Sediado no Fórum de Ciência e Cultura (FCC) da UFRJ, o “1º Seminário de Gestão Pública em Áreas Pacificadas” debateu, na última sexta-feira (16/12), com gestoras sociais atuantes em comunidades, os caminhos e os problemas que estão sendo enfrentados nesses locais. Sob o tema Gestão Social e Políticas Públicas de Segurança, o evento ocorreu no Salão Pedro Calmon do FCC, e contou com a participação das gestoras sociais Mônica Francisco, do Borel; de Jocelene Ignácio, da Providência; e de “tia” Lúcia, do Morro do Pinto, ex-professora do Centro Cultural José Bonifácio, localizado na Providência. O evento foi organizado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro.
Mônica Francisco afirmou que um discurso que a incomoda é o de que, com a consolidação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), uma série de ações do governo passariam a ser implementadas nas favelas. “A gente ficou meio assustado quando começou a ouvir sobre a entrada do Estado na favela com a UPP, porque o Estado sempre esteve na favela”, disse Mônica. “Em 1994, houve o Favela Bairro, que até onde sei urbanizou muitas favelas”, completou.
No entanto, Mônica considerou ser real o fato de que a entrada de certos serviços era dificultada pelo tráfico. “Ainda hoje há uma enormidade de ações comunitárias que já havia há anos, antes da UPP. Vamos agora fortalecer as instituições que já estavam na comunidade”, disse. Por fim, a gestora ressaltou que a lógica de opressão ainda domina e que o discurso da comunidade é desqualificado pelo Estado.
Jocelene Ignácio afirmou que o confronto entre polícia e criminosos é uma ação de mediação política. Quando trabalhava na Secretaria Municipal de Habitação (SMH) do Rio, a gestora acompanhou delegações internacionais que iam aos morros. “Nesses dias não havia nenhum bandido e policial no local. Mediação de conflito tem que ser entre as divisões simbólicas do morro. Ainda não consigo ver um policiamento de proximidade”, disse Jocelene.
A gestão social no território pautada em pacificar o morador não vai trazer, de fato, a paz para essas comunidades, acredita Jocelene. “O que tem que ser feito é tentar fazer com que as ações do governo não sejam particularizadas e personalizadas. Não dá para reproduzir um sistema sólido com a polícia como única forma de restituir a cidadania”, finalizou.
“Tia” Lúcia pontuou que os moradores das comunidades têm que ajudar os dirigentes sociais para que eles possam trabalhar nos morros. “Nós temos que lutar pelo que queremos. Se não lutarmos, o governo não vai fazer nada por nós”, concluiu a gestora.