A participação dos idosos na arrecadação de famílias de baixa renda tem sido significativa, de acordo com uma pesquisa realizada por professores da UFRJ e das Universidades de Manchester e East Anglia, Reino Unido, e Universidade de Rhodes, África do Sul. Essa foi uma das conclusões apresentadas nesta segunda-feira (21/03), durante o Seminário Internacional “Envelhecimento, Bem-estar e Desenvolvimento: Um estudo comparativo entre o Brasil e a África do Sul”, que aconteceu no Instituto de Economia (IE) da UFRJ, no campus da Praia Vermelha. Ao abordar questões como a interação social e o bem-estar do idoso, a pesquisa indicou alto nível de satisfação pessoal e financeira entre essa camada da população.
A escolha dos países a serem estudados foi motivada pela semelhança nos sistemas de benefícios e pensões oferecidos, como defende o professor João Saboia, diretor do IE, “os programas de distribuição de renda para pessoas idosas, tanto no Brasil quanto na África do Sul, são considerados razoavelmente bons. É curioso o fato de que duas nações aparentemente distantes apresentem tantas semelhanças”.
No Brasil, os pesquisadores visitaram mais de mil residências com pelo menos uma pessoa maior de 60 anos, na região metropolitana do Rio de Janeiro e na área rural de Ilhéus, na Bahia. Entre as perguntas feitas aos familiares e aos idosos foram abordados temas como saúde, satisfação na vida, segurança, controle financeiro e inclusão social.
Em mais de 90% das casas pesquisadas no país, a renda familiar era constituída ou complementada com pelo menos um tipo de benefício, contributivo ou não, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC), aposentadoria rural, benefício do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e Amparo Assistencial ao Idoso, com destaque para estes dois últimos. Com apenas 5% dos idosos entrevistados alegando dificuldades no recebimento dos benefícios, as expectativas para os próximos cinco anos podem ser consideradas otimistas: mais de 80% acredita que a situação financeira vai melhorar ou, ao menos, permanecer estável. “A garantia de uma renda fixa se reflete na satisfação entre pessoas da terceira idade, que passam a se sentir mais seguras, participativas e não são mais dependentes de um emprego”, afirmou o professor Saboia.
Enquanto no Brasil o número de atendidos pelos programas de distribuição de renda subiu 46%, na África do Sul os índices ficaram em 18%. Na comparação entre os dois países, o desenvolvimento de políticas públicas a favor dos idosos se mostra mais lento no país africano.
As diferenças entre a população urbana e rural também são mais evidentes na África do Sul, de acordo com a apresentação da professora da Universidade de Rhodes, Valerie Moller. A falta de acesso a itens e serviços básicos, como fornecimento de água e saneamento, são dificuldades enfrentadas pela população rural, segundo ela. No entanto, a pesquisa mostra que a maioria destas famílias consegue sobreviver apenas com a pensão recebida, enquanto na zona urbana, pelo menos uma pessoa da família precisa estar empregada para complementar a renda. Mas assim como os brasileiros, os sul-africanos mostraram otimismo: 45% dos entrevistados disseram acreditar que a situação financeira das famílias irá melhorar dentro de cinco anos.
Os professores Armando Barrientos, da Universidade de Manchester, e Peter Lloyd-Sherlock, da Universidade de East Anglia, concluíram a apresentação apontando a melhora na qualidade de vida entre a terceira idade, nos dois países, alavancada pelos sistemas de distribuição de renda bem institucionalizados, reforçando a ideia de que não há associação entre envelhecimento e diminuição do bem-estar.