Para o biólogo Francisco Esteves, diretor do Nupem-UFRJ, autorizações para construção em áreas alagáveis agravam situação no Norte e Noroeste do estado. 

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Memória

Inundações: ‘resposta ao uso inadequado do ecossistema’

Para o biólogo Francisco Esteves, diretor do Nupem-UFRJ, autorizações para construção em áreas alagáveis agravam situação no Norte e Noroeste do estado. 

As inundações registradas em municípios do Norte e Noroeste do Rio de Janeiro não são um fenômeno novo para os moradores e vêm se agravando nos últimos anos. Para o biólogo Francisco Esteves, diretor do Núcleo em Ecologia e Desenvolvimento Socioambiental de Macaé (Nupem-UFRJ), os transtornos provocados pelos alagamentos já eram previsíveis na região.

“O fenômeno é uma resposta ao uso inadequado do ecossistema. Se não ordenarmos o uso do território, teremos catástrofes cada vez mais frequentes”, afirma o professor titular da UFRJ.

Esteves aponta a degradação da vegetação nas áreas montanhosas como uma das causas das inundações nas áreas próximas às margens dos rios. Sem proteção natural, em caso de chuvas fortes, os sedimentos são levados para os córregos e rios, provocando assoreamento e aumentando a possibilidade de alagamentos.

A cheia do Rio Muriaé atingiu essa semana várias cidades do Noroeste e Norte fluminense, como Laje do Muriaé, Italva e Cardoso Moreira. Na última quinta-feira, o rompimento de um dique na BR-356 alagou completamente o distrito de Três Vendas, em Campos dos Goytacazes, obrigando a remoção de mais de 500 moradores. Outras famílias se recusam a sair da comunidade por medo de saques. Como a localidade de Três Vendas fica abaixo do nível do rio, a água já atingiu dois metros de altura.

O diretor do Nupem critica também as autorizações de prefeituras para construção em áreas alagáveis nessa região. “No Norte e Noroeste, os brejos que funcionam como piscinas naturais para escoamento da água em período de chuva estão sendo aterrados para construção de shoppings e condomínios residenciais, tudo isso alavancado pela indústria do petróleo”, afirma Esteves. 

Gestão ambiental

O processo de degradação do território, prossegue o professor, teve início ainda na década de 50, quando o então Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS), ligado ao Governo Federal, alterou “a dinâmica das águas”, causando impactos na movimentação de lagos, lagoas e rios.

Para Francisco Esteves, o Poder Público desperdiça oportunidades ao ignorar o grande volume de conhecimento científico produzido pelas universidades na área ambiental. “Em pleno século XXI, apesar do volume gigantesco de conhecimento científico, esse conhecimento ainda não chegou àqueles que estão fazendo a gestão ambiental. Ou eles não querem que chegue. Não lançam mão do conhecimento científico já existente”, critica o professor da UFRJ.

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