tudo, um velho camarada. Adeus.