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Jornada de Controle do Tabagismo e Promoção da Saúde

O auditório da biblioteca do Centro de Ciências da Saúde (CCS) recebeu, na última quinta-feira, 13 de setembro, a "4ª Jornada de Controle do Tabagismo e Promoção da Saúde", realizada pela Coordenação de Biossegurança do CCS.

A abertura do evento teve início às 9h e contou com as presenças do reitor da UFRJ, Carlos Levi, e da decana do CCS, Maria Fernanda. Levi afirmou que considera "uma obrigação do reitor apoiar esse tipo de iniciativa, especialmente quando se trata de questões de saúde". Maria Fernanda destacou a importância do tema "não só para cumprir a lei, mas por questão de saúde" e chamou a professora Sônia Soares Costa para coordenar a mesa-redonda "Drogas: um barato que sai caro". Sônia Costa lembrou que o evento ocorre anualmente desde 2009, quando ficou proibido fumar no CCS, e afirmou: "Esta deveria ser uma jornada de toda a UFRJ, o sonho é que não se fume em todas as instalações da universidade".

Para apresentar a conferência "Tabagismo para Fumantes e Não Fumantes", foi convidado o diretor da clínica Pararfumar, doutor Marcel Coloma. Ele afirmou que "o tabagismo é uma doença, mas a população e até os profissionais de saúde costumam tratar a questão com preconceito".  Ele também apresentou dados brasileiros e mundiais sobre a incidência da "maior epidemia da história da humanidade". Segundo os dados, a maioria dos tabagistas é composta por homens, mas, no Brasil, a incidência entre eles está diminuindo, enquanto o percentual de mulheres fumantes se mantém estável nos últimos anos. Coloma disse, ainda, que o Brasil possui mais ex-fumantes que fumantes, mas o número de mortes causadas pelo tabagismo, ativo e passivo, é maior do que a soma dos índices de mortes causadas pelo uso de álcool e outras drogas, por incêndios, por homicídios e por suicídios.

Coloma explicou que dentre as quase 5 mil substâncias presentes no cigarro, o que causa o vício é uma substância que, por si só, não é tóxica ao corpo humano, mas faz com que o cérebro libere dopamina, fazendo do ato de fumar uma sensação de prazer: a nicotina. Por isso que "um tratamento para parar de fumar é dar nicotina ao paciente, para que ele suporte a abstinência do cigarro no começo". Ao comentar rapidamente sobre as doenças relcionadas ao fumo, o convidado lembrou que não adianta tentar convencer alguém a parar de fumar apenas devido aos grandes males que o fumante pode vir a ter, mas é bom conversar com a pessoa sobre a relação dos problemas que ela enfrenta no dia a dia com o fumo: gengivite, dificuldade de cicatrização, complicações pós-operatórias, tosse crônica, impotência sexual, gastrite, mau aspecto da pele, entre outros.

Outro argumento que o Marcel Coloma considera eficiente para fazer alguém buscar o tratamento a fim de parar de fumar é a questão econômica. Ele citou o exemplo de quem fuma um maço de cigarro por dia, que custa cerca de 5 reais, o que levaria a um gasto de 1.800 reais por ano. Seguindo essa lógica, o doutor acha recomendável que, durante o tratamento, o paciente separe o dinheiro que seria usado para comprar os cigarros, como forma de estímulo. Coloma elogiou ainda a nova lei federal antifumo, que deu fim aos fumódromos, restringiu ainda mais a propaganda, decretou o aumento progressivo do preço do cigarro  e restringiu os aditivos, responsáveis por tornar o fumo mais prazeroso para quem está iniciando. Segundo o palestrante, as empresas tabagistas apresentam um argumento que exprime a falsa preocupação, mas que só defende seus próprios interesses, com a possibilidade de surgir um mercado paralelo de cigarros oferecidos a preços mais baixos como consequência do progressivo aumento do preço do cigarro.

A professora do Instituto de Psiquiatria da UFRJ Magda Vaissman foi convidada a apresentar o tema "Álcool  e Trabalho". Vaissman apresentou dados de sua pesquisa sobre a psicopatologia do trabalho, mostrando a incidência de transtornos mentais nos trabalhadores e o quanto isso influencia em afastamentos, aposentadorias, licenças médicas e acidentes de trabalho. Segundo os dados da pesquisa, a quantidade de auxílios-doença relacionados ao uso de drogas no Brasil vem aumentando nos últimos anos, sendo que a participação do álcool nessa estatística caiu, enquanto o percentual de cocaína e outras drogas subiu. Ao observar os fatores que levam o trabalhador em regime de confinamento, como ocorre nas plataformas de exploração de petróleo, ao abuso de álcool e de outras drogas, a professora concluiu que a tensão pré e pós-embarque, a fadiga, a situação de risco e o confinamento em si são os maiores responsáveis. Vaissman concluiu sua apresentação dizendo que "as políticas em relação à saúde mental e ao abuso de álcool devem ser feitas sob medida para cada empresa e envolver os próprios funcionários, pois o rigor do combate ao abuso do álcool no trabalho depende do risco envolvendo as pessoas a quem as políticas se destinam".

O professor Francisco Inacio Bastos, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica (ICICT/Fiocruz), falou sobre o panorama atual do consumo de drogas no Brasil. Bastos ressaltou que o mercado de drogas não se limita apenas às substâncias ilícitas e mencionou o uso psicoativo de substâncias lícitas, como o lança-perfume, a cola de sapateiro, a anfetamina cristalizada, a sebutramina, entre outras. O professor afirmou que as mudanças no mercado de cocaína dificultaram o rastreamento por parte do poder público, pois o consumo da droga deixou de ser na forma de pó ou injetada, passando para a produção de crack, mais barato e com absorção mais rápida e eficiente para o usuário. Diferentemente da cocaína, "a produção de crack é varejista, não está ligada a refinarias de grande porte". O professor ainda comentou as estatísticas sobre o tratamento e a diminuição do uso de drogas no Brasil, que "só apresentam bons resultados com o tabaco".

Durante a apresentação do último tema da manhã, "Políticas Públicas sobre Drogas: do que estamos falando?", o professor José Mauro, do Centro de Estudos de Prevenção e Reabilitação do Alcoolismo do Hospital Escola São Francisco de Assis (Cepral/Hesfa-UFRJ), afirmou que "a universidade deve enfrentar o problema das drogas de forma acadêmica, com pesquisa, extensão e disciplinas de graduação sobre o tema, e não só pontual. O professor criticou os programas governamentais de combate às drogas: "Não são feitos junto com as universidades, acontecem mais por pressão da mídia, que não entende do assunto, e, por isso, não apresentam bons resultados". José Mauro enumerou três eixos fundamentais do enfrentamento às drogas: redução da demanda, através de prevenção, informação, educação e promoção da saúde; redução da oferta, mediante fiscalização e repressão ao tráfico; e redução de danos, através do tratamento para recuperação dos usuários. O professor citou, ainda, a cerveja como um grande problema no Brasil, sugeriu a proibição das propagandas e elogiou a Lei Seca, alertando, no entanto, para a possibilidade de ela ser alvo de ação direta de inconstitucionalidade.