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“Agrotóxico nosso de cada dia”

 Com essa temática começou nessa quinta-feira (26/05) o I Seminário “Agrotóxico nosso de cada dia”. Após a Feira Agroecológica da UFRJ – evento inicial do Seminário – ocorreu uma mesa redonda sobre o tema intoxicação por agrotóxicos, no anfiteatro Professor Francisco Bruno Lobo (auditório Bezão), no Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFRJ.

O primeiro componente da mesa a se pronunciar foi o professor João Paulo Machado Torres, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF/UFRJ), que mostrou o resultado de duas dissertações de doutorado orientadas por ele sobre um assunto específico e histórico no caso dos agrotóxicos: o acúmulo de DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano) nos peixes – primeiro pesticida moderno usado largamente para o combate aos mosquitos causadores da malária e do tifo.

Apesar da presença do DDT em peixes ser um assunto bastante conhecido e discutido, Torres trouxe para o seminário uma nova visão do problema. Especialista que atua em cima do tema persistência ambiental, ele mostrou que apesar da proibição do uso do herbicida, o elevado consumo de peixes na região e a permanência da molécula do DDT no ambiente, ainda, fazem com que os níveis de contaminação ultrapassem o tolerável e sejam repassados a crianças, através da amamentação em taxas elevadas.

Os prováveis efeitos da contaminação por agrotóxicos apresentada pelo professor João Paulo são da ordem dos efeitos crônicos, pois as consequências só vão aparecer semanas, meses, anos ou em gerações seguintes, após o uso ou contato com o produto. Diferente dos casos apontados pela professora Rosany Bochner, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, que coordena o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas – SINITOX.

O sistema SINITOX tem como objetivo coordenar a coleta, a compilação, a análise e a divulgação dos casos de intoxicação e envenenamento notificados no país. Contudo, como o envio de dados é voluntário, através da transmissão de dados feita pela Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Renaciat), os registros que chegam ao SINITOX são de casos que ocorrem durante ou logo após o contato da pessoa com o produto, o chamado efeito agudo.

Dentro dessa área, entre outras informações, a professora apresentou dados que resumem o quadro de intoxicação humana por agrotóxicos de uso agrícola – um dos agentes com os quais o SINITOX trabalha. Segundo as análises, 60% dos intoxicados estão na faixa etária entre 20 e 49 anos e a maioria é do sexo masculino. Entre as causas da intoxicação, a tentativa de suicídio apareceu em primeiro lugar e a de homicídio em quarto. Isso foi explicado pelo uso do chumbinho, herbicida utilizado como raticida, como arma e veneno para uso em humanos.

Além disso, a professora comentou sobre a presença residual de agrotóxicos nos alimentos. Segundo dados exibidos, em pesquisas realizadas, muitos alimentos apresentaram alto índice de resíduos de agrotóxicos, excedente ao limite, e uso do produto não autorizado. Há duas classificações para os agrotóxicos, os sistêmicos (que circulam através da veia) e os de contato (absorvidos por tecidos internos da planta). Ou seja, mesmo lavando os alimentos, eles permanecem no alimento, aumentando a intoxicação.

O último palestrante do dia foi Carlos Gouvêa, da Floreal, que falou sobre os aspectos sociais que envolvem as questão dos agrotóxicos. Segundo ele, a questão da alimentação não deve ser a única via de protesto, visto que esse tipo de produto faz parte de um sistema que engloba a manutenção do modelo de agronegócio (monocultura em latifúndio voltado para exportação), em detrimento dos pequenos agricultores.

Para Carlos Gouvêa essa é uma luta que envolve vários aspectos: uma reforma agrária popular, promoção da diversidade de culturas, adaptadas a cada região. Respeitando a sazonalidade dos alimentos; a viabilização de sementes puras (criolas); a autonomia soa agricultores, entre outras coisas.

Encerramento

O Seminário continua hoje (27/05), com duas palestras e uma apresentação cultural. A primeira conferência ocorre de 10h às 12h, no auditório Bezão, e tratará sobre Consumo Consciente, com Miriam Langenbach (Rede Ecológica). De 14h as 15h30, doutor Armando Meyer (Fundação Oswaldo Cruz, RJ) falará sobre os efeitos dos agrotóxicos na saúde.

O evento encerra, às 17h, com a apresentação do Coletivo Joaquim 71, grupo multi-plural que conta com a participação de diversos artistas com o objetivo de intervir em espaços livres, e outros convidados.

O auditório Bezão fica na Avenida Carlos Chagas Filho 373, Bloco B, Cidade Universitária.