A educação foi o tema central do debate realizado na tarde dessa quinta (15), no seminário “140 anos da Comuna de Paris”. Roberto Leher, professor da Faculdade de Educação (FE) da UFRJ, e Jane Almeida, doutoranda da Unicamp, foram os palestrantes da mesa “Educação, emancipação e revolução”, que ocorreu no Salão Pedro Calmon, no Palácio Universitário, no campus da Praia Vermelha.
A exposição de Leher enfatizou a importância do caráter público da educação. Para o professor, durante os seus 72 dias de existência, a Comuna de Paris demonstrou de que forma é possível que a educação pública seja regulada pelo povo, sem a ingerência do Estado. “A Comuna de Paris é o momento fundacional de uma educação pública e de temas emancipatórios, que nos permite pensar o que é público”, analisou o docente. “Marx defende a educação pública, mas não defende o Estado como educador do povo, tampouco a Igreja. É o Estado que precisa ser educado pelo povo. O Estado é particularista e unilateral. A Comuna de Paris deu um exemplo de como se faz uma educação universal”, acrescentou Leher.
O professor explicou que, entre as características das escolas no curto período em que a revolução promovida pela Comuna durou, está o caráter laico da educação e sua massificação, além de um ensino sem coerções. “Esta educação tem como ponto fundamental a problemática do trabalho, superando o trabalho alienado. Ela promove o fim da divisão social do trabalho. Não há mais diferença entre aqueles que mandam e aqueles que obedecem”, esclareceu o docente.
Para Leher, a educação praticada hoje, em todo o mundo capitalista, segue os princípios fordistas, que pregam a divisão social do trabalho. “Ela não forma o homem universal”, pontuou o professor, para quem a educação deve estar baseada no fim do modo de produção capitalista. O docente citou alguns exemplos de experiências contemporâneas bem-sucedidas, como as escolas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no Brasil, da Universidade dos Povos Indígenas, no Equador, e das escolas zapatistas, no México. “Hoje, há um apagamento do que é público e do que é privado. Isso, obviamente, é uma tentativa de apagar o que é público”, concluiu Leher.
Crepúsculo ou aurora?
Jane Almeida iniciou sua palestra com uma indagação: a Comuna de Paris teria sido o crepúsculo da Revolução Francesa de 1789 ou a aurora da Revolução Russa de 1917? Para explicar sua resposta, a pesquisadora da Unicamp lembrou a fala do historiador Eric Hobsbawm. Segundo ele, a educação teve papel crucial na sociedade do século XIX. “Hobsbawm mostra que houve grande avanço das escolas primárias, pois era necessário formar trabalhadores para as fábricas. Além disso, houve grande pressão por parte dos próprios trabalhadores. O resultado foi um crescimento de 145% no número de crianças nas escolas”, citou Jane.
Assim como Leher, a doutoranda analisa o fim do ensino religioso como requisito para a promoção de uma educação universal. No entanto, a pesquisadora aponta ambiguidades entre as proposições sobre o que deveria ser uma educação laica. “Algumas correntes afirmavam que era preciso resguardar os valores cristãos. Outras pregavam a laicização completa do ensino nas escolas”, observou Jane.
Respondendo à pergunta inicial, a pesquisadora afirmou que o caráter laico da educação pregada na Comuna de Paris é incompatível com os preceitos republicanos da Revolução de 1789, assim como a educação para as massas. “Então, penso que a Comuna de Paris está muito mais próxima à aurora da Revolução de 1917. No entanto, como afirmou Trotsky, foi uma ‘aurora pálida’. A grande e verdadeira revolução universal do socialismo ainda está por vir”, finalizou Jane Almeida.