Na última quinta (11/11), o Fórum de Ciência e Cultura (FCC) da UFRJ recebeu Sylvie Lindeperg, historiadora e professora da Universidade Paris I, que falou sobre o curta-metragem Noite e neblina (1955), de Alain Resnais. A palestra fez parte das atividades da disciplina Montagem e documento: o ensaio audiovisual e suas relações com a história, oferecida pelos professores Andréa França, Consuelo Lins e Luiz Rezende, da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ e da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio).
Após a exibição do documentário, Sylvie Lindeperg esclareceu alguns pontos relativos à obra, alguns deles analisados em seu livro Nuit et Brouillard Un Film Dans L’Histoire (Paris, 2007) e posteriormente no filme Face aux fantômes, (2009/109 min), dirigido por Sylvie e Jean-Louis Comolli, realizado a partir da própria experiência com as imagens do curta-metragem de Resnais. Tanto o livro como o filme são resultados de uma reflexão sobre o trabalho do autor e sobre o complexo jogo de influências que resultou na produção de Noite e Neblina.
Uma década após o fim da do conflito armado que dividiu o mundo em aliados e potências do “eixo”, a pedido do Comitê da História da Segunda Guerra Mundial, o cineasta francês Alain Resnais realizou o documentário Noite e Neblina. Segundo Sylvie, o documentário fora encomendado para ser “quase que um documento oficial sobre a guerra, tendo como eixo principal os campos de concentração em si”. Porém, segundo a docente, houve uma opção do autor por desviar essa centralidade para a dinâmica de extermínio operada nesses campos.
Resnais utilizou vasto material de arquivo e cenas gravadas por ele próprio, com os campos já desativados. Sylvie esclarece que a composição, alternada em cores e em preto e branco, dá a falsa impressão de que estas são de arquivo e aquelas, produzidas por Alain. Pesquisas realizadas pela historiadora e expostas na palestra mostram que o autor “brincou” com essa sugestão, estando sua obra repleta de imagens em preto e branco produzidas por Resnais.
O documentário contém imagens de corpos empilhados, pessoas submetidas a humilhações, torturas e demais castigos impostos pelos soldados nazistas. “O objetivo é ter clareza da crueldade e da dinâmica perversa operada pelos nazistas”, explicou Sylvie. Muitas das imagens de arquivo, ao contrário do que Sylvie acreditou em um primeiro momento, foram obtidas de registros feitos clandestinamente pelos próprios judeus. Segundo a professora, os próprios nazistas não se empenharam no registro do extermínio em seus campos. “Mesmo entre eles, essa crueldade deveria permanecer em silêncio”, concluiu.