É com pesar que comunicamos o falecimento, na sexta-feira, dia 9/12, da professora Ana Clara Torres Ribeiro, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur) da UFRJ .
Socióloga, doutora em Ciências Humanas pela Universidade de São Paulo (1988), Ana Clara Torres Ribeiro foi professora Adjunta do Ippur desde 1987 e pesquisadora 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Integrava o programa Cientista do Nosso Estado da Fundação de Amparo á Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).
No Ippur, após larga experiência com o tema do movimentos sociais (coordenação de grupo de trabalho da ANPOCS, oferta de disciplina e orientação de dissertações de mestrado, além da realização de estudos e pesquisas) criou, em 1998, o Laboratório da Conjuntura Social: tecnologia e território (Lastro) e a disciplina Teorias da Ação, que condensa as orientações teóricas do trabalho experimental desenvolvido pelo Lastro, no qual desenvolveu pesquisa sistemática da Ação Social (reivindicações, protestos e lutas) em contextos metropolitanos, a proposição de novos conceitos e categorias e exercícios com a denominada cartografia da ação.
O falecimento da docente causou comoção ao Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR-UFRJ), que está de luto, e através das palavras da professora Tamara Tania Cohen Egler, amiga e parceira da professora Ana Clara Torres Ribeiro, ao longo dos últimos 23 anos, rendeu-lhe a homenagem abaixo.
Homenagem
Sexta-feira, dia 9 de dezembro de 2011 , faleceu a socióloga e professora
Ana Clara Torres Ribeiro, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano
e Regional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, deixando uma
lacuna irreparável na pesquisa das Ciências Sociais no Brasil.
Não é possível percorrer esse campo sem se deparar com a sua
importante obra, que dialogava na transversalidade das disciplinas.
Socióloga de formação, na sua trajetória ela foi pesquisadora da Fiocruz,
professora colaboradora da Geografia da UFRJ, e recentemente havia
defendido o seu exame de titular junto ao Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano e Regional, IPPUR, onde era professora há quase 30
anos.
A sua pesquisa se inicia na compreensão da importância dos movimentos
sociais para a transformação das condições de existência das classes
populares no Brasil. Com o avançar do seu trabalho ela mostra que a
cidade é palco importante da luta política, no contexto de um regime
autoritário, e que institucionalidade política destes movimentos vai se dar
apenas após o processo de democratização do Brasil.
Mais recentemente sua pesquisa nos mostrou que a ação social é
dotada de alta complexidade e funde cultura e política, sendo que sua
manifestação principal se dá especialmente no espaço urbano. Neste
momento Ana Clara Torres Ribeiro faz emergir um novo campo de
pesquisa nas ciências sociais, a cartografia da ação social.
A cartografia da ação tem como principal contribuição revelar que não
podemos compreender a vida social na cidade em esferas delimitadas
pelas disciplinas: sociologia, política, economia, história, geografia,
arquitetura. Por que a existência social não pode ser dividida, ela
responde por uma totalidade complexa que reúne no mesmo campo os
fragmentos disciplinares produzidos pela modernidade.
Mas é como amiga, companheira e parceira de mais de 30 anos que
escrevo esta homenagem. Ana Clara Torres Ribeiro foi professora,
orientadora e interlocutora de centenas de mestrandos e doutorandos,
milhares de estudantes de pós-graduação e inúmeros professores de
diversos lugares do Brasil, da América Latina e do mundo. Tratava todos
com a mesma afetuosidade e disponibilidade, do mais simples funcionário
ao mais importante dirigente.
Era uma pessoa capaz de escutar e dialogar com o pensamento do outro,
revelando o caminho do exercício da investigação crítica e autônoma.
Mantinha-se atenta às reflexões de seus estudantes e orientandos, que
assistiam ao seu curso de Métodos e Técnicas de Pesquisa, no IPPUR,
acompanhando de perto a pesquisa de cada um dos 20 estudantes, lendo
e relendo todos os projetos e comentando um a um.
Ana Clara trazia no seu nome, a capacidade de iluminar a complexidade da
existência humana, por que lia perfeitamente a dor e a alegria do outro.
Ana Clara trazia discernimento, por que era capaz de agir de forma
absolutamente justa, e quando, os ânimos se acirravam, ela com sua
capacidade de desfazer os conflitos apresentava cada um dos argumentos
que orientavam a ação coletiva.
É seu legado que continuemos a plantar as sementes do seu pensamento,
para que sua mente iluminada continue a clarear a realidade e ajudar a
compreender a complexidade do mundo em que vivemos, nos orientando
na direção de encontrar os caminhos da igualdade e justiça social.
Tamara Tania Cohen Egler
Coordenadora do Laboratório Estado, Sociedade, Tecnologia e Espaço
Professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional