Enquanto autoridades discursavam durante a inauguração da Ponte do Saber, um grupo de operários da construtora Queiroz Galvão, responsável pela construção, refugiava-se à sombra de uma castanheira bem próxima ao palanque. O sol era intenso. No semblante do paraibano Valdenilson Marinho, 49 anos, a expressão de dever cumprido. Afinal, a cerimônia que marcava o início de dias melhores no trânsito da Cidade Universitária representava também o fim de um trabalho de dois anos e quatro meses para construção da ponte. “Até ontem, tinha pessoal aqui dobrando para fazer a limpeza”, comenta Marinho.
O funcionário cumpria uma dupla função na empreitada: trabalhou a maior parte do tempo como ajudante na obra, mas foi fazendo o trabalho de replantio de mudas no mangue do Canal do Cunha que Marinho passou a ser conhecido entre os colegas como o “velho do mangue”.
Nascido na pequena localidade de Rio Tinto (PB), ele veio para o Rio aos 7 anos. Por isso, sente-se mais carioca do que paraibano. “Costumo dizer que, quando morrer, quero voltar carioca em outra vida."
Marinho e os demais colegas são contratados pela empresa temporariamente, durante o tempo de execução da obra. Depois de participar da construção da Ponte do Saber e da reforma do Museu da Quinta e do Instituto Benjamin Constant, o funcionário quer agora contribuir com outro empreendimento do qual possa sentir orgulho: o teleférico do Morro da Providência, comunidade onde vive.
Mão de obra da Vila Residencial
A presidente da Associação de Moradores da Vila Residencial da UFRJ, Joana Angélica Pereira, também fez questão de participar da cerimônia de inauguração da Ponte do Saber, na manhã dessa sexta-feira (17/2). Ela elogiou a nova via, que promete desafogar a ligação entre a Cidade Universitária e a Linha Vermelha (sentido Centro). “Vai facilitar muito a saída dos moradores, pois nem todos são funcionários da UFRJ. Muitos trabalham no Centro da cidade”, afirma Joana.
Segundo ela, a construção da Ponte do Saber contou também com a mão de obra da comunidade, empregando cerca de 80 jovens e pais de família que estavam desempregados. “Algumas mulheres da Vila Residencial também foram empregadas como segurança do trabalho”, comemora a presidente da associação.
A Vila Residencial foi fundada em 1974. No início, era canteiro de obras da Ponte Rio – Niterói. Atualmente, residem no local cerca de duas mil pessoas. Apesar da melhora da qualidade de vida nas últimas décadas, sobretudo a partir das obras de saneamento nos canais, a comunidade reivindica outras ações do Poder Público. “Estou aproveitando a inauguração para conversar com o diretor da Petrobras para que a gente possa fazer a obra da creche. Não temos também área de lazer, com campo de futebol e quadra poliesportiva, e um posto de saúde. É isso que estamos reivindicando."
Professora aposentada do Instituto de Química (IQ-UFRJ), Marylena Salazar mora na Vila Residencial há cerca de dois anos. Acompanhando a presidente da associação na cerimônia de inauguração, quis se integrar à comunidade para recolher histórias de vida e se inspirar como escritora. “Fui para a Vila Residencial para escrever uma obra real. Preciso estar integrada. Essa é a minha vida”, afirma Marylena.