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Por um olhar humanitário da Medicina

 O profissional de saúde, com toda sua objetividade e procura pelo bem-estar de seu paciente foi tema da palestra “Psicoterapia no hospital geral – O que o médico pode fazer?”. Ministrando a palestra, o Professor Emérito da Faculdade de Medicina da UFRJ, Eustachio Portella Nunes, fez uma análise sobre a importância dos valores humanos no tratamento do paciente.

A relação médico-paciente é fundamental na medicina. No atendimento, quando a relação entre eles é difícil, os médicos tendem a achar que a culpa é exclusiva do paciente: “ele é uma pessoa difícil”, diria um médico. Quando, na verdade, a relação médico-paciente depende, não só de quem é atendido, mas de quem está atendendo.

“O paciente é uma pessoa sofrida, sobretudo aquele que frequenta hospitais públicos. Ele tem inúmeras necessidades e carências”, diz o professor referindo-se às condições externas que tornam o paciente mais inflexível. A doença é, muitas vezes, uma forma de escape do cotidiano massificante. Ficar bem de saúde novamente representa o regresso à vida difícil, ou seja, o doente pode preferir adoecer a se tratar completamente.

Para diminuir a barreira entre o binômio médico-paciente é preciso a mudança de atitude do médico. Este deve ver o paciente não como um objeto de estudo ou de cura, mas como uma pessoa: “O médico deve ceder espaço para o paciente falar espontaneamente”, diz Eustachio, explicando que o doente gosta de ser notado e receber atenção.

O palestrante afirma ter a receita para ser mais perceptivo quanto ao próximo e para o médico ter uma relação mais humana com seu paciente: “Leiam Machado de Assis. Ele percebeu todas as nuances do comportamento humano”. Ele ainda brinca: “Machado de Assis transforma seu romance em uma sessão de psicanálise trinta anos antes de Freud”.

A palestra, que aconteceu quarta-feira (30/3), no Anfiteatro do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ), passou a lição de casa: conhecer o ser humano não é só uma tarefa da psicologia, como também da medicina, que precisa, de certa forma, treinar seus profissionais para exercerem um olhar mais caloroso sobre o paciente.