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Professora explica síndrome pouco conhecida e ajuda alunos e educadores

Na tarde desta última quinta-feira (08/09), ocorreu a abertura do “Ciclo de Cinema e Infância” que, em sua 4ª edição, traz o tema “Infância e Amizade”. O evento foi realizado no Auditório Maria Lenk da Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEFD-UFRJ), e é composto pela exibição de filmes, debates e análises feitas pela professora convidada.

O filme exibido foi Mary e Max – uma amizade diferente (2009), de Adam Elliot, baseado em fatos reais. Nele, é contada a história de duas personagens que têm características em comum e, em certo momento, têm suas vidas cruzadas.

Mary é uma menina de 8 anos, que vive na Austrália, não tem amigos, sofre bullying em sua infância e tem pais que não lhe demonstram afeto algum. Em uma ocasião, ela resolve escrever uma carta para um cidadão norte-americano com o objetivo de saber se as histórias sobre como nascem as crianças nos Estados Unidos são iguais as que ela ouviu ou não. O homem que recebe sua carta é Max, um judeu adulto, perseguido na infância, que sofre da Síndrome de Asperger e também não tem amigos.

A professora Fátima Palmieri, da Pós-graduação de Neurociências do Instituto de Psiquiatria (Ipub-UFRJ), iniciou o debate, após o filme, explicando a síndrome que geralmente é confundida com o autismo. Segundo ela, em ambos os casos, os indivíduos têm dificuldade nas relações sociais e com o meio ambiente. Entretanto, quem tem a Síndrome de Asperger não apresenta dificuldade na inteligência.

Pessoas como a personagem Max sabem que são portadoras da síndrome, porém esperam que sejam respeitadas e não sejam tratadas como alguém que precise ser curado. “Quem tem a Síndrome de Asperger evita ser tocado, tem dificuldade de olhar para os outros, não consegue identificar as emoções nas pessoas e gosta de ficar mais isolado. Mas ele também apresenta boas características como lealdade, independência de preconceitos e apresenta uma inteligência bem desenvolvida, como o Max”, complementa a professora.

A personalidade de Max, que mostra características do indivíduo portador da Síndrome de Asperger, é retratada em diversos momentos do filme, no término e na retomada da relação afetiva entre os dois. Quando Mary vai para a faculdade estudar o caso do amigo e publica um livro sobre a síndrome de Max, visando a sua cura, ele tem um forte acesso de raiva. “Ele que pensava que era aceito pela amiga, a partir do momento em que ela passa a estudá-lo, viu que não era”, explica a professora Fátima.

Ao lidar com pessoas que tenham a personalidade como a de Max, de acordo com a professora, é preciso respeitar, não reprimir, encontrar maneiras de se relacionar e não encarar o fato como uma doença que precisa de cura. Além disso, ela ressalta que os pensamentos do portador da síndrome são como os de todos da sociedade, podem ser diferentes e normais ao mesmo tempo.   

Um dos questionamentos dos estudantes e profissionais de Educação Física presentes foi o de como integrar uma criança que tem a Síndrome de Asperger com os outros alunos da classe. A professora Fátima explica: “Se uma criança não gosta de ser tocada, você não deve tocar, você precisa respeitar o espaço dela, que aos poucos ela vai se enturmando e fazendo o que as outras estão fazendo, pois eles respeitam as regras”.   

Quanto ao modo de como tratar pessoas rotuladas e rejeitadas, Fátima Palmieri ressalta que tal questão é comum e gera dúvida em diversos educadores. “No filme, eles sempre foram rotulados, ele por ser judeu, ela por ter uma mancha na testa. Rotular como deficiente é um fenômeno criado socialmente e perpetuado culturalmente, logo achar que essas pessoas necessitam de cura é algo construído socialmente também.”

Em todos os momentos, o filme mostra que a amizade das personagens, construída através da troca de cartas, é forte, mas talvez não fosse possível se fosse baseada no convívio físico diário. Afinal, apesar da grande vontade de ter um amigo, Max ainda convive com momentos de crise.

O “4º Ciclo de Cinema e Infância”, sob organização do Grupo Esquina da EEFD-UFRJ, dá continuidade ao olhar voltado para a infância e ajuda no trabalho dos educadores. As atividades acontecerão em mais três oportunidades. O filme O menino do pijama listrado (Mark Herman/2008) é o próximo a ser debatido às 14h do dia 15 de setembro, no mesmo auditório.