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Curso sobre movimentos sociais recebe o professor João Batista de Araújo, o Babá

Desde o dia 4 de abril, o Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos (Nepp−DH) da UFRJ realiza o curso de extensão “História dos movimentos sociais no Brasil, do século XIX aos nossos dias”. Com a coordenação dos professores Vantuil Pereira e Mariléia Porfírio, a série de palestras reúne diversos especialistas no assunto. No último dia 9, o auditório do Nepp−DH recebeu João Batista de Oliveira de Araújo, mestre em Planejamento Urbano e Regional pela UFRJ e ex-deputado federal pelo PSOL-PA.  Graduado em Engenharia Mecânica, Babá, como também é conhecido, falou sobre a luta operária no período entre a década de 1980 até os tempos atuais.

A aula se iniciou com uma breve apresentação do panorama político da época em que as forças sindicais começaram a se organizar mais efetivamente: no período ditatorial. “O fenômeno da ascensão operária ao poder na década de 1980 consistiu numa mudança efetiva na esfera pública brasileira”, disse o professor. “Mesmo na Era Vargas, só as elites e a burguesia se organizavam no poder”, completou. A partir daí, Babá expôs a formação e o fortalecimento dos sindicatos – principalmente os de metalúrgicos em São Paulo, que deu origem ao Partido dos Trabalhadores (PT), o qual ele ajudou a fundar no estado do Pará.

O professor detalhou a história de uma série de greves do operariado, que se iniciaram em 1968, em Minas Gerais, e desde então encorajam grupos cada vez maiores de trabalhadores de São Paulo e do resto do país a cruzarem os braços para reivindicar seus direitos. De acordo com o docente, embora muitas delas tenham atingido seus objetivos, sempre houve repressão, tanto por parte dos militares quanto por parte dos tribunais que consideravam o movimento grevista ilegal. Outro aspecto analisado pelo professor foi o papel da imprensa, que, segundo ele, “fazia uma imagem negativa do movimento”. Além disso, Araújo atribuiu a situação do momento a um reflexo inegável da luta de classes.

O professor citou a importância de outros movimentos considerados contraventores, como o Movimento dos Sem-Terra (MST), com comentários sobre o Massacre de Eldorado dos Carajás e a crítica às oligarquias locais, a quem atribuiu a culpa pelo processo que resultou em assassinatos. Araújo valorizou também o movimento estudantil, ao contar sobre a formação e o crescimento do PT, e depois da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Contudo, o docente criticou a mudança de objetivos dessas e de outras entidades, que, segundo ele, começaram a crescer, criar alianças com outros órgãos e ter novos interesses diferentes daqueles que guiavam a luta social.

A análise crítica do processo histórico se estendeu para o plano econômico, com dados estatísticos desde os tempos da ditadura, passando pelos governos de Fernando Henrique e Lula. De acordo com o ex-deputado, a luta operária se enfraqueceu com a política neoliberal – marcada por implicações como redução da classe trabalhadora e também pela alta arrecadação de imposto sindical pelas centrais sindicais. As lutas passaram a ter objetivos mais específicos e particulares de cada grupo, não mais da classe como um todo. Araújo comentou ainda  a recessão econômica atual. A crise econômica mundial é, segundo ele, uma consequência da ganância aplicada pelos países ricos  naqueles menos industrializados, sob a forma do neoliberalismo. “Agora a crise está acontecendo nos países que surrupiaram da gente”, apontou.

Outro ponto indicado como enfraquecedor do movimento é o dinheiro privado nas campanhas eleitorais, o que acaba por restringir os partidos a interesses particulares e aumenta em seus dirigentes o “gosto pelo poder” – aspecto que destacou ao criticar o acúmulo de salários de políticos nomeados para altos cargos nas estatais. Na opinião do professor, as ONGs também são prejudiciais por articularem interesses de corporações e agirem em nichos onde o Estado não chega, o que pode dissuadir os movimentos.

Após o debate, a questão deixada para a reflexão sobre os movimentos sociais na atualidade deixa claro seu enfraquecimento: “Onde foi parar o que conquistamos? Lutamos para o operariado chegar ao poder, porém o PT ampliou seu arco de alianças e o que aconteceu aqui aconteceu também na China e na Rússia: instaurou-se uma burocracia, e nela seus representantes descobriram os prazeres do poder”, analisou Araújo. Porém, o professor demonstrou esperança na luta ao defender novamente o ativismo estudantil, e, apesar de todas as críticas, o MST: “este, embora tenha sido abandonado por muitos dirigentes que se tornaram parlamentares com alto padrão de vida, ainda é um dos poucos de esquerda que conservam os mesmos ideais e objetivos”, finalizou.