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As ameaças veladas à Amazônia

Criação divina ou fruto das leis da Física o nosso planeta é sem dúvida o que reúne condições raramente encontradas como ambiente perfeito para vida plena e abundante. A humanidade, no entanto, atua na devastação da natureza causando impactos altamente perceptíveis e preocupantes, ainda assim, ignorados por muitos.

No Brasil, especificamente na Região Amazônica, a maior reserva hídrica do mundo, sofre por ser uma das florestas tropicais mais devastadas do país. Segundo o professor Fernando Fernandez, do Departamento de Ecologia do Instituto de Biologia (IB/UFRJ), um dos principais problemas na Amazônia é a expansão rural. “Existem várias causas para a devastação, uma delas é decorrente de abertura de pastagens para o gado, cultura muito primitiva”, afirma.

Fernando ainda explica que ocorre uma dupla perda nesse tipo de desmatamento. Libera-se CO2 no corte da vegetação, que por sua vez deixa de atuar na absorção de gás com o processo de fotossíntese. O desmatamento, globalmente, já representa aproximadamente 20% das emissões de carbono mundial. Sem contar com a perda da capacidade de absorção do gás carbônico causada pela perda de vegetação.

Além disso, há diversos outros problemas relacionados ao desmatamento, como a extração de madeira e a ampliação de áreas para plantação de soja. Contudo, mesmo com o grande impacto dessas interferências, elas são menos divulgadas por questões econômicas e acabam despercebidas do público.

O professor relembra também as ações das comunidades ditas sustentáveis na Amazônia, um ponto polêmico. “Nos últimos governos houve uma política desastrosa de empurrar as pessoas pra dentro da floresta, para uso supostamente sustentável dos recursos, que, na verdade, raramente é sustentável”, salienta Fernandez.

Segundo o professor, para agravar, ocorre a caça desordenada por parte das comunidades sustentáveis, já que essa é a fonte de proteína dentro da Amazônia. Sem uma regulação efetiva para a caça, as pessoas acabam com a fauna de parte da floresta, ou seja, buscando todo tipo de animal e deixando o ambiente vazio. “Hoje em dia você tem 20 milhões de pessoas vivendo dentro da Amazônia e caçando muito”, aponta o professor.

Facilmente percebido economicamente, mas raramente divulgado, o problema da sobrepesca, ou pesca em excesso, vem causando prejuízos financeiros e ecológicos globalmente. O professor Fernando Fernandez explica que existem estudos científicos que maximizam a eficiência da pesca, porém, ao diminuir os lucros imediatos são imediatamente e unanimemente recusados pelas grandes empresas pesqueiras globais.

“A pesca no Brasil não é bem manejada, existem métodos científicos para você manejar os estoques pesqueiros de forma a obter o máximo de extração possível, pelo maior tempo sem esgotar os estoques”, diz ele. Essa busca desenfreada pelo lucro imediato, segundo o professor, e a falta de preocupação com o planeta e até com o futuro acarretou casos impressionantes de esgotamento de populações de peixes em pouquíssimo tempo.

Segundo ele, na Inglaterra, alguns anos atrás, houve uma onda de consumo de peixe de profundidade. “Eles apareceram no mercado e depois de cinco anos desapareceram. As pessoas estavam pescando peixes que vivem décadas e tem uma prole baixa. Em poucos anos de exploração eles esgotaram comercialmente esse estoque, e são bichos que vão demorar séculos para recompor as populações”, exemplificou.

Os riscos de toda essa loucura consumista são vários. Em curto prazo, ocorre um problema muito atual, que é o deslizamento de encostas que causa prejuízos de todos os tipos. Devastadas, elas sofrem ação da chuva com muito mais intensidade do que se estivesse arborizadas. Em médio prazo, e nesse médio prazo calculam-se poucos anos, temos a perda da biodiversidade devido à caça e ao desmatamento, já que a perda de área vegetada causa perda de biodiversidade.

E em longo prazo, estima-se 20 ou 30 anos, teremos as mudanças climáticas, que comprovadamente se aceleram devido à ação do homem. Já foram comprovadas mudanças significativas na temperatura global, e nós estamos acelerando esse processo natural, ao invés de estabelecer uma política visando a amenizar este problema, absorver o CO2 do ar por meio de vegetação, vemos segundo Fernandez, no Brasil, propostas para diminuição de áreas protegidas ambientalmente.

Como podemos ver, não há muito mais que possamos fazer, posto que nos encontramos nas mãos de grandes empresas de produção relacionada à natureza, e os estudos acadêmicos na área são tão abundantes quanto ignorados por essas empresas. Se desejarmos ter um futuro mais ameno e com menos catástrofes naturais, devemos mudar nosso foco de ação, do lucro, para o sustentável. Devemos parar de seguir essa doutrina que não se sustentará, ou todos perecerão com ela.