De que forma a personagem de um documentário pode interferir no modo como o diretor constrói um filme? A relação entre as duas partes do processo cinematográfico foi tema da mesa “Personagens e autores/personagens autores”, promovida pela mostra de cinema da “3ª Semana dos Realizadores”, na última quarta-feira (26/10). O evento faz parte do ciclo de debates da semana, aberto para o público, no Salão Moniz Aragão, do Fórum de Ciência e Cultura (FCC) da UFRJ.
João Castelo Branco, diretor de O corte do alfaiate, documentário que retrata a vida de profissionais que lutam para manter o trabalho de alfaiataria, afirma que já foi a campo sabendo o que queria deles. A partir do que esses profissionais diziam, suas falas eram recortadas de acordo com os interesses da produção do filme. “Eles são autores? Sim, na medida em que a preocupação do filme está em cima da fala deles”, disse Castelo Branco. “Mas a ficção do filme é minha”, completou o diretor.
Para Júlia de Simone, diretora de Romance de formação, seu filme foi muito determinado pelas pessoas representadas nele. A obra fala sobre o cotidiano de estudantes bolsistas em instituições de ensino no exterior. Como os diretores do filme não saíram do país, pediram aos quatro personagens que filmassem a si mesmos. “Eles delimitaram e orientaram muito o filme. Muito do que eles nos mandaram foi usado. Aí eles foram autores do filme, no sentido da abordagem que fizemos”, afirmou Júlia.
Filmes da mostra ainda poderão ser vistos dias 5 e 6 de novembro no Instituto Moreira Salles (IMS). O Salão Moniz Aragão, local dos debates, fica no Palácio Universitário da UFRJ, na Praia Vermelha (Avenida Pasteur, 250, Urca).