… e o Bingo também
O cenário é de terra arrasada, como em uma fuga desesperada. No lugar onde antes havia elevadores e aparelhos de ar condicionado, fios à mostra, buracos no teto e nas paredes; além de infiltrações, muita poeira e lixo espalhado pelo chão. Foi o que presenciaram os primeiros representantes da UFRJ a entrar no terreno de 36 mil metros quadrados, antes ocupado pelo Bingo Botafogo. “Impressiona não só pelo tamanho, mas pela depredação deixada pelos antigos ocupantes. Fala-se muito que a UFRJ reincorporou o espaço, mas pouco do estado em que ele se encontra”, afirmou Petronila Diniz, representante do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da UFRJ (Sintufrj).
Convidados pelo professor Pablo Benetti, presidente do Comitê Técnico do Plano Diretor (CTPD) UFRJ 2020, integrantes das categorias da UFRJ estiveram na manhã desta quinta (02/12), no local para avaliar as condições do terreno e discutir preliminarmente suas vocações para o futuro. No próximo dia 17, no Salão do Conselho Universitário (Consuni) da UFRJ, às 14h, membros de toda a comunidade universitária debaterão propostas para a ocupação das áreas dos extintos Bingo e Canecão.
Ambos os terrenos estão sendo vigiados por funcionários da Divisão de Segurança (Diseg) da UFRJ, que impedem a entrada de estranhos. Se no Bingo, o mobiliário e os equipamentos já foram retirados; no Canecão, os antigos inquilinos ainda são esperados para levar os seus pertences. Uma das primeiras iniciativas que deve ser tomada é a instalação de banners ou outra peça que identifique os referidos espaços como parte do patrimônio público sob responsabilidade da UFRJ. “Temos muitas alternativas para ocupar este espaço, mas o importante é que seja um lugar de toda a sociedade, não apenas da UFRJ”, disse Isabel Azevedo, assessora especial da Pró-Reitoria de Extensão (PR-5).
Apesar de diversas propostas para ocupar o local, a maioria dos representantes presentes à visita concordam que o espaço deve permanecer como sede de eventos culturais. “Há espaço para instalação de salas de aula e auditórios. Mas acredito que a vocação natural seja a cultura. Temos cursos da Escola de Belas Artes, Faculdade de Letras, Direção Teatral, Dança, além dos eventos do Fórum de Ciência e Cultura e da Casa da Ciência, que podem ser realizados aqui”, opinou Sandra de Souza, representante da Seção Sindical dos Docentes da UFRJ (Adufrj). “Podemos até mesmo criar um ‘Memorial do Canecão’ como um tributo aos artistas que já se apresentaram na casa, para mostrar que não estamos buscando revanchismo. Apenas queremos democratizar o espaço e devolvê-lo a toda sociedade carioca”, completou Sandra.
A garantia de que ambos os espaços sejam para uso “público, cultural e popular” é a principal preocupação do Diretório Central dos Estudantes (DCE) Mário Prata, segundo seu representante, Kenzo Soares. “Ao longo do ano, organizamos atos que frisaram esta nossa reivindicação. Não queremos que eles sejam novamente entregues à iniciativa privada, após esta luta de tantos anos”, ressaltou Soares. O estudante espera que os terrenos sejam ocupados o mais rápido possível. “A gestão deve estar inserida em uma política cultural a ser definida, paritariamente, por todos os segmentos da universidade. Também queremos ouvir a classe artística e empresas estatais, que poderão participar na forma de parcerias”, propôs.
Pablo Benneti lembrou as demandas da Editora UFRJ, que poderia aproveitar o local para a construção de uma livraria. “Outras propostas são a criação de um espaço de exposições ou salas de aula especiais para cursos voltados para a área cultural, para que não se perca a vocação artística do local”, sugeriu o presidente do CTPD. No entanto, Benneti lembrou que toda a comunidade universitária será ouvida antes que uma definição das ocupações do terreno seja tomada. “Vamos escutar os segmentos dentro da universidade e também setores da sociedade civil”, afirmou.
Entenda
O terreno outrora ocupado pelo Bingo Botafogo foi reincorporado à UFRJ após decisão da 5ª Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, em julho de 2008. A área de 36 mil m² foi reconhecida, em 1963, como pertencente à universidade por técnicos da Secretaria do Patrimônio da União, que fizeram a delimitação da área e consultaram diversos documentos e cadastros. No entanto, a entidade beneficiada com o terreno desde 1950 era a Associação dos Servidores Civis do Brasil (ASCB), que, em vez de usá-lo como sede esportiva e social gratuita, sublocava partes da área.
Já o terreno onde funcionava a casa de show Canecão, localizado à Rua Venceslau Braz, 215, em Botafogo, foi reintegrado à universidade por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) em 10 de maio último, após 39 anos de batalha judicial.
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