Categorias
Memória

Workshop discute padrões de acumulação e subdesenvolvimento

Na última segunda (23/05), a Casa da Ciência da UFRJ reuniu especialistas para a mesa Padrões de acumulação e subdesenvolvimento. Organizado pelo Laboratório de Estudos Marxistas José Ricardo Tauile (Lema) da UFRJ, o evento trouxe Pedro Dutra Fonseca, professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Bruno Borja e Pablo Bielschowsky, ambos pesquisadores do Lema-UFRJ.

Fonseca abordou o assunto O P.S.I. na América Latina: o desenvolvimento populista. O ponto de partida de sua fala foi a Revolução de 1930 e o processo de substituição de importações (P.S.I.) que teve início na Era Vargas. Para contextualizar a ideia de populismo, o docente explicou em detalhes o ciclo populista. De acordo com a explicação do professor, “primeiro, é necessário que o governo vigente aponte claramente que o baixo crescimento e a concentração de renda são causas políticas da administração anterior. Depois, é importante mostrar as propostas político-econômicas como uma virada, uma mudança de panorama radical. Na maioria das vezes, as políticas populistas estão baseadas na questão fiscal, de câmbio ou de salário, todas com foco no fomento ao crescimento econômico”, ensinou.
 
Contudo, como alerta o docente, tais políticas comprometem a saúde da economia local, gerando inflação e déficits públicos. Logo, há um retorno da ortodoxia que vigorava antes do populismo econômico, causando um retrocesso profundo na estrutura financeira do país. Como exemplos desses modelos, o Fonseca citou o governo de Lazaro Cárdenas, presidente do México entre 1934 e 1940, e de Getúlio Vargas, (de 1930-1945 e de 1951-1954), entre outros. O professor da UFRGS explicou que a política econômica de Vargas não tinha ligações com populismo. “A prioridade era substituir importações e cortar despesas, equilibrar orçamentos e estimular fontes produtoras. No geral, Vargas buscava mudar a posição do Brasil na Divisão de Trabalho Internacional. Para isso, procurou industrializar o país e diversificar a agricultura”, afirmou.
 
Fonseca ressaltou ainda que a postura econômica de Vargas era voltada para o desenvolvimento. “O desenvolvimentismo supõe a consciência de um atraso. Na medida em que ele assume o problema, surge a proposta”, disse. Na conclusão, o docente afirmou que “não há relação necessária entre desenvolvimentismo com populismo”. Segundo ele, Vargas conseguiu crescer economicamente enquanto dividia renda.

Ascensão econômica dos EUA

Bruno Borja, pesquisador do Lema-UFRJ, ministrou a palestra Para crítica da economia do crescimento. Borja fez um panorama histórico para contextualizar “o surgimento do progresso natural da opulência”. De acordo com Borja, “na 1ª Guerra Mundial, os EUA demonstram potencial de ascensão e esboçaram uma tentativa de liderança mundial, como a criação da Liga das Nações. Com a crise de 29, surgem debates sobre o ciclo econômico da época e o Estado entra com força nesse setor”, elucidou.
 
Após 2ª Guerra Mundial, segundo Borja, a hegemonia americana se consolida no mundo capitalista. A criação de organizações multilaterais (ONU, FMI, Cepal, OTAN) corrobora o panorama político-mundial, na opinião do pesquisador. “Durante a Guerra Fria, os EUA buscam as áreas periféricas com objetivo de demarcar território. Foi nessa época, principalmente na década de 1960, que cresce a noção de década do desenvolvimento. A partir daí, o caminho para o progresso natural da opulência está pavimentado”, afirmou. Este caminho, na opinião de Borja, conduzirá as economias para um estágio de consumo de massas. “Há uma tendência à concentração entre os estados nacionais. Os Estados que não se firmarem nesta competição continuarão subdesenvolvidos”, completou.

Cepal 

Pablo Bielschowsky focou sua explicação em análises teóricas de economistas da década de 1960 e 1980. O pesquisador do Lema-UFRJ destacou a importância da Comissão Econômica para América Latina (Cepal) como grande defensor da industrialização. Contudo, o projeto industrializante gerava um círculo vicioso. “Como poucas pessoas consumiam produtos manufaturados, a técnica utilizada vinha do centro e empregava um número reduzido de pessoas”, disse o pesquisador, completando que “apesar de haver uma modernização em curso, o país não evoluía socioeconomicamente”. De acordo com Bielschowsky, “havia concentração de renda, o que estimulava o uso da técnica do centro, que por consequência empregava pouco, gerando ainda mais concentração de renda”.

Bielschowsky esclarece que a lógica teórica se modifica quando ocorre o milagre econômico. “Nesse caso, a concentração de renda é vista como dinheiro na mão das elites, que por consequência estimula a compra de manufaturados com valor agregado maior. Com isso, a indústria se amplia e novos investimentos externos surgem, principalmente com a entrada das multinacionais no cenário brasileiro”, concluiu o pesquisador.