Autor de mais de 20 filmes, único cineasta eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL), premiado em Cannes, Havana, Brasília, Gramado e alhures, fundador dos cursos de graduação de Cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade de Brasília (UnB), além de padrinho da Escola de Cinema do Colégio de Aplicação (CAp) da UFRJ, Nelson Pereira dos Santos teria motivos suficientes para considerar que não havia mais nada a conquistar na vida, do alto de seus 84 anos. No entanto, por iniciativa da professora Adriana Fresquet, da Faculdade de Educação (FE) da UFRJ, o principal cineasta brasileiro vivo recebeu, na última segunda (12/3), o título de doutor honoris causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A sessão solene do Conselho Universitário (Consuni) foi realizada no Salão Pedro Calmon, no Palácio Universitário da Praia Vermelha, e contou com a presença do reitor, Carlos Levi, de Marcelo Correa e Castro, decano do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), Ana Maria Monteiro, diretora da FE-UFRJ, Celina Maria de Souza Costa, diretora do CAp-UFRJ, além de professores, servidores técnico-administrativos, alunos e demais admiradores, que marcaram presença e prestigiaram o evento de forma incomum a uma sessão do Consuni.
Nascido em São Paulo, em 22 de outubro de 1928, Nelson Pereira dos Santos estudou Direito a pedido do pai e graduou-se na Universidade de São Paulo, em 1952. Apesar de jamais ter abraçado a profissão, Nelson “exerceu a Justiça através de sua arte”, de acordo com Ana Maria Monteiro. A diretora da FE citou o trecho do filme Rio 40 Graus, em que o menino Paulo adota uma lagartixa de estimação, mas o animal é atirado às cobras por um guarda cruel durante uma visita ao zoológico. “Nos filmes do Nelson, há uma imensa sensibilidade”, afirmou Ana Maria.
Além de Rio 40 Graus, de 1955, Nelson Pereira dos Santos filmou Vidas Secas e Memórias do Cárcere, baseados na obra de Graciliano Ramos. O primeiro conquistou o Prêmio Ocic do Festival de Cannes, em 1964; o segundo conseguiu o Prêmio Fipresci do mesmo festival, em 1984, o Gran Coral, em Havana, no mesmo ano, e o Prêmio APCA, em 1985. O cineasta também levou para as telas obras de autores nacionais, Jubiabá e Tenda dos Milagres (vencedor dos prêmios de melhor filme e melhor direção no Festival de Brasília, em 1977), de Jorge Amado; A terceira Margem do Rio, de Guimarães Rosa; Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre (documentário produzido para a TV); e Raízes do Brasil, sobre a vida de Sérgio Buarque de Hollanda. “Nelson Pereira está situado entre o artista e o social. Alguém cuja vida acadêmica não o afastou da cultura do povo”, enfatizou Ana Maria.
Para Marcelo Correa e Castro, decano do CFCH, levar o cineasta para a FE-UFRJ significa “trazer a arte para a vida acadêmica”. Já para o professor Carlos Levi, conceder o título de doutor honoris causa a Nelson “enche de orgulho a nossa universidade”. O reitor da UFRJ confessou-se um admirador da obra do cineasta: “O Brasil de hoje tem alguma coisa de sua obra. Muito obrigado, Nelson Pereira dos Santos”.