A primeira aula de “Bioética, Biossegurança e boas práticas com animais em experimentação”, na última segunda-feira (25/4), promovida pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), trouxe uma discussão básica para a disciplina: a conduta do cientista diante de animais no laboratório.
“A lei em relação à experimentação com animais existe e importa, mas o relevante é cada um de nós ter a própria visão e ética perante a vida”, constata o primeiro conferencista das aulas, Wothan Tavares, Professor do Departamento de Farmacologia da Universidade de São Paulo (USP).
O uso de animais na experimentação disparou no século XX, com a crença cristalizada e arraigada de que a ciência não dispunha de freios. “Antes de entrar no laboratório, somos, acima de tudo, pessoas. Não se separa o cientista do ser humano”, diz Wothan em relação a esse pensamento soberano da ciência.
Hoje, os conceitos de biossegurança e bioética são dignos de reflexão. Para o professor, às vezes pensamos que o uso de animais na pesquisa é tão intrínseco na atividade científica que não paramos para nos questionar essa prática e sua validade.
Ele ainda destaca que é importante não ter dúvidas na hora da experimentação. “Usar uma dose alta de anestesia e colocar a vida do animal em risco, ou não usar e submetê-lo ao sofrimento?”, exemplifica Whotan, quanto à relevância dos critérios que cada cientista usa na hora da prática.
A resposta para essas perguntas não é um consenso, nem tão pouco tão dual que possa separar nitidamente o bem do mal. Vale destacar que o uso de animais em pesquisas tem seus méritos: ele proporciona o aumento da qualidade de vida de animais não só humanos.
“A revista Science, por exemplo, publicou em 2010 que ratos em laboratório já respiravam através de um pulmão artificial produzido em laboratório”. Ele continua “temos ainda uma publicação da revista The Cell, que mostra o desenvolvimento de pílulas capazes de reverter o Alzheimer, testado primeiramente em animais”.
Por outro lado, não se deve esquecer que a interseção das vidas não nos é indiferente. O animal não é um tubo de ensaio com patas, ele tem vida e isso deve ser levado em conta. A Biologia da Cognição surge para comprovar que os bichos compartilham do mundo com a gente e têm consciência do seu redor.
As discussões acerca da ética variam de cada ser e do contexto social e intelectual em que vive. O pensamento da sociedade está sempre em direção a um prisma que refrata as diferentes percepções do mundo e constrói uma multiplicidade de critérios para balancear os erros e acertos das ações científicas.